quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Feliz Natal?



Nessa época do ano muito se gosta de falar sobre o espírito do natal, sobre as mudanças que se deseja para o ano que se aproxima...
Hoje, eu deparo-me com o verdadeiro espírito natalino: ao chegar ao abrigo de idosos, um senhor, pega sua sacola plástica, que continha algumas roupas e papéis e aguarda no portão... Logo depois fui informada que aquele senhor havia chegado ao abrigo no dia anterior, e que não querendo entrar no local, esperava na entrada na (triste) esperança de voltar para casa, uma volta nunca acontece...
Eis o espírito natalino que a massa adora invocar: prolifera-se o consumo de coisas inúteis que alimenta uma sociedade medíocre e hipócrita, com o argumento que trazer momentos felizes... Esquece-se que se houvesse realmente um sentido para o Natal, não seria esse com que nos deparamos... Cercados de coisas, pacotes bonitos, brinquedos e roupas caras, muita carne na mesa... Na televisão todos os anos é a mesma historinha que o povo gosta de ver... Todos os anos enquanto você degusta a farta ceia, muitos outros procuram no lixo algo que acalme o estômago fraco, outros morrendo de fome, muitos choram por não terem o que dar aos filhos, e no ano que segue continua o mesmo conto curto, pois o ano é só mais um número com o último dígito mudado... O planeta segue sua rota, como sempre seguiu  e os seres humanos, tendo o poder de mudar suas rotas, suas escolhas, seus caminhos, preferem viver como máquinas, repetindo o que alguém já disse, o que a televisão já disse, o que a voz do rádio já disse... Eu vejo extinto o ser humano... Eu sinto, de forma crescente as dores do mundo... E você continua dizendo a cada esquina, a cada encontro... FELIZ NATAL...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Quarta-feira...



Gosto quando o ônibus arranca,
Eu vejo a cidade pela janela,
Como o filme fotográfico da antiga máquina,
Vou passando,
Cada imagem registrada.
Sinaleira fecha...
Eu observo os carros,
Casais apaixonados que se beijam,
Outros se queixam,
Esquecendo-se que o sinal abriu...
Histórias diferentes se repetem...
Eu vou pelo meu caminho,
Carregada de livros,
Criando contos,
Poesias,
Enquanto o ônibus anda...
Enquanto alguns entram
E outros saem...
Como atores em cena,
Como o palco do Chaplin,
Como nuvens em dia de sol...
Canções acabam,
Repetem-se,
Mas sempre acabam...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

8 de dezembro...


O que você acharia se soubesse que virei vegetariana, que agora me dedico na proteção dos animais... O que você iria pensar ao saber que não serei mais a jornalista salvadora do mundo, e faço um outro curso qualquer, que mal frequento a faculdade, troco as cadeiras da universidade e prefiro ir sentar-me no bar, no meio dos fumantes...
Você não sabe, mas eu viajei como sempre quis, conheci Paris, dormi com mendigos, dormi no gramado da praça e corri pelas calçadas lisas...
Meu cabelo continua comprido, parei de dançar. Continuo amando os livros, guardo junto de mim o Canto Geral do Pablo Neruda, não deu tempo de você escrever qualquer dedicatória...
Acho que continuo sonhadora como nos nossos tempos, mas agora eu prefiro chorar sozinha, quando ninguém pode ver.
Acho que você continuaria me achando poeta, já que continuo escrevendo intensas poesias, como aquelas, de anos atrás. Como aquela que fez você chorar, sentado na cadeira, no meio da sala da rádio pirata...
Já se passaram alguns anos e você continua igual, nada, nada mudou em você... Eu envelheci, mas as marcas ainda não chegaram ao meu rosto. Minha idade mudou, a sua não irá mudar...
Eu guardo todos os momentos, como trailers do cinema... Eu lembro... E por mais que eu tente descreve-los... Eu paro, penso... Não consigo... Eu estou cansada e sinto saudade... Saudade que nunca acaba...


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Quero o poema...



Quero um poema que me encoraje
A ter leveza nas mãos,
Que me faça jogar tudo pro alto
Levantar dos bancos escolares,
Não ter medo da reprovação...
Quero um poema que me empurre,
Que me salve do repuxo,
Que seque as lágrimas dos maus...
Que cale, que fale...
Busco o poema que me faça atravessar a rodovia
Sem olhar para o lado,
Que me faça cair no lago,
Em que possa entrar no avião,
Que me faça deixar as janelas abertas...
Quero o poema
Que me traga história,
E que eu viva na contramão...
Quero o poema e o vinho,
O vizinho...
Quero o poema,
O vinho, o livro,
A solidão.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O próximo passo...



O próximo passo é esquecer os nomes,
Andar pelos corredores sem ser vista,
O próximo passo é jogar fora as calças rasgadas,
Fechar a casa,
Lavar os pratos,
Deligar o rádio...
Será hora de entregar os pães na rua,
E montar o circo,
Rabiscar a prova,
Pintar a cola...
Já é hora de encaixotar os livros,
Vestir o casaco,
Guardar as fotos, os lápis,
As tintas e as telas...
Passou do tempo de deixar na memória
Os bons sentimentos,
Promessa de outrora...
Agora,
É seguir como vento,
Sem bandeira ou lenço...
Baixar a cabeça,
Esconder as lágrimas,
As palavras...
E só partir...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Nada...


Eu poderia morrer agora,
Como um pingo da chuva que toca a terra e some...
Eu poderia morrer,
Escondendo todo o medo,
Toda a dor,
 A solidão que preferi...
Eu busquei os passos solitários
Por calçadas abarrotadas,
Eu preferi a cadeira vazias,
As mãos livres,
Os sábados silenciosos,
E o cinema sem espectadores...
Não há problema com o que está vago
E o telefone desligado...
Quanto mais olhos para os lados,
Quanto mais ouço discursos incertos
E vejo abraços falsos,
Mais prefiro o cheiro dos livros,
O latido,
O miado do gato,
O silencio do dia,
A calmaria da noite,
A parede riscada...
A poesia que não diz nada...

domingo, 27 de novembro de 2011

Poesia...



Lembranças...
Será possível sobreviver a elas?
Será possível viver delas?
Antigas histórias tão vivas,
Presente do dia...
As fotos já foram queimadas, apagadas,
Jogadas ao vento,
Sua história sempre fica...
Perdi a poesia,
Num único segundo, sumiu...
Como um bebê que nasce,
Suspira e morre,
Um único segundo que palpita,
Um único instante de vida,
Que se esvai na velocidade da luz...
Fica tudo aberto,
Janelas, portas,
As chaves foram pela janela,
A xícara de chá não quebra,
Que rumo toma a poesia?

domingo, 20 de novembro de 2011

Oi Chaplin...



"O homem é um animal com instintos elementares de sobrevivência. Por conseguinte, desenvolveu primeiramente a sua engenhosidade e só depois a sua alma. Assim, o progresso da ciência tem sido muito mais rápido do que o da conduta moral do homem."

Charles Chaplin.

sábado, 19 de novembro de 2011

Eu não sei ler...


Entre livros
Estão pratos de comida,
Refeições feitas
No silencio de palavras escritas,
Na solidão que se faz companhia bendita...
Não há ninguém em casa,
As crianças foram extintas,
E os cães pedem água...
O tempo passa,
O cabelo cresce,
Eu deparo-me, como de repente,
Ao viram a esquina,
Com antigas declarações de amor...
E como uma mal,
Eu já não entendo o que tais palavras querem dizer,
É como se escritas em grego,
E eu não sei ler...
Da arte, eu espero a resposta...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Escrever...

Como se não houvesse outro caminho:
Escrevo...
Escrevo para esquecer o mundo,
Para poder viver...
Escrevo para saber que você existe,
Que existe alguém que lembra você...
E eu não ergo mais a cabeça,
Pinto os olhos de preto,
Espero chover.
E você não vê.
Esconde-se entre as nuvens,
Surge suavemente nos dias que beiram dezembro...
Repinto os quadros,
Misturo cores,
Invento,
Logo vem o vento...
Assopra-me os pensamentos,
Tinjo,
Misturo tonalidades,
Contraste...
Destaco a sombra...
Escrevo,
Refaço-me aos pedaços,
Cresço...
Espero de novo o vento...

O começo...


Por onde eu começo?
Pelos porcos encaixotados?
Pelo cabelo cortado?
Ou pelo vidro quebrado?
Por onde prossigo?
Pelo asfalto esburacado?
Pelo barro?
Ou pelas trilhas dos cães bravos?
Fim?
Ponto final?
Estátua na praça...
Escultura excepcional...
Livros amontoados,
Xícara de chá,
Palavras dançam balé.
Dança, como o mundo girando, dançam...
E girando todos veem a mesma estrela...
E quando a estrela cadente desce, cadencia...
Eu não faço pedido,
Eu quero o pensamento livre para vê-la em queda livre,
Dançando...
Eu velo por ela,
E enquanto paro,
Os outros continuam estocando galinhas
E venerando brinquedos de plásticos...
Eu continuo rodando,
Girando palavras que não param...
Param...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Rousseau e o Guarda...


Depois do descanso, da noite de sono, é hora de entregar ao papel as lições que há tempo esperavam, como paradas na esquina.
Chá quente e chove lá fora... Chove enquanto lembro-me do dia quente e de sol forte onde logo cedo, descubro no guarda as lições que li em Rousseau... Sim, enquanto muitos se perdem em livros e mais livros para ter algum ensaio sobre o comportamento humano, descubro na conversa de cinco minutos com o guarda os maiores ensinamentos do comportamento do homem.
Meus livros não perdem meu apreço por isso, jamais perderá... Mas os trilhares da vida, as conversas nos bares, o bom dia da faxineira, o até logo da costureira, o guarda, aí estão as melhores lições, àquelas que os mestres guardaram em obras, as mesmas a que nos debruçamos e referenciamos, com todo o respeito que merecem.
Mas aquele guarda, sem ler Rousseau, ou qualquer outro sábio, já dizia: o homem não se preocupa, não toma cuidado consigo mesmo, e por isso perde o respeito com os outros. É por isso que o mundo está assim, por não se reconhecer em si, não se reconhece no outro.
Assim meu dia foi salvo, e naquela conversa de cinco minutos eu tive o resumo de Rousseau, das horas em que estive debruçada sobre suas palavras.

domingo, 6 de novembro de 2011

O vinho...


Vinho para beber-se em noites frias,
Entre filosofias,
E na pausa dos beijos...
O vinho que bebo para brindar o esquecimento,
Brindo pela paixão não vinda,
Que seja sempre bem vinda...
E que venha o vinho,
E que esteja comigo e com páginas de livros,
Poesias dos boêmios bêbados...
 E que se beba o brinde dos deuses,
Dos pensadores loucos,
Dos apaixonados...
Que venha o tilintar de taças,
Como parte da canção que toca ao lado,
Que venha acompanhar o futuro,
O presente,
O passado já passado...
O vinho que não bebo
Para recordar o que não é esquecido.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Crônica da noite...



Depois de um dia ruim, já não há expectativa... Você acha que continuará sentada escutando as mesmas coisas de sempre, fazendo o maior sentido sempre... E você acha que irá pra casa como qualquer dia, carregada de livros, com o peso do cansaço nas costas...
Mas ai, pessoas que usam all star, blusas listradas e óculos na cara te param, carregam livros, literatura vida. E você resolve mudar o caminho... E no andar da trilha escura o assunto é um só: personagens, páginas, palavras, linhas, frases... Ai aquilo que chamamos de literatura, ganha vida e nós a movimentamos em nossas bocas que não se cansam de falar...
Entre um gole e um amendoim, entre a fumaça do cigarro e o frescor da noite entrelaçamos Victor Hugo, Dostoiévski, Jane Austen, Érico Veríssimo, Anne Frank, Dante Alighieri e Alexandre Dumas. Imaginamos o clube de leitura de Jane Austen, e bebemos mais um pouco... Bebemos para homenagear aqueles que dão sabor aos nossos dias, que narram nossas histórias, que dão graça a dias cinzentos e nublados.
Bebemos e brindamos pela arte, pela nossa arte de largar a sala e descobrir conhecimentos que vão além, aquele conhecimento que nos leva muito além... E depois podemos seguir, para mesmo parada de ônibus, pegar o mesmo transporte, chegar em casa, jantar e tomar banho, como sempre se faz. Mas hoje algo é diferente... A mágica das palavras sempre nos torna diferente.

domingo, 30 de outubro de 2011

Primeira vez...



Copo na mão,
O pensamento é um tufão,
As noites são devoradas por tubarões...
Cabeça no travesseiro,
Rotação...
Sol na janela e eu prefiro a escuridão,
Leio com a luz dos olhos,
E quando fecho o livro,
Fecho os olhos e marco as páginas...
A vida é um conto mal contado,
É invenção lunática,
Um vai e vem que não vem...
E a primeira vez,
Poder ser a última também...
Sem romantismo,
Ou perfume de rosas,
A sina é navegar pelo mar bravo...
E seguir como a primeira vez,
Apenas pela primeira vez.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Trem para a lua...



Estou à espera do trem que vai para a lua...
As flores continuam na janela
E o cachorro continua caminhando na chuva,
Vai atrás de seu dono sem pressa.
Eu espero,
Enquanto a vela apaga,
A chuva passa,
E as ruas continuam molhadas...
Espero,
E as árvores cantam ao ritmo do vento,
No compasso dos passos do all star velho,
Sujo...
Espero o trem,
Sento na calçada,
Ultima página do livro,
Ultimo dia de escola...
Pega a mochila, o caderno,
E assopra...
Está chegando,
Já é hora,
Ao longe ouço o trem,
Os vagões param...
E a gente nunca embarca...
É o ultimo trem para a lua...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pra não entender...



Ideias em meu quatro
Trancafiadas como os diários...
Eu divago entre latidos,
Adormeço como os esquecidos,
Nas ruas, nas calçadas,
Na praça...
Não há porque entender a letra da música,
Não há o que interpretar na poesia,
Não tente compreender os poetas...
Deixo-os degustar todo o sangue amargo do mundo,
Deixo-os caídos na sarjeta,
Entorpecidos pela noite,
Alcoolizados no boteco...
Deixe-os carregar a desgraça,
Eles a levam de graça...
Deixe-os enquanto os ETs seguem andando...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

É isto um homem?



A feira do livro de Caxias acabou no domingo. E tenho que admitir que fiquei  bastante decepcionada este ano, ao procurar por TODAS as bancas, sem alcançar êxito, o livros Os Miseráveis, um clássico da literatura. O qual quero muuuuito ler!
No entanto eu ainda fiz algumas comprinhas na feira. Além do “O apanhador no campo de centeio” (falado em post anterior), ainda comprei “Os devaneios de caminhante solitário” e “É isto um homem?”.
E é sobre este livro que quero dedicar um posto.
A dica veio de um professor da faculdade, que me vendo cada dia com um novo livro, resolveu indicar-me a obra de Primo Levi. Eu mais que prontamente, fui à procura, achei. E no final de semana o li.
Surpreendente... triste mas surpreendente o relato dos dias de um homem nos campos de concentração. Ali ele conhece outros homens que foram separados de suas esposas e filhos, que agora passam fome e frio, onde a grande maioria acaba morrendo.

Primo Levi sobreviveu e relatou seus dias cinzentos:

"Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer "infinito.”” (p.15)

“(...) – pois quem perde tudo, muitas vezes perde também a si mesmo; transformando em algo tão miserável, que facilmente se decidirá sobre sua vida e sua morte, sem qualquer sentimento de afinidade humana, na melhor das hipóteses considerando puros critérios de conveniência. Ficará claro, então, o duplo significado da expressão “Campo de Extermínio”, bem como o que desejo expressar quando digo: chegar no fundo.” (p. 25)

“Fechem-se entre cercas de arame farpado milhares de indivíduos, diferentes quanto a idade, condição, origem, língua, cultura e hábitos, e ali submetam-nos a uma rotina constante, controlada, idêntica para todos e aquém de todas as necessidades; nenhum pesquisador poderia estabelecer um sistema mais rígido para verificar o que é congênito e o que é adquirido no comportamento do animal-homem frente à luta pela vida.” (p. 88)

Essa é a dica de hoje...
Boas leituras!




domingo, 16 de outubro de 2011

Fim



Não conte a ninguém,
Estou escrevendo um livro
E este é o nosso segredo...
Não conte a ninguém,
Durante a semana revirei a cidade,
Sem achar o folheto desejado.
O livro preferido tem as páginas limpas e brancas,
De capa dura
E personagem algum...
Fim de utopias e sonhos,
Términos da guerra e das revoluções...
Acho que não há mais página no livro...
As calçadas tornaram-se lisas,
Não há mais degraus,
As escadas desmoronaram...
O caminho é plano e sem curvas...
E parece-me que os dias agora são cinza,
As paixões acabaram,
As vozes silenciaram,
O violão é mudo
E a tinta da caneta secou.

Baralho de cartas...


Baralho de cartas,
Cartas rasgadas,
Roupas manchadas,
Livros empoeirados das estantes
Da biblioteca interditada,
Nas vidas banalizadas...
De noite faz frio
E de dia também faz...
Poesias são ditas,
Malditas palavras jamais esquecidas...
Vejo os olhos que não vejo,
Ouço a voz no silêncio.
Pés na estrada,
O véu arrasta no chão,
Par não há...
Faz sol,
O vento é ainda mais forte...
Seguimos só,
Seguimos no ritmo da canção do palhaço,
Que pinta no rosto a alegria mentirosa...
Deixa jogado a mesa os bilhetes de outrora...
Seguimos,
Como uma conversa a sós,
Sem conclusão ou soluções...
Soluços e só.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Do Prêmio Nobel


PÁSSAROS MATINAIS (1966)
Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.

Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.

Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.
Thomas Tranströmer

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

27ª Feira do Livro de Caxias do Sul

Hoje estive olhando a programação da Feira do Livro de Caxias do Sul e de repente lembrei-me da Feira do livro de Coimbra, que foi muito boa, com algumas compras e companhias bem especiais...
Então, nada mais junto que partilhar aqui no blog, o andamento da 27ª Feira do Livro de Caxias do Sul, que abriu na última sexta-feira e que, antes mesmo de ser dada a abertura oficial eu já tinha feito a minha primeira aquisição literária da feira.
O livro escolhido foi O Apanhador no Campo de Centeio, obra esta que já li, mas que, estando na promoção valia a pena e, ainda porque queria muito essa obra na minha “biblioteca”.
Todavia, não estou liderando o ranking não... O Murilo superou...
Mas enfim... Valeu pela companhia dos meus queridos amigos Jéssica, Larissa e Murilo...



E a Feira só está começando... Logo logo mais notícias da Feira... 

sábado, 1 de outubro de 2011

Na hora do jantar...


É na hora do jantar, quando todos estão em silêncios, nos seus ruídos alimentares, enquanto bebo meu café forte e quente, que me lembro daquelas tardes de verão quente...
Beira do mar, cerveja na mão, fugindo do sol queimante, óculos escuros, calça jeans, tênis... Crer no inacreditável, fazer-se convencer naquilo que não era esperado, tornar a brincadeira a realidade do dia, levantar, caminhar, abraçar... Acreditar em histórias de amor, por algumas horas, mas acreditar.
Enquanto recolho a mesa, e guardo o alimento que amanhã será reposto, eu refaço aqueles dias na mesma calmaria que escolho livros. Ao recordar faço-a sem dor, sem arrependimento ou amor, sem paixão ou desilusão...
As noites que vieram eram noites prontas, já estavam definidas como a cor a ser usada no ano novo. Escrever memórias e amor que não existia eu sabia que assim seria. O fim da história já havia sido lido, eu só não recordava. Eu continuava adormecida.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Blá blá blá


Dormi na praia,

Modelei a areia com as voltas do meu corpo,

 Dei outras voltas

E vi a noite transformando-se em dia

Na cidade que flutuava,

Sentei-me enrolada no cobertor

E disse não ao ofertarem-me um cigarro...

Vi o mundo girar,

Esperei na porta até cansar

E perceber que você não ia chegar...

Peguei a mochila,

Segui, enquanto abanava-lhe cada vez mais distante...

Todos os dias eu volto à janela,

 Descrente da minha crença eu espero...

Inerte no silencio,

Nas juras descumpridas,

No pôr-do-sol nunca visto,

Bons dias que nunca chegaram...

As dúvidas coroem-me como

Traças acabando com os livros da estante,

Mas eu não olharei para trás,

Não lhe farei voltar...

Vou estar aqui,

No banco,

Vendo as  folhas verdes brotarem,

Estarei aqui,

Guiando o pião,

Fazendo-o nunca mais parar de rodar.