terça-feira, 30 de agosto de 2011

Tarefa de Casa...


Página 88,
Tarefa de casa:
Pensar naquilo que quero esquecer...
Como um sonho,
Atravessei o mar,
Fui para me buscar,
Encontrar a outra face pelas ruas estreitas,
Dizer olá...
Descobrir que existe um segundo gole
Depois do primeiro.
Trocar os bancos da faculdade,
Os livros, cadernos,
Pelo boteco,
Pelo trago com o dono do bar...
Fechar os olhos e não pensar,
Rir alto,
Ver a possibilidade de se apaixonar
(somente a possibilidade).
Dizer que o amor não existe
E logo encontrar alguém para abraçar...
Olhar profundamente em seus olhos
E nada dizer,
Sentar em frente à TV,
Brigar, brincar...
Como num conto,
Correr pela rua
E na calçada dançar...
Sentar com desconhecidos,
Deixar o tempo voar,
Voar como as gaivotas na beira do rio,
Enquanto olhamos o sol,
Tão forte, tão belo,
Se indo, deixando a noite chegar...
Agora o que espero chegar,
São as cartas,
Provas de que aqueles dias, noites,
Existiram de veras,
Não foi um mero sonho
Lembrado ao despertar...
E se eu pudesse, se eu fosse,
Eu escreveria no asfalto as memórias
Daquela terra,
Escreveria a história que, um dia, fui,
E que logo (espero) voltarei a ser.

domingo, 28 de agosto de 2011

Mais um dia...




Um dia a mais desse ano que se vai, vai para nunca, nunca mais voltar. Eu, como mero indivíduo do mundo, vou cumprindo com aquilo que é minha obrigação cumprir. No fim do dia, depois de alguns minutos esperando na avenida iluminada, observo os passantes que imaginei indo para casa, outros passeando com seus cães brancos e peludos, outros, ainda, estão apenas andando, sem rumo, para qualquer lugar.
Tomei meu acento no ônibus, abri o livro, li apesar do balanço do transporte que fez algumas paradas, onde pessoas desceram. Tudo estava calmo, tranquilo naquela noite de inverno.
Até o policial atacar o ônibus, para-lo, para saber se tudo estava bem, se não havia nenhum suspeito, dizia que a cidade está muito violenta, e que os assaltos aumentaram. Eu era a única que estava dentro.
Continuei minha rota, até chegar em casa, atravessar a rua, seguir pela calçada, abrir o portão, a porta, entrar no elevador, subir, abrir, fechar.
Jogada em meio aos livros e xicaras de café eu refiz o dia, o cenário...
Eu, que por um longo tempo tive medo de tudo, da vida, das pessoas... Ando agora pelas esquinas, gargalhando, sem temer... Agora eu já tirei a toca, já mostrei o que não sou. E as adversidades da vida o que eu são diante de mim e das minhas dores? O que são diante dos meus membros mutilados? Diante das partidas? Das esperas que nunca chegaram...
Eu não estou no circulo, não pretendo estar. Eu sou preto diante de tudo que é branco, eu estou andando na chuva, no sol, indo do inverno ao verão. O porquê eu ainda não sei... Mais isso é só mais um “não sei” que existe em mim...
E eu continuo pelo caminho que eu faço, fora dos moldes, eu invento o caminho. É assim que deve ser, é 
assim que será.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Insônia


Desespero forçado, arrebentado... Sem alternativa, levanto, acendo a luz, procuro pela mesa, entre livros e mais livros, qualquer pedaço de papel e uma caneta...
Depois de várias páginas lidas, madrugada aproxima-se, o dia que virá será longo, apago a luz e deito. Tapo meu corpo, a pouco a chuva começou e o frio continua...
Viro-me de um lado, do outro, de costas, afasto as cobertas... Cantarolo a canção que você me mostrou, o teatro, sem mágicos... Penso um pouco, lembro, penso em você, em nada do que ficou... Faço planos, fico imaginando, troco as palavras, as frases escritas, imagino se o final teria mudado.
Na vida passada, na cama de solteiro cabiam dois, três, que entre gargalhadas, sentenças, confissões, promessas, adormeciam loucos, felizes, boêmios. Agora, na cama grande, mal cabe um corpo que se perde, se bate, não adormece...
Insônia persegue, maltrata, trás você em todas as formas, todas que ficaram do outro lado, juntos com a paixão que nunca houve, nunca. Paixão não houve... E a chuva continua soando como os sinos da Igreja em consonância com a noite.
E os poetas suicidas? Para onde vão? Onde estão? Eu vou para a janela, observar a chuva, falar das poesias que fiz não pensando, vou esperar que as horas tragam meu sono e que levem para longe aquilo que rouba os sonhos. Vou fazer versos que lembrem e que só lembrando possa esquecer.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Foi? Despedida?



Você não sabe,
Nem saberá as noites que passei em claro,
O entardecer em que me debrucei na janela,
Vi a chuva correndo.
Estive a reler o livro,
Aquele que não foi escrito,
E assim é a melhor maneira que o tenho...
Assim posso degustar-me e viajar
Mais uma vez,
Estar nos lugares que estive,
Que sorri,
Que tentei desvendar seus olhos...
Sim, sempre eles...
Você sai sem dizer adeus,
Eu parti,
E não há espaço para um olá...
Realidade?
Canções...
Você dorme agora,
Eu escrevo para ninguém saber...
Prefiro a insônia aos meus sonhos...
Guardo no baú sentimentos solitários...
Viro as costas e sigo pelas escadas.
Você sai sem despedidas,
Eu finjo...
Fica tudo sempre bem...

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Resto do fim da noite



Tenho-o tão próximo dos meus olhos
E não posso tocar, dizer olá...
Dedico-te meus pensamentos,
Poesias que nunca chegarão as tuas mãos...
Está longe...
Daqui algum tempo
Restarão apenas folhas amareladas,
Fotos numa caixa de sapato,
Retalhos de mim espalhados no espaço...
E eu pergunto-me,
Quando esse tempo chegar,
Se estará tatuado no meu corpo,
A história que abortamos,
Que abandonamos no oceano,
Como fracos suicidas...
Acabo, por fim...
Fecho o livro,
Tento dormir...

Paixão?


Escondida...
Mostro-me aos livros,
Neles me debruço,
Para eles, choro,
Falo a verdade,
Esqueço...
Como fiéis ouvintes que não falam...
Eu tento olhar pelos óculos,
Tento...
E o que sobra é a noite chuvosa,
Sala escura, filme roda,
Eu adormeço...
Eu quis olhar para trás
E não deixar você partir,
Eu engoli o choro e segui...
Eu quero esquecer,
Eu quero mãos dadas,
Quero um soldado na minha poesia...
Paixão?
Em que esquina deixei?
Amor?
Quem inventou?
Meu choro secou depois de tanto tempo esperando.
Eu guardo teus olhos,
Meu castelo de areia,
Eu aguardo a degradação,
Pichação...
Algo mais?
Acho que não...
Alguém quer me dar à mão?
Não... creio que não...

domingo, 14 de agosto de 2011

Mais uma assim...



As histórias repetem-se nos livros,
Nos filmes,
Na vida real:
Ela chora, ele fecha a porta e vai embora...
Literatura inglesa,
Cinema francês, minha preferência...
Café bem forte para acompanhar,
Qualquer café que não seja solúvel...
Basta-me a solubilidade da vida,
Sim, dias solúveis,
Viagens e pessoas que se desfizeram,
Rapidamente...
Desfizeram-se sem precisar das minhas lágrimas...
Assim, facilmente...
Nada mais compreensivo...
Nada mais brutal do que bonitas palavras para destruir a realidade,
Essa que não existe em lugar algum...
Não a encontro em lugar algum
Entre meus livros de capas duras,
De bolsos,
Meus...
Somente.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Indignações de uma sexta-feira



Discussões infindáveis,
Solução alguma apresentada...
Muito café, água com gás ou não...
Todos os dias assim...
Pensar,
Dar-se de cara com as manchas negras da sociedade,
Dizer olá,
Fechar a porta e sair...
Mais café eu preciso,
Mais bebida que corroa meus ossos,
Que desintegre meu cérebro
E eu possa sorrir...
Que caminho escolhi,
Afogando-me nos livros,
Deixando as crianças passando fome
Enquanto teorizo uma sociedade infeliz...
Desgraça,
Estou sentada, indignada,
Mas continuo sentada...
Desgraçada, não?
Engano-me, mas finjo que não...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sei não sei



Perdida no tempo,
Vou à procura do que ainda não sei...
Procuro pelos livros espalhados pela mesa,
Nas conversas, nas canções,
Nos olhos que não encontro...
Nunca mais os verei... Verei?
Não, não sei...
No caminho de volta
A canção dizia-me para fechar os olhos
E encontrar...
Sem poder fazer nada,
Fechei os olhos e esperei.
Esperei até chegar...
Cheguei em casa,
A chuva há tempo já havia parado.
Eu, perdida entre os cômodos, agora escrevo...
Escrevo, como se nada mais restasse,
Como se fossem os últimos versos
Para aquele que, não sei...
Sei?
Não sei...
E se saberei, não sei... 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Manual de Pintura e Caligrafia



“Não sei que passos darei, não sei que espécie de verdade busco: apenas sei que se tornou intolerável não saber.” (p.49)

“É sobre tudo a ideia do prolongamento infinito que me fascina.” (p.50)

“ quem sabe a cegueira não seria preferível à visão agudíssima do falcão instalada em órbitas humanas?” (p. 62)

“O mesmo se diria de pintar, mas torno a dizer que escrever me parece arte doutra maior subtileza, talvez mais reveladora de quem é o que escreve.” (p. 163)

Depois de algum tempo sem dedicar um espaço no blog para as sugestões de livros, estou de volta para falar sobre o último livro que li: Manual de Pintura e Caligrafia, do grande José Saramago.

Saramago, para mim, é um visionário, pensador do mundo, amante das palavras que nos faz conhecer outros lugares em cada página de suas obras. Manual de Pintura e Caligrafia não é diferente, sua primeira publicação é de 1977.

“O que ainda não está, o que veio e transita, o que já não está. O lugar só espaço e não lugar, o lugar ocupado e, portanto, nomeado, o lugar outra vez espaço e depósito do que fica. Esta é a mais simples biografia de um homem, de um mundo e talvez também de um quadro.” (p. 166)

“É verdade que não preciso de muito para viver. Se for necessário chegar a esse ponto, sei que me bastariam quatro páginas (queria escrever paredes), uma cama, uma mesa e uma cadeira. Ou duas, para não deixar de pé um visitante. E o cavalete – já que assim tem de ser.” (p. 170)
O Manual é um romance, embora, como o nome diz, seja também um tratado, no sentido da pedagogia medieval, no bom sentido das obras de Rousseau e no melhor sentido do ingimento pessoano, este de que se faz a arte de imitar o mundo pela pintura, a pintura pela linguagem, a linguagem pelo mundo. (do site http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10348).
Tenho que dizer que esse livro foi o primeiro que risquei, mas foi por uma boa causa, há colocações, pensamentos, ideias de Saramago que devem ser destacas, entre os destaques que fiz, separei algumas para este post. Espero que gostem e que elas instiguem os amigos leitores a conhecer a obra... Vale a pena

 “o meu problema não é uma falta, mas uma espécie de presença.” (p. 204)  

“Sempre fui sensível ao absurdo das despedidas de cais, com tudo já dito e sem tempo para recomeçar, com um comboio que não se decide a partir e um relógio que soletra os últimos segundos – e depois o alivio, enfim, da partida, mesmo que, desaparecida ao longe a ultima carruagem, os soluços rebentem e apareça o desgosto que parecia não haver.” (p. 290)

“Há momentos assim na vida: descobre-se inesperadamente que a perfeição existe, que é também ela uma pequena esfera que viaja no tempo, vazia, transparente, luminosa, e que às vezes (raras vezes) vem na nossa direção, rodeia-nos por breves instantes e continua para outras paragens e outras gentes.” (p. 291)

Um abraço aos amigos... Boa semana e boas leituras... 


Mago Saramago - Caverna de Platão e as imagens


domingo, 7 de agosto de 2011

Errando

Eu sou um ser errante,
Ando, entre as multidões,
De costas...
Sou um ser errante,
Sem conseguir conversar com as palavras,
Escondo-me atrás dos óculos escuros,
Dou liberdade aos olhos,
Deixo-os falar...
Choro...
Sou um ser errante,
Deixando os soldados partirem,
Para perpetuar a guerra,
Deixo-os ir para depois escrever cartas,
Para manda-las na madrugada e arrepender-me...
Eu não passo de um ser errante,
Tentando fazer poesia,
Criando personagem enquanto vejo o tempo passar
No trajeto do ônibus,
Enquanto espero o ultimo destino...
Eu sou errante,
Viajante,
Que depois de tantas paradas
Já não sabe qual é o seu lugar na escada.

sábado, 6 de agosto de 2011

Algumas conclusões



A semana acabou e na minha mente permeiam os problemas e as soluções aos quais deparei-me. Perdi algumas noites arquitetando como seria o retorno, como estariam os prédios, esse amontoado de concreto... Mas foi. Houve tristezas, saudades, lágrimas, reencontros e ainda há.
As conversas entre amigos trazem-me conclusões: eu não estou num caminho tão errado, tão perdido assim. Eu sei o que quero mudar, eu sei no que acredito.
Eu sei que quero soluções para a Somália, para a homofobia, para o Código Florestal, eu quero dignidade e respeito aos animais. Eu estou buscando caminhos para um mundo melhor... Um mundo humano...
Eu sei que há coisas que foram e nunca mais serão... E também sei daquilo que foi e que ainda será...
Então, prossiga-se, o show continua e eu não troquei de papel... Siga-se porque o fim da história sempre pode mudar...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A dívida...


A noite caiu, depois de um dia frio, chuvoso...
Imprevisível,
Eu lembro o que prometi.
Lembro e escrevo...
Escrevo no meu pensamento,
A tarde banhada a cerveja,
As cartas e ele a minha frente,
Como se testando, como se esperando algo acontecer.
E depois disso esqueço,
Algumas recordações foram roubadas
E levadas para longe,
Pra junto de você...
Volto com você suplicando a Deus que tudo ficasse bem...
E você se foi, sem dizer para onde...
Palavras saíram da minha boca como abelhas
Prestes a picar...
Palavras e palavras...
E daqueles dias eu guardo as cores mais vivas,
As conversas mais simples,
As risadas mais sinceras...
Eu aguardo o retorno,
Para a cidade das luzes.