Vesti um jeans surrado, fechei a porta e sai...
Naquele sábado o que planejei durante dias eu fiz...
Era sábado, o sol radiava, era quente e as ruas
estavam tomadas por gente andando de lá para cá...
Era sábado, atravessamos duas cidades, rimos pelo
caminho, sentamos no muro.
E sentados observamos mais gente indo e vindo e
crianças rindo e bebês dormindo. E sentados no muro, olhei para trás a casa
fechada, vazia na fachada, talvez abandonada. E olhamos à nossa frente e, como
se não houvesse mais nada para observar, notamos o que toda aquela gente estava
vestindo. E quantas calças bordô nós vimos!
Sentados no muro rente a rua de trepadeiras e folhas que
amarelavam sob nossas cabeças e caiam a gente toda de aglomerava.
Depois de notar tanto ao redor, a música começou.
Levantamos, eu e ele, fomos para o outro lado, acabamos no meio de toda aquela
gente que cantava junto comigo. Mas havia outro tanto daquela gente que não
cantava, mas sorriam enquanto tiram fotos sem fim. Só pararam quando a música
também parou...
No meio da multidão eu não pensei no ombro doendo com
o peso da bolsa, nem me dei ao trabalho de pensar na possibilidade de pânico.
Ali, no meio de tanta gente eu cantei todas as músicas que sabia, tentei cantar
auto até conseguir ouvir minha própria voz. E as que eu não sabia eu me fiz
escutar, enquanto me balançava de um lado para o outro no ritmo de cada nova canção.
Em cada canção, em cada som feito entre violão, piano
ou batuque eu recordava um pouco da vida, eu sentia um pouco de fé, de
esperança falada com rima feita de música para os meus ouvidos...
Eu cantei, não me preocupei com fotos. Eu cantei e
quase levantei as mãos...
Naquela tarde de sábado ensolarado, quando eu estava
no meio de tanta gente que cantava a mesma letra que eu, eu notei a trepidação
em mim em pensar o que é viver o que se é, em ter a arte como profissão seja
ela qual for.
Agora, depois de um sábado ensolarado, eu escrevo e
escrevendo percebo o que é viver a sua arte, eu percebo o que é viver sendo e
fazendo o que se é...
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