sexta-feira, 6 de março de 2015

A letra.


Minha letra não é bonita de se conhecer. Mas trago nas mãos o “sentimento do mundo” e quando chego ao papel em branco, cheio de interrogações, exclamações e três pontos, eu transbordo.
Minha letra não é bonita, mas não importa... Ainda sou capaz de escrever, numa letra que poderia ser chamada de garrancho... E depois, ainda, talvez seja compreensível de ler.
Ninguém mais conhece letra alguma, nem de forma, nem discursiva. Eu guardo o pouco que tenho de quem, a mim, já tenha escrito à mão, como um trabalho artesanal, como algo especial. E é bom tocar a letra de alguém, com a ponta dos dedos e sentir as ondas no papel feitas pela força da mão formando letras.
Minha letra não é bonita, mas gosto de fazê-la com caneta azul, gosto de apontar o lápis e escrever... Minha letra não é bonita...
Mesmo tendo feito muita caligrafia, minha letra não é bonita, nem conhecida. Ninguém mais conhece a letra de ninguém...
Talvez um dia escreverei um livro chamado A letra... Sobre tanta letra desconhecida, sobre tantos traços que guardo, sobre tantas ondas feitas em papel dobrado. 

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