quarta-feira, 29 de junho de 2011

A próxima viagem...


Eu passo os olhos pelas letras do livro, vou enganando aqueles que creem na minha leitura. Engano-me, pois o assusto não cessa. Está em todos os lugares, toda hora, incomoda-me, corrói lenta e drasticamente...
Eu finjo desleixo, descaso... eu sigo na minha viagem poluída pelos “adeus”, pelos “até logo” que não sei se chegarão...
Sento na sala e aguardo até chamarem meu número, leio páginas a fio de um livro encantado, mas que diante desses dias quentes e de noites de despedidas eu desencanto, eu mancho todo seu encanto com os meus pensamentos que vagam... Daqui para outro país, para outro continente... Eu divago pelos rostos que ficam na minha memória, alguns beijos e aqueles olhos, apenas aquele...
Depois da chuva eu pintei como quis o meu cenário, mudei de figurino, fiz alterações no roteiro. Criei um novo destino... Agora arrumo a mala sem saber o porquê ou o que virá...
Estou mudando, tudo volta para as caixas novamente, eu volto para caixa, para o depósito, para o frio, o silencio e a solidão... Esperarei a próxima viagem...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aperto...



Sinto o coração apertado,
Olho pros lados e não vejo ninguém...
Tento encontrar você pelos pontos da cidade,
Procuro incansavelmente...
Não acho...
Telefone mudo,
Quarto em silencio,
Apenas o sol escaldante,
E as lembranças de uma cidade invisível...
Eu deixei-me perder
Nas curvas dos sonhos,
Das ilusões dos poetas de rua,
Aqueles que escrevem ao amor
Enquanto eu pinto na calçada
Pontos de interrogação...
Escrevo em seus olhos canções,
Palavras nunca ditas...
O céu está nublado,
Eu estou criando fantasias para as crianças que dormem...
Dormem o sono que não possuo...

sábado, 25 de junho de 2011

De Madri


Hoje eu seria capaz
De escrever a poesia
Mais angustiante e intensa
Mergulhada na escuridão do quarto,
Em meio às folhas
E discursos que desconheço...
Eu nada conheço...
Eu peço calmaria
À minha tempestade.
Pingos de tinta colorida
Nos bonecos de palitos,
Apagando os seres vivos
Para, quem sabe, assim,
Sentir o que a vida
Roubou-me, em discreto...
Eu quero a vida
Que não quero...
Quero a essência da dúvida,
Eu sou a dúvida da essência...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Três pontos...


As músicas vão se misturando,
Não consigo decifrar qualquer que seja...
O dia clareou
E as dores da noite voltaram na mesma intensidade
Desse sol ardente de longos dias sem chuva...
Eu tomo longos goles do café forte e espumoso que fiz
E recordo agora, suavemente,
Como num tilintar,
De ver você vindo em minha direção,
Veio sem eu esperar,
Pisando na areia grossa,
Com calças compridas,
Como se estivesse na região metropolitana...
E dessas cenas de filmes eu fecho os olhos e tento fugir,
Tento alterar as estações.
Eu fecho os olhos,
Escondo-me no escuro para não sentir os olhos esbugalhados,
Avermelhados pela droga que não usei...
Eu caio na pior delas...
Estou nao rua recolhendo pedras de sabão,
Estou recolhendo os espinhos
Das flores sem verão,
Estou catando os pedaços de mim
Que deixei espalhados pela cidade antiga...
Lugares onde te beijei, abracei...
Perco-me entre uns goles fortes,
E proclamo mais uma poesia triste,
Que me faz lembrar a sina que é minha,
E só minha...
E a poesia aponta
Que mesmo eu insistindo em três pontos,
Será sempre ponto final...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vim dizer adeus...


O desespero me consome,
Não consigo escrever,
Não consigo chorar...
Tenho aflorado em minha pele clara
Todas as misturas e gostos
Que ao longo dos dias eu esqueci
Num baú distante do coração...
Beijei de olhos fechados
Por saber que não havia sentido nenhum...
Outro alguém eu beijei e sorri,
Foi inevitável sorrir...
E agora tudo se parte,
A canção para,
O copo quebra,
O corpo enrijece
E o verão começa...
E eu mastigo todas as minhas dores,
Mastigo para senti-las melhor,
Para não esquecer essas lágrimas fracas
De uma mendiga ansiando pela vida...
Vou esperar o inverno chegar,
Vou estar na janela
Mesmo sabendo que ninguém ira chegar...
Depois do fim, não há nada,
Será como sempre foi,
Minha poesia mal dita,
Meus pensamentos malditos
Uma vida medíocre bendita...
Minha ilusão, meu chão,
Um adeus
E minha sempre solidão...
... Só vim dizer adeus...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Falta de inspiração....


     Eu tenho mil ideias flutuando sobre o meu olhar, estou procurando algo que consiga sair livremente de mim, estou esperando o realismo fantástico da vida para poder escrever... Mas o que me persegue não passam de dias tão banais.
     Naquela tarde eu segui o rastro da canção e vi bolhas de sabão coloridas voando em direção das nuvens. E vi mães abraçando seus filhos e os deixando buscar estrelas, agarra-las, apanha-las para nunca mais largar, são risos inocentes de contos de fadas que não existem. Vida tranquila, sorvete e roupas coloridas, uma resenha longe de mim...
     O céu está azul, o calor incomoda e eu não tenho porque escrever, a noite foi vaga, como todos ao meu redor, como a vida há de ser, como o rastro dos passos daquele que sigo...
     E eu sigo na milícia, guerrilhando contra tudo que há em mim, contra tudo que não existe...
     Ei de seguir pelas ruas mais escuras, elas combinam mais comigo, sigo com as mesmas roupas escuras, sigo com o mesmo rosto, os mesmos ideias, a mesma descrença, a mesma frustração, pois não passa de fruto e consumação, acaba-se então... e eu preciso de inspiração...