Era madrugada, o sono se dissipava no
ar, ela trocava de canal, não procurava por nada, divagava. O vinho da taça havia
acabado. Continuava com os olhos bem abertos e com resquícios de maquiagem em
seu rosto.
Naquela madrugada, depois de um fim de
tarde chuvoso, ela voltou a ser quem ela era, desperta na madrugada, procurando
quem ainda andaria por aí, dando também.
Achou um filme já visto, baseado num
livro já lido. Enquanto a história transcorria como, pensou que, talvez, as
fotos não fossem apenas recordações, não fosse apenas memórias do passado. As
fotos eram pedaços de sentimentos que não se apagaram nas fotos e que estariam
guardados em uma caixa para que fosse possível seguir o futuro, mas incapaz de
serem descartadas, ficavam escondidas em uma caixa, em algum lugar da casa.
Ela estava em silêncio, em frente à TV,
ao acaso da programação, vendo um filme já visto, um simplório romance
adolescente, mas que lembravam tanto dela, tanto aquela adolescência solitária,
de livros proibidos pela sua fragilidade, de crises e dramas, cheia de um amor
interrompido, levado as pressas.
Pensou em sua máquina de escrever jogada
num canto, pensou nas fotos que, tinha certeza, não rasgaria nem jogaria no
lixo. E pensou uma vez mais nos retalhos de sentimentos que ficaram e que não
mudariam, mesmo quando tudo já houvesse mudado. Mesmo quando houvesse silêncio
demais, desaparição demais quanto aos resquícios do que havia passado.
Pegou o filme pela metade, a cena em que
dançam juntos havia passado...
Desligou a TV, foi escutar música em
volume baixo... Sem medo da noite, da janela de vidro, ou do silencio de estar
só, ela voltava a ser o que era, o que jamais deixaria de ser.
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