sexta-feira, 29 de junho de 2012

Quanto custa?


“Se penetrássemos o sentido da vida seríamos menos miseráveis.”
Florbela Espanca

Quanto custa a re-socialização de um preso? Quanto custa o desenvolvimento sustentável? Quanto custa a reabilitação do drogado? Quanto irá custar ensinar a criança? E alimentar o miserável? E a cuidar do doente? Quanto custa proteger as florestas, os rios, os pássaros? Qual é o valor da vida?
Quando quer pela sua vida? Pela minha vida? Pela vida do teu filho? Do teu pai?
Diante de tantas mudanças e novas reformulações, entre as mais evidentes está às relações mercantis que se sobressaem sobre o que antes eram relações humanas. Tudo passa a ser fracionado ao valor monetário, a notas de papel com um número qualquer... É isso que nos tornamos: coisa? Meras coisas a serem usufruídas por alguns, descartadas por outros. Agora, somos produtos postos em prateleiras, analisados se está caro ou não?
E se questionares, novamente: Quanto custa? Eu respondo: Não há valor, porque não tem valor. Afinal tem mesmo algum valor a tua vida? Têm realmente valor as belezas naturais? Têm valor os animais? A proteção que sempre lhe foi devida?
Já passou do tempo de pararmos de  reproduzir o que a sociedade do capital nos ensinou: valorar aquilo que pela essência jamais teve valor. Passou do tempo de consideramos estimável tudo que sempre foi (e deverá ser sempre) inestimável. Já venceu o prazo de estancarmos a miserabilidade dos nossos corações.
Já é chegado o tempo de nos tornarmos humanos, humanos pela humanidade que nos falta.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O tempo do tempo...


Afinal é apenas o final?
Pelas ruas ficaram a sós, os marginais?
E nas canções o que era para ser imortal?
O que é o tempo?
Quanto tempo eu tenho?
Qual é o tempo do tempo?
E quanto tempo se leva para conhecer?
Um ano?
Um mês?
Um dia ou uma vida?
Quanto tempo eu tenho para reconhecer?
Qual foi o tempo do passado?
Quanto tempo leva para passar?
Ao fim, quantas perguntas o tempo exige?
E quantas lembranças 
E quanta saudade ele ainda vai cobrar?
E quais são as respostas que o tempo pode dar?
E o que fica e o que vai, é o tempo que decidirá?
E qual é o meu tempo no seu tempo?
E qual é seu tempo no tempo?
E ao final, e para o final,
O que é o tempo?

sábado, 16 de junho de 2012

Como uma resposta...


Eu não acredito,
Embora queira...
Eu quero e então se constrói o impossível...
Meu coração é o pão dos podres,
Migalhas...
Foi vítima da bomba de Hiroshima,
Estraçalhado...
É estilhaço como o vidro quebrado do carro...
Meu coração
São os restos do animal no abatedouro,
Já mal cheiroso,
Já morto...
Eu não creio, nem há esperança aqui.
Diante do abismo abandonei a fé,
Deixei na caixa do correi o melhor que pude ter,
Deixei nas paredes as cores que nunca pintei...
Nas conversas devolvi os amores platônicos,
Os amores que sonhei,
Os que eu confiei
Os que eu inventei
E pelos parágrafos de ilusões eu já rezei,
E por mãos no parque, sentada, eu esperei.
Os olhos cegam diante das dores do mundo,
E voltam para onde se cria paralelo, vida...
Para os sonhadores, os tempos são difíceis,
Para os poetas, não sei...
Nos livros enceno tudo que a realidade renega,
Faço vozes,
Entrego verdades,
Dispo e visto,
E não vivo...
Atuar é viver o outro,
O que é viver o que se é?
Não há o que falar nem desculpar,
O silêncio faz-se alto,
O sol faz-se calor,
Eu faço a poesia triste que ninguém espera decorar,
É a única que sou capaz de talhar...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Como?...


Como poderia acreditar no amor,
Se quem prometeu voltar, não voltou...
Se o resto ficou em Roma,
E coisas ficaram espalhadas em tantos lugares...
Se quem disse que seria para sempre,
Viajou para outra dimensão,
Disse adeus no carro,
Foi e não regressou...
Como poderei crer no amor?
Dando as costas,
Preferindo o esquecimento,
O isolamento,
O caminhar no caminho do sol no silencio...
Como acreditar no amor,
Se os trilhos fáceis são sempre o trem que todos escolhem...
Como crer no amor,
Diante do terror da distância,
É tão fácil tocar o que está ao lado...
Da falta do tato, do toque,
Fica tudo na imagem da lembrança.
O romantismo é a herança dos livros,
As declarações pertencem às canções,
E são poetas os únicos capazes de loucuras...
Porque acreditar?
Porque escolher? Optar?
Para quem chorar?
Ou porque sonhar?
Porque ter a janela aberta e querer voar?

terça-feira, 12 de junho de 2012

Do dia...


Da poesia fez-se o drama,
E dos passos calados fez-se trotes altos...
Dos anos passados fizeram-se lembranças
E a história virou pedra,
E o romance virou mito...
O canto virou hino depois da morte,
E os sonhos viraram pinturas raras...
E de noites, na sala, ficou o pensamento viajante...
Na carteira ficou uma foto,
Um bilhete dobrado,
Uma carta...
E das esquinas da cidade
Ficou o contêiner de lixo,
Do homem catando o reciclo,
Do homem beijando sua amada, que espera...
Da rua ficou o perfume perdido,
E ficou tanto vermelho,
E tantas pétalas espalhadas...
E de hoje,
Ficou o tempo que se foi,
A amargura que sobrou,
As horas que disseram adeus para nunca mais voltarem.
Do dia, ficou...
Uma poesia,
As palavras,
A incompreensão,
A (in)finitude...
O fim que não deixa terminar.

sábado, 2 de junho de 2012

De repente mais uma vez...


E de repente,
Não mais que de repente
A atmosfera se revela
Tão repleta de sentimento...
Os pensamentos que vieram,
Tão soltos
E tão intensos...
São os dias de outrora,
Foi o ano que passou,
Os abraços e os laços que se soltaram...
E de repente,
Não mais que de repente
Eu tenho dúvidas,
Quero saber onde está agora...
E agora?
Não mais que de repente
As memórias viram poesias,
E eu lhe devo pela história
E por tudo que não pude oferecer,
Por tudo que desejei
E que ninguém quis ter...
E não mais que de repente
Eu recordo, eu busco,
Mas não irei até você...
E de repente, se foi...