Depois da tragédia, enquanto muitos proclamavam
o que juravam sentir, eu preferi o silencio da reflexão, do pensamento em
ordem, do respeito aos que foram sem dizer adeus, aos que foram divertir-se e
acabaram pisoteados, espalhados pelo chão...
Então eu segui por alguns dias rabiscando na
mente, viajando e tentando organizar o que eu estava guardando no peito, pensando
e repensando a cerca do teatro montado na rua, no lugar público, entre os que
choram e os curiosos insensatos...
A mídia finge que se importa, o jornalista
interroga e não se incomoda com quem se incomoda com os descaminhos da vida,
não conforta quem responde sob lágrimas quentes a respeito do filho que não
retornou a ligação. A notícia já vem remastigada, degustada e digerida, cedo e a
toda hora. Em todos os canais da televisão e do rádio alguém comenta, alguém
julga e o sensacionalismo banaliza o sofrimento...
E para
os desconhecidos que proclamam o sofrimento, só posso me aperceber e confessar
para o papel que acolhe, que essa “dor”, esse “sofrimento” irá se dissipar na
mesma intensidade que se dissipa o interesse de informar. E se dissipará na
mesma intensidade em que o ibope para de aumentar e quando logo surge outro
escândalo, outra tragédia, outra exploração do sofrimento alheio em que todos,
novamente, poderão se importar e irão se revoltar...
Porque o sofrimento da mãe, do pai, da
namorada que fica, do irmão sem companheiro de quarto, do amigo que confidenciava
essa é a dor que jamais dissipa, que o tempo não acaba, que é o “para sempre” para
sempre e que não é pela metade. Porque para quem perde, não importa a forma: se
foi no acidente de carro ou atropelado na calçada, na tragédia que ganha
repercussão internacionais, ou da doença que se faz mais forte. Perder quem se
ama não deixa muitas alternativas, deixa lágrimas e lembranças que nunca terminam,
que nunca deixaremos terminar. E sabendo o que significa perder aqueles que
amamos (e que se amará para sempre) é que me calo e respeito, opto por não
vulgarizar o aperto que se sente no peito, nem pretendo subestimar os caminhos
da morte.
Solidariedade interesseira não é necessária,
sofrimento proclamado ao vento nem sempre é sofrimento, às vezes a densidade da
dor fica a mercê do silencio, sem ato, mas existindo de fato... Enquanto a mídia
busca dinheiro... Enquanto o ser humano especula o sofrimento alheio...