sábado, 28 de janeiro de 2012

Você...




Estive cercada por antigos amores,
Aqueles mal resolvidos,
Aquele que ficaram pelo caminho...
Eu encho-me de interrogações,
Exclamações que doem no fundo,
Que quebra,
Despedaça,
 Rasga,
Destrói o coração...
Eu tenho medo de histórias de amor,
Eu desconstruí a minha,
Para nunca mais reconstruir...
Eu queria que minhas lágrimas
Tocassem em você,
Depois que todos já esqueceram
E já assistem aos filmes 3D...
Minhas pernas travaram,
Eu parei no tempo,
Busco sem conseguir adormecer...
Você não avisou que não voltaria mais,
Você seguiu o sol
E me deixou sem céu...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Perguntas...


O que é a distância?
 Quantos passos eu terei de dar
Até chegar?
Onde vou chegar?
Pra onde quero ir?
Em que lugar eu vou parar?
Descansar...
Faz tempo que estou atrasada,
Tomei o último trem,
Fui á última a entrar no avião
Antes de decolar,
Estava no ônibus
Quando, na janela eu abanava,
Era o até logo que não voltava...
E agora o que falta?
Quantas páginas, ainda, eu vou ler?
Quanto tempo demora
Para o tempo passar?
E quanto tempo eu vou precisar?
E você?
Vai voltar?
Ou terei de esquecer?

domingo, 22 de janeiro de 2012

Para o coração bater...


Um súbito choro
Convulsiona em meu rosto...
Parte do meu coração,
Aperta, afoga,
E aos olhos não se derrama,
Pára, aguarda,
Nem agora...
É fim de tarde
De um domingo de verão,
Nas árvores os pássaros cantam
A sua canção...
E onde encontro o amor?
Onde compro uma paixão?
Onde devolvo a desilusão?
Onde mando fazer novas ilusões?
De onde vem tantos sonhos,
Tanto romantismo,
Poesias?
Tudo trancado numa caixa
Embaixo da cama,
Sem esperanças,
Com a chave jogada fora...
Falta algo,
Como a luz do sol
E o colorido dos dias de primavera,
Falta a chuva na terra...
Falta o coração bater,
Falta eu sentir o coração bater...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

História de verão...



Eu forcei o choro
No enredo dos amores vãos...
Agora seguro,
Aperto,
Esforço-me em vão,
Nos olhos
Provo da água do choro,
Tenho as lembranças das noites de verão...
No canto dos pássaros,
Perdido entre cigarras,
Eu refaço a semana que passou...
Passou e deixou os rastros,
Marcas na calçada,
Abraços na escada,
Beijos na sacada,
Estrelas acordadas,
Olhares rápidos,
O toque da perna por baixo da mesa,
Folhas de papel escrevendo besteira,
Declarações em cada boba brincadeira...
O verão se foi,
O avião decolou,
O ônibus partiu,
O livro acabou.
Eu continuo aqui,
Vendo o outono chegar,
E o inverno recomeçar,
Esperando a primavera...
Eu espero você chegar
Pra dizer que quero fazer
A história continuar,
E no final feliz,
Poder acreditar...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Primeira...

Durante o dia choveu constante,
O vento voltou gelado
E o casaco saiu do armário...
Enquanto debruçava-me sobre folhas
E mais folhas de uma vida,
Repensei tantas outras...
Chutei a lata de tinta,
Manchei o chão,
Colori a parede branca...
Enchi a cabeça com pontos de interrogação
E por fim,
Optei continuar com meus fiéis três pontos...
Para cada história,
Uma nova história,
Antigos enredos remodelados no contexto do agora...
Palavras que cri que jamais retornariam,
Voltaram na segunda, agora...
Os filmes ficam guardados,
As poesias aguardam na memória...
Cartas se perdem, cartas se acham...
Viagens dos meus contos, dos teatros,
No palco de panos claros...
Enquanto o tempo dança,
Eu aprendo novos passos,
Vou entrando no compasso,
Esqueço os que me deixaram ao pó...
Eu caminho, troco o ritmo.
Número par...
Eu prefiro impar,
Prefiro dança sem par...
Na casa abandonada,
Eu escrevo o romance do livro invisível...
Eu quero que a poesia vire música,
Que o conto, vire novela...
Que as noites mal dormidas, tornem-se boemias.
E enquanto os príncipes andam de cavalos brancos,
Eu fico na sacada,
Debruçada vendo o cão que ladra...
 Eu fico a mercê da sonoridade,
Dançando na sintonia que é só minha,
Eu danço enquanto o silêncio fala,
Que o mundo cala...
 

Teu riso - Pablo Neruda

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda.