segunda-feira, 25 de maio de 2015

Resenha - Presente do Mar




Considerado um pequeno clássico, o livro Presente do Mar foi escrito pela estadunidense Anne Morrow Lindbergh, publicado pela primeira vez em 1955.
Nesse livro biográfico e escrito em tons reflexivos, a Escritora ao se afastar do universo de sua casa, dos filhos, do marido e das obrigações que a cercam na cidade de Connecticut, parte para uma ilha, sozinha, onde fica durante um tempo de férias. É lá, na simplicidade de viver com poucas coisas que ela se volta para o seu interior para pensar sobre o seu mundo e como vive neste mundo.
Assim, temas como o papel da mulher, a solidão, a necessidade de voltar-se para si, as obrigações, a auto-realização, o casamento e o amor são conceitos que tomam outras dimensões através da escrita de Anne.
Mas, na dimensão da vida que, por hora, ela vive naquela ilha distante, o tempo é seu aliado para observar cada coisa ao seu redor. É ali que ela observa as conchas, cada uma em sua singularidade, assim como cada fase da vida. Por esse motivo, cada capítulo do livro recebe o nome de uma concha e em cada capitulo há uma profunda reflexão, uma comparação com cada tipo de concha, umas mais raras, outras mais comuns, mas cada uma bela a sua maneira. De alguma forma, em algum momento, o que se percebe é que o que a escritora refletia em suas férias, em meados de 1955, é ainda o que muito se procura entender nos dias atuais. Existe nela muitas das perguntas e dúvidas que existem em nós, hoje.
Importante notar que a obra é profunda no papel que a mulher foi assumida ao longo do tempo, e que, da mesma forma, como ao longo do tempo foi perdendo espaço para olhar para si, e exercer papeis criativos diante de tanto afazeres exigidos a ela.

Vinte anos depois de Anne escrever o presente do mar, ela abre uma vez mais a obra e escreve, mais um capítulo. Vinte anos depois ela lança seus reflexos sobre Presente do Mar, e refaz suas reflexões sobre anos turbulentos, sobre o que acreditou ser a libertação da mulheres, sobre o contexto político e sobre as mudanças no contexto familiar, como a morte do marido.


Enfim, em pouco mais de 120 páginas, Presente do Mar é, de fato, um presente, capaz de nos fazer refletir sobre a vida, sobre o papel que assumimos e sobre nossa, ainda, incapacidade, de reservar um tempo para olhar-nos para nós mesmos, de compreender que muitas vezes a solidão é bem-vinda, de que existe necessidade de olhar para dentro antes que abarrotarmos de coisas desnecessários o que existe fora de nós.

domingo, 24 de maio de 2015

Sobre a violência de sábado


No descuido do pensamento, no momento em que me distraio do jogo, eu me traio e remonto os atos.
Na saída lateral do shopping, num fim de tarde já escuro, com as luzes amarelas dos pontes da rua já acesas, o que julgo ser um garoto correndo desesperado, destrambelhado, sem saber, ao certo, para onde corria, fugindo de alguém como numa brincadeira, era apenas o que parecia.
 Tentando superar a capacidade de suas pernas, ele acabou entrando numa ruela de mão única, ali, tão próximo de um colégio caro, de religiosos. Mas o jovem de roupas largas não ia sozinho. Ao quebrar na esquina da rua de mão única um carro teve tempo de dar sinal e quebrar, ele também, a esquina.
Nessa altura dos acontecimentos eu ainda não sabia o que estava acontecendo, apenas pensei que era alguém despreocupado, indo para casa, que talvez, nem ao menos tivesse notado um possível meliante, como se costuma, por aí, dizer.
Mas o que doeu nos meus olhos, foi que quando alcancei aquela esquina, dentro do caro de vidros claros e não blindado o que vi foi mais uma daquelas cenas que só penso me deparar em filmes, documentários. É uma entre aquelas cenas que não imagino ver tão limpa diante dos meus olhos.
O garoto que antes corria, estava, agora, atirado no meio fio, com as mãos na cabeça, desesperado, enquanto que alguém lhe apontava uma arma e lhe dava ordens.
Pedi para que corresse, para que fizesse o carro andar mais rápido, mas não havia como, o carro da frente havia diminuído a velocidade, estava ele assistindo de camarote, a vida como ela é, o show de horrores que buscamos todos os dias em manchetes e capas de revista, sem nos darmos conta de que vivemos esse mundo em sua totalidade, dia após dia. Mas nós preferimos nos enganar, preferimos acreditar que a violência está longe, no outro bairro, na outra esquina. E talvez, depois de assistir o ato e de voltar a acelerar o carro, a cena seria esquecida e ele voltaria a proteção do seu carro caro e de vidro escuros, deixando de lado, o que acabava de assistir.
Minutos depois, parada na sinaleira, eu estava em choque, tremendo, incapaz de falar. “Que grande fraqueza”, você pode pensar! “Que grande fraqueza!”, posso eu pensar.
“Que mundo é esse?” É o que eu venho a pensar... Ainda sem conseguir me mexer no banco do carro...
Entre a insônia e o sono interrompido eu procurei em todos os jornais, sobre informações sobre aquele episódio, nada encontrei.
Mas agora, quando minha mente se perde, quando eu descuido o pensamento, eu vejo com nitidez um garoto jogado no chão, com uma arma, apontando para os meus miolos.
Eu tento calcular mentalmente quanto vale a vida. E eu tento refazer os cálculos, e eu vejo dois homens, um jogado no chão, o outro no alto, com uma arma na mão. E enquanto procuro moedas na carteira para o pedinte pendurado na janela eu pergunto incessantemente, tendo diante dos meus olhos a vida como ela é, “quanto vale a vida?”, “onde está agora o garoto que ontem estava jogado na rua de mão única?”.
O que quero concluir é que quero correr, o mais rápido possível para longe de tudo, para longe de tudo que não escapa aos olhos, para tudo que faz doer por dentro, sem que eu possa mudar. Quero correr daqui, quero andar e ter paz, não quero ver o que não pode deixar de ser visto... Eu não quero ver, mas eu não posso fechar os olhos. Eu quero acreditar que possa existir outra forma de ver a vida como ela é...

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Sobre erros e acertos


Eu prometi que escreveria sobre como tudo deu certo, como os erros foram acertados, como o tempo vem passando, como tenho me reestruturado.
Eu me comprometi a um (re)olhar sobre o mundo, a desconstruir e construir tudo de novo. A abrir um riso depois de tanto choro contido.
Eu me comprometi a reescrever a história, a refazer os passos, a mudar a trajetória.
Mas veja bem, eu não fiz nada disso. Eu continuo sentada na cadeira baixa, numa sala de pouco sol, em que deixando os papéis de lado eu escrevo esse relato enquanto escuto os murmurinhos burocráticos.
Eu estou aqui com a mesma dificuldade em respirar, com a atenção voltada para a altura da janela. Não se preocupe, eu não vou me jogar...
Eu sigo em desespero, no quarto fechado, indo em frente com os olhos vendados...
Mas eu sei o que prometi e eu consigo ver que a vida é feita de erros e acertos. Eu anoto o valor dos erros, eu os recalculo.
Eu me redefino nos erros que cometi, eu começo a refazer o caminho sabendo que agora tomo a encruzilhada certa levando junto o ganho que os erros me trouxeram...
Eu vou voar no tempo conquistando as rosas depois das pedras. Eu vou levar apenas aquilo que sou eu. Todo o resto ficará eu caixas e eu não vou me importar se estarão mofando ou se pegarão fogo...
Eu vou deixar tudo isso para trás, os papéis, os textos conceituais, essa sala, os murmúrios da burocracia.
Em breve eu vou atravessar o oceano, sentar em baixo da árvore e escrever sobre como é bom ver o céu dali... Em breve, eu espero que o futuro se torne presente... Em breve, eu espero, que o decorrer dos dias sejam vida, sejam vividos... Em breve, talvez e eu espero eu estarei respirando sem fazer esforço, eu estarei escrevendo, eu estarei vivendo o que eu sou.
Em breve, eu estarei rindo dos erros, agradecendo por eles... Em breve, essa capa sobre mim, será deixada para trás. Eu vou olhar para a altura da janela e voar, voar...

domingo, 10 de maio de 2015

Foi um erro...


Foi um erro acreditar na vida, acreditar que a mudança viria de algo fora de mim...
Foi um erro trancar a porta, trocar de casa, de cidade, para viver escondida num buraco... Foi um erro trocar a música...
Foi um erro trocar de rumo, de estudo... Foi um erro deixar de lado o que se é.
Foi um erro dizer sim. E foi um erro não virar de costas, voltar para o caminho pobre. Foi um erro abandonar o caminho que ninguém quer...
Foi um erro preferir o amor alheio ao amor próprio...
Foi um erro não escutar a chuva batendo na janela, chamando pra ver que a vida ainda acontece...
Foi uma sucessões de erros que fizeram de mim o próprio erro...
Foi um erro acreditar que tudo seria diferente estando no mesmo lugar, fechando os olhos pra si, fechando os olhos para ver que se é a carta errada, num baralho errado... Foi um erro não notar que se é o curinga do baralho...
Foi um erro projetar o futuro sem olhar e refazer os passos dado no passado...
Foi um erro não acreditar na solidão... Foi um erro não seguir pela contramão... Foi um erro não deixar o raio, depois do trovão, chegar até à mão...
Continua sendo um erro esconder o choro manchando o rosto. É um erro dizer que está tudo bem. Está tudo fora do lugar...
É um erro pensar que a falta de ar não quer dizer nada... É um erro continuar nisso, sorrindo amarelado...
É um erro que vai me matar, acreditar que o tempo vai voltar e que os erros serão desfeitos...