segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Para voar...


A noite deixa o rastro de poesia,
Dormir já não dá mais,
Os versos rondam,
Caem no papel,
Como cai por terra a singela recordação
Do passado
Que não passou...

Que o ruído das canções
Sejam aniquilados,
(mesmo que aos poucos),
Pelo som da poesia...

Desfaçam-se no ar os tetos,
Destruam-se os telhados,
Nós vamos alçar voo,
Nosso lugar é a imensidão do céu...

Olha,
Olha para trás e perceba,
Estávamos a crescer,
A preparar as asas,
Fortalecer...

Tive,
Que levar o tombo
Da tentativa de voo,
Cair e esperar...
Só agora poderia ser o agora...

E só agora
O intacto foi tocado,
Aqui,
Ao regresso de dias mansos,
Monótonos,
Dias que restou montar,
Mais uma vez,
O quebra-cabeça,
Antes deixado sem algumas peças pequenas...

Entre ruas largas e as estranhezas,
Só através da poesia,
Posso dizer,
Do que levo bem guardado no coração,
Intocável...
Intacto...

Como um pacto,
Há anos, firmado...
Aceito e zelado...

De tantas voltas,
Voltou-se para o que esteve sempre aqui...
Mágico,
Quase encantado...

Tão livre,
Deixo-o ir e vir,
Deixo entre dúvidas,
Interrogações que abandonei...
Medo que não me convém...

Já sei
Que do futuro não posso saber,
Nem por isso, deixo de querer...
Você...
Como deve ser,
Como tiver de ser...
Como só nós poderemos fazer ser...
Sem nostalgia,
Mas sempre sendo constante poesia...
Deixando ficar o que teve de ficar pelo caminho...

Estou na pista,
Chegou a hora,
E agora é intenso e alto,
É voar...
Para outro planeta,
Outro lugar...
Voar...

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Da Poesia...



Quanta poesia ficou na noite,
Entre o sonho
E um lugar distante...
Uma espera,
O arrastar dos anos...
Quanto da poesia ficou na falta de sono,
Que se dissipou aos poucos,
Como as sobras do corpo já morto,
A fala que não enrola a língua do bêbado tonto...
Que o dia siga no ritmo da poesia,
E que a poesia,
No traçado de cada verso
Assimétrico,
De rimas vulgares e perdidas
Não esqueça
A ideia de um país das maravilhas,
Nem do chapeleiro maluco.
Que faça mágica à noite sem chá
E que faça continuada as lembranças
A ti (poesia), sempre relacionadas.
E que faça, ainda,
Uma história inacabada,
Que viva a todo tempo,
Em cada tempo,
De distância e de saudade,
Sem fazer esquecimento...
Espera...
E sei que é você,
Como máquina do futuro,
Que sabe da sensibilidade,
Daquilo que temos de profundo,
 E que se impõe em minhas mãos
Para que trace os versos,
Sem rimas,
Para que possamos mergulhar no poço,
No fundo,
Distante de tudo...
Que a poesia não me abandone,
Que seja a companheira
Durante os dias,
Os instantes que se instituem
E em que neles não o vejo,
Não o escuto nem o leio...
Que a poesia também o acompanhe,
E possa ela contar-lhe,
Dos sentimentos que dedico,
Do idealismo não perdido,
Do toque suave que não é esquecido,
Do olhar silencioso e calmo que divido...
Que haja sempre um jamais,
Que a história siga,
Que a noite faça-se dia,
E quem sabe, “um dia”,
Não se consuma em um ponto final.
Mas que a poesia se una...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Antes do fim...


Desonra... Que grande honra...
Acabo de desfazer nossos feitos,
Escondi a caixa no beco,
Apaguei seus traços com a memória...
Não tive nem tenho glória...
Mala feita,
Mãos vazias,
Alma limpa,
Sigo sozinha,
Mas do lado ainda mora a vizinha...
Transcorro em versos,
Eu sei o que a vida é capaz de negar,
O que você não é capaz de julgar,
Escolha não é seu lugar,
E eu não sei mendigar...
Castelos de cartas em reverso,
Os rabiscos estão no verso.
No outro canto,
Fotos nas mãos,
Meus passos firmes na ilusão...
Depois do muro ainda existe emoção...
Já não precisa dar às costas,
Eu já levantei do chão,
Já aguento os pés calejados
E tenho força nas mãos...
Mas eu não teria dito não,
Eu ia ao ritmo da canção...
Eu seguia o som do sopro
E respirava forte na subida da escada,
Eu aguentaria a saudade,
E abraçaria de graça depois do pesadelo,
Na noite abafada...
Eu poderia fingir que não existe adeus nos trilhos,
Nem na estação...
Eu entendi o abano,
Já longe,
Em outro país.
Mas, hoje, você continua aqui,
Implicando com meu nariz...
Eu estou sempre por um triz...
Já não podemos fingir,
Não adianta mentir...
Quem sabe, seria aqui...
Ali...
Depois da curva,
Antes da chuva...
É preciso sair da dúvida,
É preciso saber do sentido que se sente sentir,
E conhecer o que se diz...
Não é somente paixão...
E eu estou estendendo a mão...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sem conclusão...

Pensei que, de repente, este pudesse ser o último texto a ser escrito. Acho que não, acho que minha necessidade de espalhar palavras quietas no papel se estenderá no tempo, no meu tempo...

Andam dizendo, que amanhã o mundo acabará e como já disse, sim, para muitos acabará... Mas, não sabendo se será o meu fim de mundo amanhã... Aproveito o dia chuvoso de hoje, nebuloso como gosto, para divagar pelos rumos, disso, que, até então, tenho chamado de vida...

Se quiserem, de antemão, conhecer as conclusões, saibam que elas não existem, nada pude concluir, nenhum desfecho surpreendente...

Nas minhas divagações trilhei caminhos já conhecidos, revistei as histórias de amores que se desfizeram antes de se fazerem e os novos que surgem entre os bares e olhares, entre sorrisos trocados, isqueiros, tocar na pele sutil, mas não despercebido...

Encontrar um príncipe não faz parte do meu conto... Estou inventando meus amores, hora como fantoches, hora como a alma. A todo tempo faço-os inesquecíveis, mas quando digo adeus, fim do capítulo...

Percebo que as mulheres do meu tempo começam a deixar suas vidas mais sérias, algumas estão casando, outras noivando, outras, ainda, com longos namoros... E eu to rindo a toa, bebendo além da conta, sei para quem posso ligar pedindo socorro...

Ah, depois da desgraça, restou viver assim, à toa, louca, restou aceitar minha estranheza e deixar a noite alheia mais estranha... Um dia de cada vez, é tudo que tenho, é sempre pela última vez...

Meu conto eu mesma escrevo, os amores eu sei que os tenho, sei do desapego, sei onde tenho o aconchego, então eu deixo, viver é o que eu possuo no tempo... 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O fim do mundo...


Depois de um dia calmo, entre a livraria e o aroma gostoso do café, uma quinta-feira de chuva, tempo nebuloso. A noite fria ficou ao som da Orquestra, show de luzes e conversas a toa... Apenas uma canção nos fez parar, enganamos, mas, no fundo, continuamos românticos... 

Sem que houvesse bebedeira, pudemos rir sem nos segurar e até ousamos dançar. Ao redor, a plateia aplaudia e vestido nós nem queríamos usar...

Então há quem entoa: o mundo vai acabar...

E eu, depois de ouvir sobre tantas teorias apenas pude me deixar levar sobre a minha própria construção teórica, não tão racional, não tão intelectual. Construída como um castelo de areia, minha própria criação, divagação fruto da minha monstruosa abstração...

E o que pude concluir foi: Pensemos bem, o mundo vai acabar no dia 21, assim como hoje ele também está acabando, para muitos... Para muitos ele, realmente, acaba no dia 21... Quantas pessoas estão morrendo agora, no próximo minuto, na próxima hora... O mundo diz adeus... O mundo acaba a toda hora, o mundo diz adeus a cada instante, para muitos “alguém”. Nós só não estamos sabendo quando o nosso fim do mundo virá... É só isso que posso pensar sobre o fim do mundo, sendo profundo ou não...

Mas virá, porque o mundo realmente acaba... Mas por agora, podemos virar as costas e ir embora...




quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Do que não passa...


Não passo de uma criança pequena que bebe as incertezas da vida e degusta cada gole de amargura...

Não passo de criança frágil, que finge viver na normalidade, mas que se esconde atrás do copo e espera um fim de noite manso... Ele não chega...

Não passo de uma sonhadora romântica, que se move na mesma intensidade que seus ideais, mas que para se fazer grande caminha na ponta dos pés...

Não passo de uma poetisa que tem traçado nas curvas do corpo os sentimentos do mundo, que fica chorosa em dia de ressaca, que inventa a promessa falsa e mente estar segura...

Na minha mão ninguém segura...

Poetisa que quer amar, poetisa que declara amores, mas eles não passam de reflexos esquizofrênicos, delírios da sua loucura... Ela conhece o que lhe é inconcebível e nem a divagação filosófica poderá criar um novo conceito de romance.

Não passa de um passo em falso... De pés descalços, desfaz os laços, deixa no caminho somente os traços, da memória ficam os lapsos...

E sem colo ou canto, fico quieta no meu canto, minha espera segue e está repleta de encanto...

domingo, 9 de dezembro de 2012

Considerações...


Na bolsa, pedaços de papel, são os resquícios da noite... 

Depois dos pés não há chão, estamos indo pela contramão... E se não devo acreditar no filme, ainda tenho que dizer que a realidade é um pouco pior, estamos todos fazendo, sempre, nós...

Não sabemos o que temos nos embrutecemos, nos esquecemos... Tem sorte quem guarda lembranças, entra de novo na dança e deixa-se molhar quando a chuva alimenta a esperança...

Já não criamos novos caminhos e o medo acaba minando o destino, dizemos não, acabamos na multidão, não damos as mãos, preferimos o não, não tentamos pintar, de outra cor, o chão... A indiferença é a nossa sentença...

Acabo adormecendo, sonhando com todos os desejos que acabaram indesejados... Acaba-se o dia e da janela contempla-se a noite que se aproxima a gente pensa no impensável, e questiona quem está sobre as luzes distantes, quem sabe sejam as luzes da sala ou do quarto...

Quem sabe, a gente pensa que pensa quando na verdade nunca pensa em nada...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Da decepção que mata...


Quem disse que decepção não mata, é porque não sabe de nada...
Ela mata, mata o sonho, destrói o palácio de cristal...
Quem diz que decepção não mata, não conhece o que é viver pela causa,
Não sabe o que é dar causa a existência...
Não sabe o que é respirar pensando no que se deve melhorar,
No mundo que se deseja mudar...
E não sabe o que é sorrir quando se quer chorar,
E não sabe da frustração, de ver-se avaliado pelo detalhe formal,
E ter arremessado por terra, o ideal...
Não sabe o que é
A ideologia criada,
A criança amada que se tenta proteger da maldade,
A árvore que se rega e espera crescer,
O livro guardado no melhor lugar da estante...
Não sabe o que é sonhar,
Querer derrubar as utopias e fazer a humanidade andar,
Não sabe o que é deixar de lado a própria vida
E vestir-se das verdades que se quer fazer acreditar...
Quem diz que decepção não mata,
É porque nunca soube sonhar,
Não soube olhar, nem ver que o horizonte trai,
E que depois dele ainda tem mais...

sábado, 1 de dezembro de 2012

Do nada que sou...


De quantas dúvidas a vida é feita? E quantas respostas existem para cada pergunta?

E se algum dia nós achamos que a essência da vida era a dúvida, então podemos saber que o Nada tem algum sentido...

E podemos saber que eu posso ser o nada, o vazio da existência da noite de ventos fortes que esperam pela chuva que vai chegar. Eu sou o nada que olha o balançar da árvore e no movimento da folha desaperceber-se da algazarra ao redor...

Eu sou o nada na noite de sexta feira, eu sou o nada que espera o sentido, o nada que espera mãos dadas que sejam mais que amigos, que se possa sentir o que não pode ser tocado nem visto...

Eu sou o nada, que teve a vida roubada, que teve sonhos sequestrados, que desistiu de ver o mundo sofrer... Sou o nada e os sentimentos do mundo cabem em mim, cabem numa fração de segundos impossível de escapar ao longo da existência de ser nada...

Nada para você, nada para os outros. Pode ser se eu seja, também, o nada para quem sem foi... Serei nada, pode ser, para quem vier...

Eu sou e não sou e não há nada que poderia vir a ser, a não ser o que somente me caberá ser... Eu, apenas eu, como sou...
                                                        

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Do que eu ainda sou...


Sabe, eu tenho pensando sobre os rumos que os dias tem tomado e eu tenho repensado nos dias que passaram e nos dias que poderão vir...
E eu fico na dúvida, entre o ser ou o nada, ser nada ou não ser?
Mas e se não for nada? Se lágrimas fossem apenas lágrimas e se o silêncio do domingo fosse apenas o silêncio, pode ser que não haveria sumiço...
Queria entender o que os humanos querem dizer quando dizem e o que querem dizer quando calam...
Mas o que eu realmente gostaria de saber é o que eles sentem... Porque mais importante do que dizer e mais importante do que saber, ainda acredito que é sentir...
E eu gostaria de saber se é possível deixar de sentir e eu queria saber se é possível sentir sem dizer, não dizer e sentir...
E eu ainda, na minha ânsia de viver de banho de chuva e dança no escuro, gostaria de saber dos sentimentos que movem o mundo e eu gostaria de saber se eles já não foram extintos, substituídos pela leviandade de palavras tão vagas e promessas falhas... E eu gostaria, ainda, de saber se posso doar meu coração e entrar e ser mais um na multidão, ser mais um sem sentimentos, indiferente, apagado, em tom de cinza seguindo pelos caminhos já trilhados...
Eu não quero mais ser a romântica incompreendida, crianças planejando mudar o mundo o mundo me cansou, o mundo me desarmou...
Mas, mesmo não querendo ser o que sou eu ainda não comprei guarda-chuva e eu ainda não acendi a luz... E eu ainda sou o que sou...

domingo, 18 de novembro de 2012

Então....


É quando afoga o peito,
Sufoca-se o alento,
Depois desconheço...
É a dúvida que nos mata,
Adeus na calçada,
Declaração sem resposta.
Há quem diga: eu mereço...
O que foi feito ao nosso respeito?
O que mora no peito?
Quem existe no pensamento?
Busco alento,
Poesia ao vento...
Desassossego,
Escrevo no silêncio,
Repito os mesmos erros,
Espero doer aqui,
Espero saber o que vem depois...
Amor ou desilusão?
Desamor ou sonho a dois?
Afinal,
É o final,
Fim do mal...
Maleza do coração,
Mundo nas mãos que se vai, então,
Volto a ser rés mortal,
Volto a colher flores que nascem no asfalto,
Volto a tropicar nas pedras,
A ver os vãos do chão,
E sentir a falta de pressão,
São esses os dias de verão...

sábado, 17 de novembro de 2012

Uma taça de vinho e o Amor....


Taça de vinho
E uma droga de poesia,
Uma noite calma,
E a lembrança do que, um dia foi, amar...
Taça de vinho,
Faz o rosto amortecer,
Não deixa a lágrima aquecer,
Não deixa o coração doer...
Ah Drummond!!!!
Se eu, um dia, voltasse a saber...
Eu só sei que você estava certo,
No nosso desamor,
Nunca queremos descobrir o verdadeiro sabor...
Ah, o Amor...
Joaquim já não ama Lili,
Meu bem já morreu,
Eu vou morrer,
Mas hoje vou beber,
Beber ao desamor,
A falta de amor...
Da mentira,
Do falso amor,
Eu vou beber,
Enquanto todos dormem
E fingem não ter medo de viver,
De saber o que é o amor.

domingo, 11 de novembro de 2012

Vagalumes...


Preste atenção meu bem, sabe por que os vagalumes brilham no gramado de casa? Adivinhe só? Adivinhe, é o amor que os faz brilhar...

Sim, é a procura pela companheira que os permite emitir o alerta: estou aqui! 

Ironia da vida? Não sei, então eu fico por ai, perambulando, divagando, pensando nesse estranho chamado amor... Este que faz o vagalume brilhar...

Livres, os vagalumes brilham enquanto esperam...

Enquanto nós, o que fazemos? Brincamos de esconde-esconde? Fingimos não ser nada? Voltamos para casa? Ou preferimos dizer que agora não é o momento? Não é a hora? Não queremos?

Afinal, o que somos diante desse estranho? Aliás, quem é você, estranho?

Os vagalumes brilham, as araras são eternamente fiéis...

Eu invento histórias, como se inventam os livros, como se reproduzem no cinema, busco da minha forma, o mesmo brilho dos pequenos vagalumes...

Eu quero poder ver, no escudo da noite, em meio ao gramado alto e ao som das cigarras o brilho de um vagalume peculiar...

E eu quero descobrir quem é você, estranho... Você, que surge ao acaso e parte sem ter por que...

E, sem ter por que, pintei minha vida, escrevi memórias, fiquei com a marca da partida, fiquei com as sobras da história e os reflexos da melodia...

Sabe estranho, eu sei quem é você, (você que faz o vagalume brilhar)... Mas já não mais sei o que ainda se deverá dedicar...

Já não sei, quando verei um novo vagalume, já são tempos difíceis de encontrá-los.

E a nova ortografia, diz que se escreve vaga-lume... Então, que se continue a vagar.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Coração de vidro....


Hoje percebi que na linha de produção ocorreu um grave erro. Erraram, não me colocaram um coração de vidro... Saí da fábrica com defeito, mas ninguém se deu ao trabalho de reclamar.

Perambulei pelas ruas, senti no peito algo sangrar, na boca provei do gosto amargo das dores do mundo...  Na noite passada percebi que quando você partiu fui eu quem morreu...

Pergunto-me se depois daquele dia, algum outro dia vivi? Fugi... Vivo em fuga... E diante de tantos corações de vidro, é o caminho que devo seguir... Quando ameaça sangrar é preciso apagar as luzes, deixar o som fluir o mais alto possível e torcer para que seja suficiente para ensurdecer os próprios pensamentos.

Cercada de tantos corações de vidro, o choro foi extinto, as lágrimas há muito não são denunciadas, ninguém ousa tentar e a visão tão racional é condecorada com pompas e fogos de artifício...

Mas meu coração de poeta não foi feito para honras ao mérito, medalhas na estante, flores coloridas ou aplausos da multidão... Meu coração é daquele que se aperta, que solta e aperta de novo, é do tipo que palpita, que corre e se agita, que se angustia e se alegra, é daquele que sente dor e vive em busca de saber o que é o verdadeiro amor...

Esqueceram-se do meu coração de vidro, agora sou fugitiva da polícia... Quando for pega, verão meu coração pulsar o sangue quente, correndo doce, espalhando-se pelo chão e esvaindo-se como a solidão.

“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.” (José Saramago).


domingo, 21 de outubro de 2012

A manhã de Toquinho...


Nesse domingo, depois um susto devido à mudança de horário de verão, consegui chegar a tempo de ver Toquinho, domando o violão, cercado pela Orquestra Sinfônica, no Concerto que dá as boas vindas à primavera e a fez, hoje, ser mais especial.

Enquanto Toquinho encantava eu relembrava das tantas tardes em que passei lendo os sonetos de Vinícius, vasculhando sobre a vida de Tom Jobim e da sua Bossa Nova, enquanto tinha como plano de fundo as canções resultantes de uma combinação que deu certo entre Vinícius e Toquinho.

Agora, Toquinho estava ali, na minha frente fazendo piada com a vida romanesca de Vinícius e enquanto ria-se eu pensava “ele era o poeta da paixão”, viveu todos seus amores tão intensamente e a sua maneira, tão ao seu modo... Com tanta sorte e devoção...

E relembrou Tom Jobim, e a mim sobrava à recordação vaga de ter visto, em algum lugar, Jobim sentado de frente ao um piano, ao qual se inclinava de cabeça baixa, entoando mais uma de suas canções... Hinos que não se acabam jamais...

O quão mágico foi cada canção, mesmo faltando “A sombra de um Jatobá”...

Agora, passado algumas horas busco em meio aos filmes e CDs antigos, aquele já empoeirado, que enquanto escrevo roda como trilha sonora de um domingo calmo e de boas rememorações...

“...E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então...”