Não teria outro jeito de eu viver
se não fosse escrevendo. Não que eu tenha algo a dizer, não que eu saiba
escrever, não que eu tenha em mim enredos perfeitos, bem estruturas e
personagens bem delineados. Não, não é nada disso...
É só porque, no fim, eu tenho
muita coisa, que dia após dia, eu gosto de relembrar. E as vezes, - nos últimos
tempos, mais do que antes - eu vou atrás de ler o que você já escreveu por aí e
nem lembra mais e nunca mais releu.
Será que eu li o livro todo? Ou deixei
alguma vírgula para trás? Porque depois da volta tudo ficou pela metade e cada
um seguiu com a sua...
Me perguntei agora se ainda sorrio
da mesma forma de quando você me conheceu. Mas você parou de escrever e talvez
eu tenha parado de sorrir tão facilmente como antes, quando sentávamos no deque
e víamos o sol se afastar ao longe.
Vivi dias felizes e vivi cada
segundo mesmo que, talvez, agora eles pareçam que tenham sido pela metade e,
por hora, eu gostaria de ter essa outra.
Talvez hoje nossas conversas
fossem completamente diferente. Você estaria preocupado com o futuro e eu
estaria, ainda, preocupada em saber o que vou fazer da vida. Porque eu não sei.
Talvez, poderíamos ter conversado do muro, de costas para o rio, sob as árvores
com folhas verdes...
Tudo muda, tudo muda o tempo todo
e eu não tenho o que lamentar, mas aqui sentada, de frente a janela e com os
pés gelados de frio eu preciso encontrar uma forma de vida, de sobrevida. Eu a
descubro enquanto escrevo, enquanto busco sinais que até agora não chegaram. E
eu me pergunto onde estarão os brincos, as cartas de baralho, nossos semblantes
tão parecidos e tão serenos da fotografia...
Eu me pergunto se ainda escuta aquelas
músicas, se existe algo de nós... Em nós...
Não se preocupe, o que eu espero é
que você esteja verdadeiramente feliz... Porque um dia, talvez, seja preciso
ler o livro uma segunda vez para entender o parágrafo...
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