sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Do que eu ainda sou...


Sabe, eu tenho pensando sobre os rumos que os dias tem tomado e eu tenho repensado nos dias que passaram e nos dias que poderão vir...
E eu fico na dúvida, entre o ser ou o nada, ser nada ou não ser?
Mas e se não for nada? Se lágrimas fossem apenas lágrimas e se o silêncio do domingo fosse apenas o silêncio, pode ser que não haveria sumiço...
Queria entender o que os humanos querem dizer quando dizem e o que querem dizer quando calam...
Mas o que eu realmente gostaria de saber é o que eles sentem... Porque mais importante do que dizer e mais importante do que saber, ainda acredito que é sentir...
E eu gostaria de saber se é possível deixar de sentir e eu queria saber se é possível sentir sem dizer, não dizer e sentir...
E eu ainda, na minha ânsia de viver de banho de chuva e dança no escuro, gostaria de saber dos sentimentos que movem o mundo e eu gostaria de saber se eles já não foram extintos, substituídos pela leviandade de palavras tão vagas e promessas falhas... E eu gostaria, ainda, de saber se posso doar meu coração e entrar e ser mais um na multidão, ser mais um sem sentimentos, indiferente, apagado, em tom de cinza seguindo pelos caminhos já trilhados...
Eu não quero mais ser a romântica incompreendida, crianças planejando mudar o mundo o mundo me cansou, o mundo me desarmou...
Mas, mesmo não querendo ser o que sou eu ainda não comprei guarda-chuva e eu ainda não acendi a luz... E eu ainda sou o que sou...

domingo, 18 de novembro de 2012

Então....


É quando afoga o peito,
Sufoca-se o alento,
Depois desconheço...
É a dúvida que nos mata,
Adeus na calçada,
Declaração sem resposta.
Há quem diga: eu mereço...
O que foi feito ao nosso respeito?
O que mora no peito?
Quem existe no pensamento?
Busco alento,
Poesia ao vento...
Desassossego,
Escrevo no silêncio,
Repito os mesmos erros,
Espero doer aqui,
Espero saber o que vem depois...
Amor ou desilusão?
Desamor ou sonho a dois?
Afinal,
É o final,
Fim do mal...
Maleza do coração,
Mundo nas mãos que se vai, então,
Volto a ser rés mortal,
Volto a colher flores que nascem no asfalto,
Volto a tropicar nas pedras,
A ver os vãos do chão,
E sentir a falta de pressão,
São esses os dias de verão...

sábado, 17 de novembro de 2012

Uma taça de vinho e o Amor....


Taça de vinho
E uma droga de poesia,
Uma noite calma,
E a lembrança do que, um dia foi, amar...
Taça de vinho,
Faz o rosto amortecer,
Não deixa a lágrima aquecer,
Não deixa o coração doer...
Ah Drummond!!!!
Se eu, um dia, voltasse a saber...
Eu só sei que você estava certo,
No nosso desamor,
Nunca queremos descobrir o verdadeiro sabor...
Ah, o Amor...
Joaquim já não ama Lili,
Meu bem já morreu,
Eu vou morrer,
Mas hoje vou beber,
Beber ao desamor,
A falta de amor...
Da mentira,
Do falso amor,
Eu vou beber,
Enquanto todos dormem
E fingem não ter medo de viver,
De saber o que é o amor.

domingo, 11 de novembro de 2012

Vagalumes...


Preste atenção meu bem, sabe por que os vagalumes brilham no gramado de casa? Adivinhe só? Adivinhe, é o amor que os faz brilhar...

Sim, é a procura pela companheira que os permite emitir o alerta: estou aqui! 

Ironia da vida? Não sei, então eu fico por ai, perambulando, divagando, pensando nesse estranho chamado amor... Este que faz o vagalume brilhar...

Livres, os vagalumes brilham enquanto esperam...

Enquanto nós, o que fazemos? Brincamos de esconde-esconde? Fingimos não ser nada? Voltamos para casa? Ou preferimos dizer que agora não é o momento? Não é a hora? Não queremos?

Afinal, o que somos diante desse estranho? Aliás, quem é você, estranho?

Os vagalumes brilham, as araras são eternamente fiéis...

Eu invento histórias, como se inventam os livros, como se reproduzem no cinema, busco da minha forma, o mesmo brilho dos pequenos vagalumes...

Eu quero poder ver, no escudo da noite, em meio ao gramado alto e ao som das cigarras o brilho de um vagalume peculiar...

E eu quero descobrir quem é você, estranho... Você, que surge ao acaso e parte sem ter por que...

E, sem ter por que, pintei minha vida, escrevi memórias, fiquei com a marca da partida, fiquei com as sobras da história e os reflexos da melodia...

Sabe estranho, eu sei quem é você, (você que faz o vagalume brilhar)... Mas já não mais sei o que ainda se deverá dedicar...

Já não sei, quando verei um novo vagalume, já são tempos difíceis de encontrá-los.

E a nova ortografia, diz que se escreve vaga-lume... Então, que se continue a vagar.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Coração de vidro....


Hoje percebi que na linha de produção ocorreu um grave erro. Erraram, não me colocaram um coração de vidro... Saí da fábrica com defeito, mas ninguém se deu ao trabalho de reclamar.

Perambulei pelas ruas, senti no peito algo sangrar, na boca provei do gosto amargo das dores do mundo...  Na noite passada percebi que quando você partiu fui eu quem morreu...

Pergunto-me se depois daquele dia, algum outro dia vivi? Fugi... Vivo em fuga... E diante de tantos corações de vidro, é o caminho que devo seguir... Quando ameaça sangrar é preciso apagar as luzes, deixar o som fluir o mais alto possível e torcer para que seja suficiente para ensurdecer os próprios pensamentos.

Cercada de tantos corações de vidro, o choro foi extinto, as lágrimas há muito não são denunciadas, ninguém ousa tentar e a visão tão racional é condecorada com pompas e fogos de artifício...

Mas meu coração de poeta não foi feito para honras ao mérito, medalhas na estante, flores coloridas ou aplausos da multidão... Meu coração é daquele que se aperta, que solta e aperta de novo, é do tipo que palpita, que corre e se agita, que se angustia e se alegra, é daquele que sente dor e vive em busca de saber o que é o verdadeiro amor...

Esqueceram-se do meu coração de vidro, agora sou fugitiva da polícia... Quando for pega, verão meu coração pulsar o sangue quente, correndo doce, espalhando-se pelo chão e esvaindo-se como a solidão.

“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.” (José Saramago).