domingo, 20 de maio de 2012

Enquanto isso no céu...



Devem, vocês, estarem todos sentados entre nuvens, rindo... Rindo, enquanto estou vasculhando as fotos, buscando novas expressões que, deduzo, esqueci-me de observar desde a última vez que tirei do baú todas as memórias...
Não se questionem quanto às grades de livros que construí, nem das chaves que escondi, das frases e latidos que não esqueci...
Deixem aqui os dentinhos que guardei, os beijos que dei, as poesias que dediquei, não se preocupem com passos dados, com caminhos abandonados, com casos que viram descasos...
Não chorem comigo, aproveitem a maciez das nuvens... E não se esqueça de cuida-los bem... Estou na dúvida se ele ainda late de ciúmes, ou se agora devo eu enciumar-me.
E eu, hoje, sou cheia de curiosidade: o que fazem? O que estão a pensar? Vão, até quanto, me esperar?
São os anjos que não aparecem nos sonhos, mas ficam rodando, como guardas a protegerem tesouros...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ao melhor...



Senti tanto sua falta nos últimos tempos,
Que inventei coisas que nunca fizemos...
Pipoca e cinema...
As festas que você nunca quis ir...
Eu lembro, das madrugas de conversas sérias,
Do pai perguntando se você já havia chegado,
Dos seus xingamentos antes de chamar-me de menina,
Das músicas desconhecidas,
Das falas:
Como você não conhece?
Porque esse país?
Você consegue,
Você vai...
Não chora!
Nada mudou...
Você vai ser sempre...
Tenho saudade de abraça-lo e pensar,
Que magro!
Tenho saudade das brigas caóticas,
E do seu rosto que surgia,
Quando levei o pior tombo,
Você era o único que ficou...
Você é o único que jamais vai partir,
Eu serei sempre a companhia pequena,
Que ficará na sombra
E espera,
Eu serei sempre a sombra que não aparece,
Mas é sempre presente...

domingo, 13 de maio de 2012

Bichos...

Bom, esse post é sobre um livro que ganhei de presente em dezembro, no Natal... Ele veio diretamente de Portugal e me foi ofertado pelo Tiago, meu grande amigo, a quem compartilho muitas conversas sobre livros, literatura, escritores, animais, enfim, coisa que eu tanto gosto...
Acontece que hoje eu acordei e era esse que eu queria, me esbaldei em 134 páginas escritas por Miguel Torga, divididas em 15 contos, em um livro chamado BICHOS.
A ideia do livro é ótima... Na obra da para perceber conforme as situações, que o homem apenas se aproveita dos animais, por crer ser superior, mas que a partir dos pensamentos e falas dos animais nota-se que estes sentem e pensam com a mesma capacidade que nós.

Alguns trechos:

‎"Ignorância desculpável, aliás. A gente entende pouco do semelhante. Cada um de nós é um enigma, que a maior parte das vezes fica por decifrar." (p. 63)

“É preciso percorrer um longo caminho. Embrião, larva, crisálida... Todas as estações do íngreme calvário da organização. Animada pelo sopro da vida, a matéria necessita do calor de um ventre. Antes dessa íntima comunhão, desse limbo purificador, não poderá ter forma definitiva. Custa. Mas a lei natural é inexorável. Exige consciência de cosmos antes da consciência de ser. O calor dá no ovo. Aquece-o e amadurece-o. A casca quebra. Depois... Ah, depois é essa descida ao húmus, essas existência amorfa, nem germe, nem bicho, nem coisa configurada. Largos dias assim. Até que finalmente em cada esperança de perna nasce uma perna, e cada ânsia de claridade é premiada com dois olhos iluminados. Cresce também uma boca onde a forma reclama, e surgem as asas que o sonho deseja...
É difícil, mas vai. Desde que haja coragem dentro de nós, tudo se consegue. Até fazer parte do coro universal.” (p. 85)

“Não há dúvida: voar era realmente agradável! E que bonito o mundo, em baixo! Tudo a sorrir, claro e acolhedor...” (p. 93)

Aos Leitores fica a dica...
E ao querido Portuga, meu agradecimento pelo belo presente...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Não insista...



Não insista,
Nem despista,
Segue na outra pista,
Não dobre a esquina,
Não rabisca a sua sina...
Não pisca na avenida,
Não bestializa a ironia,
Beije em frente ao palco,
Esqueça o que não se vê,
Dobre os bilhetes da carteira,
É melhor não crer...
Despeça-se do fim,
Comece fora do ritmo,
Equilibre-se no cordão umbilical,
Guie-se pelo meio fio,
Deixe a música tocar,
Lágrima não há para rolar,
Não olhe as setas...
Tudo, sempre, pode acabar...

A porta...



Portas abertas,
Janelas fechadas
Pontos coloridos brilham nos meus olhos,
Parece Natal...
Porta fechada,
Voo completo,
Ônibus dando partida,
Fim do expediente,
Fechou a livraria...
Adeus no portão de embarque,
Abraço apertado na rodoviária,
Até logo na parada do taxi...
Acabou a festa,
Fique para fora,
Pegue o caminho de volta,
É só seguir reto,
Não vire a esquerda,
Nem tome à direita,
Siga,
Mande lembranças ao travesti da esquina,
Mande lembranças aos irmãos distantes,
Aquele que voltou para seu país,
Aqueles que jamais deixaram o seu...
Portas abertas,
Janelas escancaradas
Os pequenos pássaros continuam morrendo
Na tentativa do voo...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A dança da memória...



Conversas sobre o amor, tão vago, tão desproporcional, tão sem vigor...  
E você me questiona sobre os casos de hoje, eu digo que não caso, jamais.
Uma vez um conto de fadas, é sempre para mais, e para não ter outro, nunca mais.
Eu não sei se fui esquecida, ou aquecida, se virei à bela adormecida, se sequei ou apodreci.
Causo-lhe medo, porque não sofro, porque a ninguém cabe meus olhos pequenos emaranhados de desgosto.
 Eu não sofro porque sei quem merece meus sonhos...
Hoje é dia de aniversário, eu não chorei, mas vou beber pelos anos que se passaram, com bolo de chocolate e vinho barato...
Eu beberei e esquecer-me-ei dos fantasmas que nada deixaram em mim, eu fecharei os olhos, como sempre, e eu dançarei nos seus braços e eu vou sentir as suas mãos...
E eu não perderei tempo teorizando sobre o amor, não procurarei tantos conceitos, tantas definições, tantas frases prontas que nada, nunca, me disseram...
Porque eu já sei e agora, sem desejos nem beijos, eu danço a memória. 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Caminho....


Eu não tenho outro caminho e por isso eu escrevo, escrevo porque não tenho caminho.

Eu pergunto qual é o caminho, para você que diz que sempre existe um caminho? Diga-me qual é o caminho, para os olhos furados e a pele arrancada? Qual é o caminho para os que choram? Para quem jamais terá aquelas mãos para segurar, nem os braços para agarrar, nem os olhos para contemplar.

Qual é o caminho para os que morrem de fome e para a doença sem cura? Qual é caminho que tomo na esquina, no próximo ano, para o fim da vida?

Qual é o caminho se você partiu sem volta, se você não se despediu, se você disse que jamais abandonaria?

Digam-me, vozes que não falam, qual é o caminho para as crianças mortas, para o gás lacrimogêneo, para os pais sem filhos, para o estupro atrás do muro?

Qual é o caminho para a cidade sem amor?

Qual é o caminho para o amor?

Qual é o caminho que não se caminha?

Caminho em qual caminho?

Diga-me qual é o caminho que todos procuram? avisem-me para não pegá-lo, para abandoná-lo, para inventar meu próprio caminho?