segunda-feira, 2 de março de 2015

Era madrugada e ela trocava de canal...


Era madrugada, o sono se dissipava no ar, ela trocava de canal, não procurava por nada, divagava. O vinho da taça havia acabado. Continuava com os olhos bem abertos e com resquícios de maquiagem em seu rosto.
Naquela madrugada, depois de um fim de tarde chuvoso, ela voltou a ser quem ela era, desperta na madrugada, procurando quem ainda andaria por aí, dando também.
Achou um filme já visto, baseado num livro já lido. Enquanto a história transcorria como, pensou que, talvez, as fotos não fossem apenas recordações, não fosse apenas memórias do passado. As fotos eram pedaços de sentimentos que não se apagaram nas fotos e que estariam guardados em uma caixa para que fosse possível seguir o futuro, mas incapaz de serem descartadas, ficavam escondidas em uma caixa, em algum lugar da casa.
Ela estava em silêncio, em frente à TV, ao acaso da programação, vendo um filme já visto, um simplório romance adolescente, mas que lembravam tanto dela, tanto aquela adolescência solitária, de livros proibidos pela sua fragilidade, de crises e dramas, cheia de um amor interrompido, levado as pressas.
Pensou em sua máquina de escrever jogada num canto, pensou nas fotos que, tinha certeza, não rasgaria nem jogaria no lixo. E pensou uma vez mais nos retalhos de sentimentos que ficaram e que não mudariam, mesmo quando tudo já houvesse mudado. Mesmo quando houvesse silêncio demais, desaparição demais quanto aos resquícios do que havia passado.
Pegou o filme pela metade, a cena em que dançam juntos havia passado...
Desligou a TV, foi escutar música em volume baixo... Sem medo da noite, da janela de vidro, ou do silencio de estar só, ela voltava a ser o que era, o que jamais deixaria de ser.

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