terça-feira, 30 de setembro de 2014

Na noite passada...


Na noite passada eu sonhei que escrevia...
Talvez eu fizesse poesia...

Sonhei que vivia um sonho
E via páginas escritas,
E relia...

Na noite passada,
Eu sonhei que chorava
E depois ria,
E lhe via
E você sorria...

Naquela noite eu sonhei que escrevia.
Eu não sei se era poesia...

Mas depois eu acordava,
Tudo passava
E eu não esquecia...

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Em poucos minutos...


Quantas vezes eu olhei pela janela
E escrevi na poesia que o dia era cinza...
E quantas vezes eu deixei a música tocando,
Esperando que em seus poucos minutos
A vida mudasse o rumo...

E se eu pudesse saber o que, de fato,
Sou?...
E se eu soubesse
Sobre meu riso e meus livros...

Talvez
Se possa ser
Quando a música acabar,
Quando o dia cinza passar,
Quando o último verso cessar
E tudo ficar pra trás...

terça-feira, 23 de setembro de 2014

De lá...

Meu lugar não esta ocupado aqui,
E eu escondo a verdade...

Houve um dia em que eu olhava para os lados,
Que eu havia engordado,
Que eu cortava o cabelo em casa,
E que ia ao mercado de chinelo,
Eu estava feliz assim...

Nesses dias eu li pouco
Ou lia muito,
Bebia vinho no Porto na segunda-feira
E às vezes,
Tequila na terça,...

Nesses dias,
Acordava tarde,
Passava as noites em claro,
Olhando pela janela...

Era bom estar ali...

Lá era cinema italiano,
Filme francês...
Lá eu olhava para os lados e tudo era real:
As ladeiras, as bebedeiras,
Os amigos que riam e choravam,
Os sebos em becos...

Agora,
Daqui,
Eu lembro, eu penso que sonhei,
Que tudo aquilo era a Terra do Nunca,
A poesia criada nos reflexos da imaginação...

Daqui,
Na memória,
De onde tudo acontece...
Daqui,
Onde eu posso viajar
E voltar para lá...

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Depois do agora

E de repente,
Sem previsão,
Nem demora,
A angústia transborda
O medo vem sem ter hora...

E no momento que exige
A coragem se dissipa,
Vira pó...
Eu quero abrir a porta
Sair de pressa, correr e só...

Depois do agora,
Passadas as horas
Eu já nem sei se é sonho ou fantasia;
Projeto de vida ou vaidade...
Se a terra onde piso
É viagem ou realidade...

Se vou ou se fico,
Se seguro forte ou desisto,
Já não vejo nítido no horizonte
Os trilhos, o caminho...
Descaminhos...

Na garganta o gosto azedo,
É a angústia
Daquilo que não tem fala...

Eu digo não
E desfaço o castelo construído
Na areia macia.
Eu digo não,
E assopro,
O castelo de cartas cai.

Por Daísa Rizzotto Rossetto

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Enquanto eu acredito gostar de rosa...

Escuto música francesa
Enquanto acredito que tudo está bem...
Pinto as unhas de rosa,
Enquanto acredito que tudo está no lugar certo...
Que grande besteira...

Na noite passada
Sonhei que eu procurava um papel em branco
Para escrever,
E escrevia...
Mas quando amanheceu não havia nada escrito,
Nem havia papel rabiscado...

Que grande ilusão
São minhas unhas pitadas de rosa...
Que grande ilusão
São os livros que abro e finjo ler...
Que grande ilusão
São essas caixas pretas de remédio na bolsa...

Eu gosto das canções francesas,
Que por instantes me enganam
Enquanto eu finjo estar fazendo a coisa certa,
Enquanto finjo escrever poesia...
Enquanto eu acredito gostar de rosa...

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Existe uma voz que grita em mim

Existe uma voz que grita em mim,
Uma voz tão forte que sufoca,
Rouba o ar
Depois de me tornar uma vertigem...
De me fazer mudar de lugar,
De procurar uma (outra) mesa vaga no restaurante...

Mas essa voz só irá se acalmar quando
Quando eu correr pela porta de vidro
E sentir o vento frio batendo em mim...

Existe uma voz que grita em mim,
Que não escolhe datas,
Nem dia nem hora,
Mas que prefere sábados tranquilos,
Aparentemente...

Essa voz
Que torna meu corpo
Um pedaço de pano incontrolável,
Tremulante como uma bandeira,
Que sente frio e calor ao mesmo tempo,
Que depois desaba em choro,
E esquece que existe sono...

Essa voz que grita em mim,
Dizem que tem nome,
Dizem que tem receita médica,
Diagnóstico assinado,
Tratamento...

Mas eu não quero...

Talvez eu queira escutar essa voz,
Talvez eu queira tocá-la e aclamá-la
Com as minhas mãos...

Talvez eu queira sentir meu corpo respirar
Enquanto tento domar uma fera
Que me faz doentia...
Essa fera que me segura,
Que me imobiliza enquanto tento andar,
Ir em frente,
Trocar o rumo...

Talvez essa voz fique sempre aqui
Dentro de mim,
E talvez, um dia,
Próximo ou distante,
Possamos conversar melhor...

Talvez um dia a calma não seja aparente,
 E eu poderei fazer malas novamente
E ir sem medo...
Talvez um dia essa voz gritante
Torne-se silêncio,
Ou, quem sabe, talvez,
Ela deixe de gritar tão alto, tão forte...