domingo, 29 de março de 2015

Entre os achados


Às vezes é preciso remexer as caixas, puxá-las do armário, trocar de lugar, relembrar de coisas do passado. E muitas vezes se faz isso sem saber o porquê!
Mas nos últimos tempos eu tenho feito isso com mais frequência. Talvez seja uma tentativa, uma corrida louca na tentativa de me encontrar, de entender o que estou fazendo, afinal!

E quando eu puxo as caixas, e abro o envelope, e tiro os postais, o livro, a carta, o guia, eu encontra o que preciso para me lembrar o que eu já sabia! E eu releio os escritos de quem teve coragem, de quem teve força e que sabia o escrever significava...

"Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta." (Anne Frank)


Guia sobre o Museu de Anne Frank, em Amsterdã.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Um pouco de nostalgia e saudade


Sentada numa cadeira giratória eu pensei num toca discos tocando músicas francesas, sentada na cadeira e girando eu vi grandes caixas de papelão, onde guardo coisas do passado, num canto, no chão.
Parei a cadeira, tirei as caixas do lugar, tirei para fora os envelopes, as pastas, os cadernos e os livros.
Achei um embrulho em papel amarelo, havia remetente, destinatário e CEP. Era de outro país.
Dentro do envelope gorducho, uma carta, um livro, postais do velho mundo, muitos lugares...
Folheei o livro, de trás para frente, de frente para trás, reli os postas, um por um e na ordem em que formam enviados.
Aumentei o volume, tocava uma canção francesa...
Esqueci de olhar as horas e fiquei ali, sentada no chão comendo pó enquanto relia, enquanto sentia rememorar aqueles dias, as conversas infindáveis, enquanto lembrava de tantas e tantas coisas, de conversas que terminavam em brigas, de conselhos que não foram colocados em prática, de chegadas que não chegaram.
Senti saudade e na nostalgia tive uma espécie de orgulho de ter em mim um universo de coisas bem vividas a serem lembradas.


E incrivelmente o nome deste documento foi denominado de 8 pelo word!

quinta-feira, 19 de março de 2015

Carta sobre o parágrafo


Não teria outro jeito de eu viver se não fosse escrevendo. Não que eu tenha algo a dizer, não que eu saiba escrever, não que eu tenha em mim enredos perfeitos, bem estruturas e personagens bem delineados. Não, não é nada disso...
É só porque, no fim, eu tenho muita coisa, que dia após dia, eu gosto de relembrar. E as vezes, - nos últimos tempos, mais do que antes - eu vou atrás de ler o que você já escreveu por aí e nem lembra mais e nunca mais releu.
Será que eu li o livro todo? Ou deixei alguma vírgula para trás? Porque depois da volta tudo ficou pela metade e cada um seguiu com a sua...
Me perguntei agora se ainda sorrio da mesma forma de quando você me conheceu. Mas você parou de escrever e talvez eu tenha parado de sorrir tão facilmente como antes, quando sentávamos no deque e víamos o sol se afastar ao longe.
Vivi dias felizes e vivi cada segundo mesmo que, talvez, agora eles pareçam que tenham sido pela metade e, por hora, eu gostaria de ter essa outra.
Talvez hoje nossas conversas fossem completamente diferente. Você estaria preocupado com o futuro e eu estaria, ainda, preocupada em saber o que vou fazer da vida. Porque eu não sei. Talvez, poderíamos ter conversado do muro, de costas para o rio, sob as árvores com folhas verdes...
Tudo muda, tudo muda o tempo todo e eu não tenho o que lamentar, mas aqui sentada, de frente a janela e com os pés gelados de frio eu preciso encontrar uma forma de vida, de sobrevida. Eu a descubro enquanto escrevo, enquanto busco sinais que até agora não chegaram. E eu me pergunto onde estarão os brincos, as cartas de baralho, nossos semblantes tão parecidos e tão serenos da fotografia...
Eu me pergunto se ainda escuta aquelas músicas, se existe algo de nós... Em nós...
Não se preocupe, o que eu espero é que você esteja verdadeiramente feliz... Porque um dia, talvez, seja preciso ler o livro uma segunda vez para entender o parágrafo...

sexta-feira, 6 de março de 2015

A letra.


Minha letra não é bonita de se conhecer. Mas trago nas mãos o “sentimento do mundo” e quando chego ao papel em branco, cheio de interrogações, exclamações e três pontos, eu transbordo.
Minha letra não é bonita, mas não importa... Ainda sou capaz de escrever, numa letra que poderia ser chamada de garrancho... E depois, ainda, talvez seja compreensível de ler.
Ninguém mais conhece letra alguma, nem de forma, nem discursiva. Eu guardo o pouco que tenho de quem, a mim, já tenha escrito à mão, como um trabalho artesanal, como algo especial. E é bom tocar a letra de alguém, com a ponta dos dedos e sentir as ondas no papel feitas pela força da mão formando letras.
Minha letra não é bonita, mas gosto de fazê-la com caneta azul, gosto de apontar o lápis e escrever... Minha letra não é bonita...
Mesmo tendo feito muita caligrafia, minha letra não é bonita, nem conhecida. Ninguém mais conhece a letra de ninguém...
Talvez um dia escreverei um livro chamado A letra... Sobre tanta letra desconhecida, sobre tantos traços que guardo, sobre tantas ondas feitas em papel dobrado. 

segunda-feira, 2 de março de 2015

Era madrugada e ela trocava de canal...


Era madrugada, o sono se dissipava no ar, ela trocava de canal, não procurava por nada, divagava. O vinho da taça havia acabado. Continuava com os olhos bem abertos e com resquícios de maquiagem em seu rosto.
Naquela madrugada, depois de um fim de tarde chuvoso, ela voltou a ser quem ela era, desperta na madrugada, procurando quem ainda andaria por aí, dando também.
Achou um filme já visto, baseado num livro já lido. Enquanto a história transcorria como, pensou que, talvez, as fotos não fossem apenas recordações, não fosse apenas memórias do passado. As fotos eram pedaços de sentimentos que não se apagaram nas fotos e que estariam guardados em uma caixa para que fosse possível seguir o futuro, mas incapaz de serem descartadas, ficavam escondidas em uma caixa, em algum lugar da casa.
Ela estava em silêncio, em frente à TV, ao acaso da programação, vendo um filme já visto, um simplório romance adolescente, mas que lembravam tanto dela, tanto aquela adolescência solitária, de livros proibidos pela sua fragilidade, de crises e dramas, cheia de um amor interrompido, levado as pressas.
Pensou em sua máquina de escrever jogada num canto, pensou nas fotos que, tinha certeza, não rasgaria nem jogaria no lixo. E pensou uma vez mais nos retalhos de sentimentos que ficaram e que não mudariam, mesmo quando tudo já houvesse mudado. Mesmo quando houvesse silêncio demais, desaparição demais quanto aos resquícios do que havia passado.
Pegou o filme pela metade, a cena em que dançam juntos havia passado...
Desligou a TV, foi escutar música em volume baixo... Sem medo da noite, da janela de vidro, ou do silencio de estar só, ela voltava a ser o que era, o que jamais deixaria de ser.