domingo, 9 de setembro de 2012

Da usina.


Passei o dia jogada no sofá e entre as páginas de um livro, um filme e uma xícara de café, desligada do mundo eu pude, silenciosamente, reproduzir e fabricar as memórias da semana.
E não, não vou dramatizar ou chorar, aos berros, tudo que poderia ter sido e não foi, tudo que poderia ter sido e não é...
E, sabe mais, a vida não é o filme, o filme é que é a vida. E do passado não se morre mais, e de futuro não somos nada e o melhor é não questionar.
E abrindo a porta e caminhando para vida real, eu conversei com um garoto (bonito) sobre jogos virtuais, eu tive que esperar o ônibus chegar, enquanto comia qualquer porcaria, e enquanto todos dormiam, eu ouvia, e teve trocas de olhares que se perderam. E na vida real, fui assaltada pelo jovem apavorado que pedia ajuda depois do assalto, o que poderíamos dar era o adeus ao seu computador ou ao celular, polícia que não chega e nós não podemos ir atrás. O melhor foi ir para um bar qualquer, pedir cem vezes por um cardápio sem carne. E sem bebida, podíamos rir ser medida dos nomes dos filhos que não vou ter, mas que, certamente, vocês, um dia, irão ter.
E na vida real, ao chegar em casa, ninguém me esperava e na rua o cão latia e eu simplesmente adormecia, depois de um copo de água e banho quente. Mentira, eu deitava e não crescia, eu ficava ali, imaginando uma outra versão da mesma vida, eu ia inventando contos, dirigindo o filme da minha vida, e assim, agora sim, depois de um tempo eu adormecia...
E eu não adormecia só, passava a noite nas minhas próprias utopias, na carta de alforria que eu espero pelos animais, uma imaginação que fluía e eu não sonhava com loucos beijos, ou com qualquer apaixonado, nem amores esperados... Não há coração despedaçado, nem legumes no forno, assados.
Acabei por comprar uma usina de nuvens, e posso, a qualquer momento, parar e ver os personagens da minha história, eu consigo ver cada capítulo, cada tomada, cada pedaço, ali, flutuando e passando ao desejo e força do vento.
Estarei sentada por algumas horas, observando o trabalho da usina, não estou preocupada com chegadas, já passou o tempo, eu estou sentada, livros ao lado, o copo, um gramado gelado, e as nuvens contando a verdade.  
Se resolver chegar, não bata na porta, estará aberta e ninguém por esperar.

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