quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Na cidade....



Andei por aquelas ruas
Em dias que folhas nas árvores não haviam,
Acordava cedo,
Vestia o casaco,
Pagava o café,
Saía,
Respirando o ar frio,
Enquanto me deliciava
Entre as calçadas e os bares...
Enquanto eu caminhava
E petrificava cada momento,
Eu escrevi a poesia,
Escrevi cada linha,
Cada palavra,
Cada rima que nunca chega,
Que nunca se forma,
Nunca se materializa...
 Naqueles dias sem fim,
Eu perdi a sede,
Esqueci de comer,
Eu observei cada milímetro
Das ruas,
Das árvores,
Do rio que corta a cidade...
Eu preferi alimentar com pão
Os pássaros,
As pombas...
Eu fiquei as noites em claro,
E nos dias seguintes eu andei pela realeza...
As luzes da cidade
Iluminaram tantas almas apaixonadas
Que lá andaram.
Eu perdi a livraria,
A casa,
Os pares
Onde viveram os anos loucos,
Os poetas suicidas,
Os escritores de frases simples...
E quando a música fala do meu paraíso escondido,
Eu sonho,
Escrevo,
Porque um dia eu voo.
Voo e volto...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

José....


Então José?
Como que é?
Você desafia a morte,
Deixa todo mundo cego,
Fala sobre o sexo,
Guarda para si o amor...
O que você pensa José?
Segue os caminhos de Marx,
Deseja o fim da desigualdade,
Risca paredes da humanidade...
Você, José,
Encontrou a mulher
No bar do hotel,
E viu o chão tremer,
Trocou palavras,
Fez de um único pilar
A sustentação do mundo...
Fala José,
Das palavras escritas...
Do desejo de vida,
Na descrença em Deus,
Nas obscenidades das religiões,
Dos filhos crescidos,
Dos leitores que nascem,
Dos prêmios que reconhecem...
E as dúvidas, quais são José?
Muitas voltas,
O mesmo lugar,
O fim da estrada,
A vida sua que nunca acaba,
O pilar que segue carimbando seus passos,
Traduzindo seus traços...
Fala José?
Você que sempre tão quieto,
Falou mais alto,
Falou mais que todos...
Foram voltas e voltas na roda-gigante,
Não foram, José?
Você não acaba,
Não acabou,
Mas é simplesmente...
Magro, calvo,
De óculos e rugas,
Dando tapas na bunda,
Arfando nas ideias,
Tentando respirar para uma nova frase
Que fica no ar...
É, é você,
José....

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Roubando sorrisos....



Se algum dia eu fui ladra de sorrisos,
Tenho que dizer que desses dias já não lembrava...
Recordo agora depois de vasculhar seus diários
Esquecidos,
Abertos ao vento...
E se algum dia prometeu-se que não haveria afastamento,
Desses dias houve a mudança do teu pensamento...
Que agora corre mudando para outro lugar qualquer...
Sua voz, não mais...
E eu pergunto-me onde ficaram guardadas todas aquelas semelhanças,
Tão visíveis ao olho nu...
E depois de meses,
Dias em que achei, houvessem caído no esquecimento.
O que tenho
Encontrei como um bilhete deixado na mesa do bar...
Apenas algumas palavras tímidas...
Meu peito segue livre,
Sem dor ou arrependimento,
O que pude, já foi feito...
Sem medo,
Sigo a vida do meu jeito...
Enquanto você,
Quem sabe,
Siga para sempre indefeso...
Já não me pergunte onde nos encontraremos...
Eu já me encontrei faz bastante tempo,
Roubando risos,
Ou deixando brincos...

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O domingo e a vida....



 A vida não dá tempo para o arrependimento, para começar de novo, para refazer o bolo ou para repintar o quadro. E não dá tempo para apagar as linhas já escritas, não dá tempo de apagar a poesia já transformada em melodia... E a vida não permite apagar as fotos já tiradas, nem as viagens feitas de loucuras, nem palavras ditas durante a bebedeira, nem os abraços, nem permite fingir que não ouve beijos apaixonados enquanto a chuva caia...
Na vida não há tempo para o passado, na vida, pode ser que haja tempo para o futuro... Na vida, o tempo que temos é apenas o presente, dádiva nos dada, não sei por quem, nem para que...
Eu não preciso de ninguém prudente demais, quem pense de mais, que planeje de mais... Eu quero quem respire fundo, que pise fundo e tome impulso para voar, para mergulhar mais fundo e voltar...  
Eu quero pessoas com energia, que agarrem minha mão e que assim possamos correr, gargalhar alto, passar a noite do lado, sem se preocupar com a segunda...
Eu gosto de gente que gosta da vida, e que goste da aventura, do risco... eu gosto mesmo é da paixão, todo o dia, toda a hora... quando der...
Eu não quero nada de monotonia, que venham sempre as loucuras por que junto vem o sabor, o colorido da vida....

O Choro....



As lágrimas trancam as palavras...
Engasgam...
Tantas vezes silenciei o verbo,
Deixei que as lágrimas falassem mais,
Deixei que as falassem alto,
E chegassem aonde todas as palavras não chegaram...
O poeta lamenta,
Esquece, relembra,
Escreve...
Enquanto o céu se transforma,
Eu, no silencio,
Transbordo...
E os cachorros correm,
E a ferrugem corrói...
E o corte, a feriada,
A tatuagem esquecida,
Doem...
E os pilares do futuro se movem,
Eu ando descalça,
Fora da calçada,
Na grama seca,
No asfalto que queima...
E a canção se faz
Nos fins de noite,
No meio dos livros
E com o violão...
E o choro vem,
Repentino como a chuva do verão,
E ele vai, terminado,
Como a mudança de estação...
E ele volta,
E vai...