quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Nada...


Eu poderia morrer agora,
Como um pingo da chuva que toca a terra e some...
Eu poderia morrer,
Escondendo todo o medo,
Toda a dor,
 A solidão que preferi...
Eu busquei os passos solitários
Por calçadas abarrotadas,
Eu preferi a cadeira vazias,
As mãos livres,
Os sábados silenciosos,
E o cinema sem espectadores...
Não há problema com o que está vago
E o telefone desligado...
Quanto mais olhos para os lados,
Quanto mais ouço discursos incertos
E vejo abraços falsos,
Mais prefiro o cheiro dos livros,
O latido,
O miado do gato,
O silencio do dia,
A calmaria da noite,
A parede riscada...
A poesia que não diz nada...

domingo, 27 de novembro de 2011

Poesia...



Lembranças...
Será possível sobreviver a elas?
Será possível viver delas?
Antigas histórias tão vivas,
Presente do dia...
As fotos já foram queimadas, apagadas,
Jogadas ao vento,
Sua história sempre fica...
Perdi a poesia,
Num único segundo, sumiu...
Como um bebê que nasce,
Suspira e morre,
Um único segundo que palpita,
Um único instante de vida,
Que se esvai na velocidade da luz...
Fica tudo aberto,
Janelas, portas,
As chaves foram pela janela,
A xícara de chá não quebra,
Que rumo toma a poesia?

domingo, 20 de novembro de 2011

Oi Chaplin...



"O homem é um animal com instintos elementares de sobrevivência. Por conseguinte, desenvolveu primeiramente a sua engenhosidade e só depois a sua alma. Assim, o progresso da ciência tem sido muito mais rápido do que o da conduta moral do homem."

Charles Chaplin.

sábado, 19 de novembro de 2011

Eu não sei ler...


Entre livros
Estão pratos de comida,
Refeições feitas
No silencio de palavras escritas,
Na solidão que se faz companhia bendita...
Não há ninguém em casa,
As crianças foram extintas,
E os cães pedem água...
O tempo passa,
O cabelo cresce,
Eu deparo-me, como de repente,
Ao viram a esquina,
Com antigas declarações de amor...
E como uma mal,
Eu já não entendo o que tais palavras querem dizer,
É como se escritas em grego,
E eu não sei ler...
Da arte, eu espero a resposta...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Escrever...

Como se não houvesse outro caminho:
Escrevo...
Escrevo para esquecer o mundo,
Para poder viver...
Escrevo para saber que você existe,
Que existe alguém que lembra você...
E eu não ergo mais a cabeça,
Pinto os olhos de preto,
Espero chover.
E você não vê.
Esconde-se entre as nuvens,
Surge suavemente nos dias que beiram dezembro...
Repinto os quadros,
Misturo cores,
Invento,
Logo vem o vento...
Assopra-me os pensamentos,
Tinjo,
Misturo tonalidades,
Contraste...
Destaco a sombra...
Escrevo,
Refaço-me aos pedaços,
Cresço...
Espero de novo o vento...

O começo...


Por onde eu começo?
Pelos porcos encaixotados?
Pelo cabelo cortado?
Ou pelo vidro quebrado?
Por onde prossigo?
Pelo asfalto esburacado?
Pelo barro?
Ou pelas trilhas dos cães bravos?
Fim?
Ponto final?
Estátua na praça...
Escultura excepcional...
Livros amontoados,
Xícara de chá,
Palavras dançam balé.
Dança, como o mundo girando, dançam...
E girando todos veem a mesma estrela...
E quando a estrela cadente desce, cadencia...
Eu não faço pedido,
Eu quero o pensamento livre para vê-la em queda livre,
Dançando...
Eu velo por ela,
E enquanto paro,
Os outros continuam estocando galinhas
E venerando brinquedos de plásticos...
Eu continuo rodando,
Girando palavras que não param...
Param...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Rousseau e o Guarda...


Depois do descanso, da noite de sono, é hora de entregar ao papel as lições que há tempo esperavam, como paradas na esquina.
Chá quente e chove lá fora... Chove enquanto lembro-me do dia quente e de sol forte onde logo cedo, descubro no guarda as lições que li em Rousseau... Sim, enquanto muitos se perdem em livros e mais livros para ter algum ensaio sobre o comportamento humano, descubro na conversa de cinco minutos com o guarda os maiores ensinamentos do comportamento do homem.
Meus livros não perdem meu apreço por isso, jamais perderá... Mas os trilhares da vida, as conversas nos bares, o bom dia da faxineira, o até logo da costureira, o guarda, aí estão as melhores lições, àquelas que os mestres guardaram em obras, as mesmas a que nos debruçamos e referenciamos, com todo o respeito que merecem.
Mas aquele guarda, sem ler Rousseau, ou qualquer outro sábio, já dizia: o homem não se preocupa, não toma cuidado consigo mesmo, e por isso perde o respeito com os outros. É por isso que o mundo está assim, por não se reconhecer em si, não se reconhece no outro.
Assim meu dia foi salvo, e naquela conversa de cinco minutos eu tive o resumo de Rousseau, das horas em que estive debruçada sobre suas palavras.

domingo, 6 de novembro de 2011

O vinho...


Vinho para beber-se em noites frias,
Entre filosofias,
E na pausa dos beijos...
O vinho que bebo para brindar o esquecimento,
Brindo pela paixão não vinda,
Que seja sempre bem vinda...
E que venha o vinho,
E que esteja comigo e com páginas de livros,
Poesias dos boêmios bêbados...
 E que se beba o brinde dos deuses,
Dos pensadores loucos,
Dos apaixonados...
Que venha o tilintar de taças,
Como parte da canção que toca ao lado,
Que venha acompanhar o futuro,
O presente,
O passado já passado...
O vinho que não bebo
Para recordar o que não é esquecido.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Crônica da noite...



Depois de um dia ruim, já não há expectativa... Você acha que continuará sentada escutando as mesmas coisas de sempre, fazendo o maior sentido sempre... E você acha que irá pra casa como qualquer dia, carregada de livros, com o peso do cansaço nas costas...
Mas ai, pessoas que usam all star, blusas listradas e óculos na cara te param, carregam livros, literatura vida. E você resolve mudar o caminho... E no andar da trilha escura o assunto é um só: personagens, páginas, palavras, linhas, frases... Ai aquilo que chamamos de literatura, ganha vida e nós a movimentamos em nossas bocas que não se cansam de falar...
Entre um gole e um amendoim, entre a fumaça do cigarro e o frescor da noite entrelaçamos Victor Hugo, Dostoiévski, Jane Austen, Érico Veríssimo, Anne Frank, Dante Alighieri e Alexandre Dumas. Imaginamos o clube de leitura de Jane Austen, e bebemos mais um pouco... Bebemos para homenagear aqueles que dão sabor aos nossos dias, que narram nossas histórias, que dão graça a dias cinzentos e nublados.
Bebemos e brindamos pela arte, pela nossa arte de largar a sala e descobrir conhecimentos que vão além, aquele conhecimento que nos leva muito além... E depois podemos seguir, para mesmo parada de ônibus, pegar o mesmo transporte, chegar em casa, jantar e tomar banho, como sempre se faz. Mas hoje algo é diferente... A mágica das palavras sempre nos torna diferente.