domingo, 31 de julho de 2011

II.

Estou de volta ao mundo real,
Enquanto te dispo e te conjugo na tua volta.
Perco-me pela cidade, e repenso aquele passado,
Enquanto te percebo, me calo, te vou, me nego.
Poesia sou (ou não)...
Pouco importa se é... eu te faço, não importa a circunstância.
Quero estar no mesmo degrau, desfrutar a canção branca,
Ou a cor que for... não penso nas colorações que teu olhos podem ter.
Penso nas melodias que narram histórias,
Todas elas são nós e nós somos elas, de uma forma tão simples que até ignoramos.
Melodias, canções e poesias...
Embora tudo isso, não consigo ser se você não é,
Eu sou e você é...

Daísa Rizzotto Rossetto e Volmir Gnoatto.

sábado, 30 de julho de 2011

I.



O que eu tenho pra te chamar não é suficiente,
Os sonhos que guardo em mim não alimentam ilusões.
Mesmo que me esforce, não vou até você,
Viro as costas, vou pelos trilhos,
Enquanto me lamento, essa covardia que me convém.
Pergunto-me se há convencimento...
Mas hesito, não tenho coragem de perguntar tantas coisas. Só espero tua reação.
Espero os dias passarem, vou escrevendo poesia,
Embora não queira esperar, embora queria tudo sem ficar aqui parado.
Existe sempre (ou quase) um embora...
Só não há um embora de ti.
E agora?
Agora terminamos quietos, agradecidos por ser tamanha oposição...

Daísa Rizzotto Rossetto e Volmir Gnoatto


quinta-feira, 28 de julho de 2011

A indifrença diante da Somália


Sem nada para fazer à noite, resolvi conferir o que estava passando na televisão brasileira e em determinado canal estava iniciando um documentário sobre a atual situação da Somália. Meu pai interroga-me: Você quer assistir? Eu, mais que prontamente disse sim. Como precisando de um choque elétrico, com a maior voltagem possível para encarar a quão “bela” é a vida.
A Somália está localizada na parte mais oriental da África e a religião dominante é o Islamismo. Atualmente este país doente pela fome e pelas doenças sofre ainda pela seca, a mais terrível dos últimos 60 anos. Aqui tudo é racionado, comida, água, remédio. Até mesmo a vida é racionada, uma vez que não há motivo para sorrir ou cantar.
O governo é fraco e apenas representativo, por atrás há um interesse maior. A fé faz guerra e deixa corpos espalhados pelo caminho, em algumas localizações a ajuda humanitária há anos não chega e do chão não brota nada, rios foram substituídos pela areia. A Somália tem o maior campo de refugiados, neste local a escola é improvisada, os “professores” nem sabem por que estão ali. E as mulheres sofrem com a violência sexual. Abusadas e esquecidas guardam para si a dor. Falta comida, faltam os pais e maridos roubados pela guerra. Aqui, os resgates de jornalistas seqüestrados financiam o armamento. Reflexos do conflito iniciado em 1986 (oficialmente) e que perdura até os dias de hoje.
Neste país os doentes mentais são acorrentados, os demais morrem a míngua, na espera por cuidados e remédios que nunca chegaram, os famintos continuam com fome, as crianças fracas, não conseguem nem chorar... Eu choro por elas.
As tradições imperam sobre os direitos humanos (alias onde eles estão?) e as mulheres da Somália não tem o direito de dizer não a mutilação genital, que acontece sem nenhum cuidado nem anestesia. Os parentes alegam ser uma tradição passada de mães para filhas e que estas não têm escolha, entre os sete e onze anos, terão de ser sacrificadas, em nome da tradição e dos costumes. O holocausto continua.
Eu pergunto-me, depois de passar seis meses estudando Direito Internacional e o seu tão importante papel na defesa dos Direitos Humanos. Onde ele está? Onde está a ONU (obediente aos Estados Unidos)? Onde estão as grandes ONG’s? Onde está Deus? E o que eu estou fazendo?
Nossas vidas medíocres: estamos buscando melhorar nossas vidas. Que vida? Como poderei ter uma vida melhor, se do outro lado da porta a fome domina. Eu penso em todas as coisas que ouvi, todos os planos... E eu não consigo ver a beleza das folhas que caem das árvores, não enquanto seres humanos como eu, como nós, morrem como míseros seres sem importância. Eu quero ver mudança, eu devo ser a mudança, nós.
Eu lembro que a violência só gera violência e que guerra nenhuma trás a paz.
Sejamos fortes, sejamos humanos e façamos a diferença nesse mundo esquecido, no mundo em que o homem é o lobo do homem, mundo em que o ser humano não se reconhece no outro, mundo cada vez mais individualista e triste. Fraco de vida. Franco de humanidade.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Caminhando de cabeça baixa...



Eles estavam certos
Quando gritaram entre aqueles prédios antigos,
Mesmo bêbados, eles estavam certos sobre mim...
Eu que não sei nada da vida...
Eles estavam certos
Sobre os beijos que não dei,
Sobre o amor que não deixo esquecer,
Estavam certos sobre meu mundo perdido,
Sobre a confusão que é só minha...
E agora eu olho para as folhas secas sobre o gramado,
E volto meus olhos para a árvore nua.
Eu penso num único poeta,
E penso na esperança
E penso no livro que quero escrever e não consigo...
Eu viajo por entre as ruas,
Distribuo beijos aos mendigos,
Sem migalhas, sem pão,
Cheios de fome,
Amantes da solidão.
E as crianças perdidas
Sem mãe...
Eu abraço os cães
E vou caminhando lentamente,
Cabeça baixa,
Rastreando meus passos,
Procurando minhas ilusões,
Meu passado colorido,
As minhas emoções.

domingo, 24 de julho de 2011

Continuação



Sozinha na noite
As luzes se apagaram,
As conversas e gargalhadas cessaram,
Telefone não toca mais,
Não tocará...
Os gritos pedindo socorro
Ficaram do outro lado,
Não há mais ninguém nos degraus,
Na calçada,
Não há mais a luz acesa.
Aquele quarto, ninguém abita lá...
Ligo o rádio, deixo o som baixo,
O piano e a voz só fazem lembrar...
Os copos estão quebrados,
As garrafas ficaram pra trás...
Eu e meus mil amores...
Eu falo do amor
Para poder rimar com flor,
Falar da dor seria clichê demais...
Eu não tenho nada para falar...
Bendigo a poesia
Pois na vida não aprendi a atuar,
Rezar...
Flutuo por entre os muros,
Picho cada mentira,
Penso no poeta,
Deixo a música continuar...
Três pontos,
A noite estrelada,
Minha insônia,
O barulho do relógio,
Meu rosto sem lágrima,
O filme que roda sem expectador...
Tudo vai continuar...

sábado, 23 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sempre...



Já disse tudo o que deveria ter dito...
Sonhei com o que a vida permitiu,
Bebi todos os goles que me fizeram esquecer
Os dias de sol quente de dezembro...
Poesia para brindar os poetas,
Os boemios e violeiros,
Poesia para ver os desenhos nas nuvens,
Para brotar as flores entre pedras...
Palavras para lembrar que viver é o melhor que tenho a fazer,
Sem planos, sem amores (com todos eles),
Partindo por todos os caminhos...
Sempre, novamente,
Para sempre...
Como sempre (foi)...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A chuva...

 
A chuva esteve calma,
Silenciosamente, caiu por toda a noite...
O dia nasceu discreto,
Sol de longe,
Calor não veio...
Estou indo para onde os outros desejam ir...
Estou perdida,
Entre os trilhos já não sei pelos que devo seguir.
E como um trem desgovernado,
Vou avassalando minha alma
Manchada de sangue...
Olho ao meu redor,
O desespero consome,
Como cupins alimentando-se da madeira,
Não some...
Vai destruindo aos poucos, tranquilamente,
Até aniquilar as lembranças do outro mundo...
As fotos, melhor não tocar,
Não chegar perto,
Não olhar, não sonhar...
É preciso cantar as flores,
Chorar pelos falsos amores,
Juntar pedras e conchas,
Dormir ao chão,
Ver o sol pondo-se entre as nuvens da cidade grande...
A cidade que me perde...
Por agora,
Que a vida leve-me,
A vida que segue.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Esqueço...



Tenho a impressão de estar esquecendo algo...
Reviro na lembrança,
Procuro noites, pôr-do-sol,
Aqui ou lá...
Reviro caixas, revejo fotos,
Não encontro nada...
Guardei no silencio,
Anjos de gesso, flores e olhares que pensei em
Jogar ao vento...
Esqueci as marcas, as aulas,
As mentiras,
As canções interpretadas no metrô...
Sonhei com o céu,
Mas voo rasteiro...
 Escrevo poesia no chão,
Com pedaços de tijolo,
Escrevo rasgando minha pele,
Gritando, sem choro ou comoção...
Sigo como um soldado,
Marchando,
Olhos fixos e sem paixão...
Sigo como louco,
Rindo do nada,
Acreditando que o moinho de vento pode ser um dragão...

Até logo... pra nunca mais...



Em minhas mãos deixei, apenas,
O livro de fotos que me deu...
Há coisas que não quero perder...
Na minha cabeça, palavras soltas estão a girar...
O dia é de sol forte e quente,
A noite foi fresca e sem bebedeira,
Eu lembrei silenciosamente,
Do beijo, dos pedidos,
Da escada e do abraço,
Canções sussurradas,
Da minha tentativa (frustrada) de dizer não...
Seguro o coração na mão e vejo cada pulsar,
Cada gota de sangue a pingar...
Desilusão, ilusão que demora a acabar...
Minhas malas estão cheias,
Espero o carro chegar,
Sem dizer adeus, até logo,
Até nunca mais...
Eu não deixarei o tempo me guiar...
Eu guio o tempo eu faço-o rodar.
Estou livre, braços abertos,
Cabelo ao vento,
O sorriso jamais se apagará...
Adeus,
Quem sabe, um dia, a gente saiba amar...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O que sobrou...



Lancei meus pés descalços
Pelo chão lavado de cacos de vidros,
Reflexos das garrafas quebradas na noite anterior...
O que tinha guardado em minhas mãos
Deixei pelo caminho...
Virei-me em direção ao sol
E fiquei a olha-lo até queimar,
Queimar e cegar...
As flores que colhia nas colinas acabaram,
Restaram ervas daninha e folhas secas,
A chuva nunca chegou...
As crianças já não brincam na terra,
Não há sujeira, ou brincadeiras...
Os trens pararam nas estações,
Não há mais chegadas ou partidas.
Nem números, nem livros,
Muito menos amores,
Esses que nunca existiram,
Esse, que me pergunto,
Se um dia existirão...
As fotos ficaram pretas e brancas,
Não há mais cores, gargalhadas,
Não há mais dança nem violão...
O vulcão não entrará mais em erupção...
Existem apenas as poesias velhas,
Antigas,
Que ficaram de companhia da solidão...