Se já
escolhemos a trilha sonora, desligamos a TV e fechamos o livro, abrimos a
garrafa de vinho e temos nas mãos o par de taças, acho que já podemos começar
mais uma divagação. Sim, pois andei pensando, nesses dias em que finalizo as
obrigações e lá fora o tempo fecha, como se pronto para entregar-se aos meus
infinitos pensamentos, como se juntos pudéssemos nos entregar a todas as nossas
duvidas e dívidas... Quantas divindades, juntos, nós não enganamos, quando voos
não esperamos, quanta chuva e quanto sol não proclamamos...
Quanto não
enganamos, sabe porquê? Porque como o tempo eu coordeno meus sonhos e nos
momentos que creio, alço meu voo sem esperar pelas falas vagas e as moralidades
falsas daqueles que só esperam a próxima oportunidade para lançar o veneno,
mediocridade barata...
Sabe o que
acontece, eu não espero saber o que foi lido, eu vasculho os esquecidos e
escolho entre os escolhidos, eu não gosto de gostar do que o todo gosta. Eu não
espero saber do filme nem suas opiniões, eu gosto mesmo é de viver assim, por
mim, comigo, eu vivo sem fim. Eu não imito, nem mímico, eu não gosto de cópias,
eu me invento e me transvisto, eu vivo ao meu estilo e no meu destino... Eu
crio, me crio e no meu cenário sou eu quem pinta. E de discípulos eu não
preciso.
Eu sou
apenas a miragem daquilo que existe, pois de tanto escolher outros caminhos
faço-me, agora, invisível, não existo para a civilização feita de copia e cola,
a civilização feita de produção em escala... Quem sabe, eu seja a revolta, na
verdade eu sou apenas uma cópia falha, deu errado e foi jogada fora...
Pode ser que
eu seja o coringa do baralho, bobo da corte, que acaba por rir das palhaçadas
da história. E para quem reclama da
falta de autenticidade eu só posso reclamar ao silêncio da falta de espelho, da
falta do olho que olha para dentro...
E agora eu
volto para Sartre ou Saramago (e a taça de vinho), eu vou pensar em nada e vou
concluir que eu sou o próprio nada, que engana quem pensa que existo, sou
apenas a cópia falha que não reclama autenticidade, pois sabe para onde está
indo (ou não), que sem medo sabe inventar um lugar distinto e não depende daqueles
que querem se fazer ditos, sabe que não engana e segue seu próprio e único
caminho.
Pois, eu não quero ser o que eu não sou....
Nenhum comentário:
Postar um comentário