domingo, 30 de outubro de 2011

Primeira vez...



Copo na mão,
O pensamento é um tufão,
As noites são devoradas por tubarões...
Cabeça no travesseiro,
Rotação...
Sol na janela e eu prefiro a escuridão,
Leio com a luz dos olhos,
E quando fecho o livro,
Fecho os olhos e marco as páginas...
A vida é um conto mal contado,
É invenção lunática,
Um vai e vem que não vem...
E a primeira vez,
Poder ser a última também...
Sem romantismo,
Ou perfume de rosas,
A sina é navegar pelo mar bravo...
E seguir como a primeira vez,
Apenas pela primeira vez.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Trem para a lua...



Estou à espera do trem que vai para a lua...
As flores continuam na janela
E o cachorro continua caminhando na chuva,
Vai atrás de seu dono sem pressa.
Eu espero,
Enquanto a vela apaga,
A chuva passa,
E as ruas continuam molhadas...
Espero,
E as árvores cantam ao ritmo do vento,
No compasso dos passos do all star velho,
Sujo...
Espero o trem,
Sento na calçada,
Ultima página do livro,
Ultimo dia de escola...
Pega a mochila, o caderno,
E assopra...
Está chegando,
Já é hora,
Ao longe ouço o trem,
Os vagões param...
E a gente nunca embarca...
É o ultimo trem para a lua...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pra não entender...



Ideias em meu quatro
Trancafiadas como os diários...
Eu divago entre latidos,
Adormeço como os esquecidos,
Nas ruas, nas calçadas,
Na praça...
Não há porque entender a letra da música,
Não há o que interpretar na poesia,
Não tente compreender os poetas...
Deixo-os degustar todo o sangue amargo do mundo,
Deixo-os caídos na sarjeta,
Entorpecidos pela noite,
Alcoolizados no boteco...
Deixe-os carregar a desgraça,
Eles a levam de graça...
Deixe-os enquanto os ETs seguem andando...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

É isto um homem?



A feira do livro de Caxias acabou no domingo. E tenho que admitir que fiquei  bastante decepcionada este ano, ao procurar por TODAS as bancas, sem alcançar êxito, o livros Os Miseráveis, um clássico da literatura. O qual quero muuuuito ler!
No entanto eu ainda fiz algumas comprinhas na feira. Além do “O apanhador no campo de centeio” (falado em post anterior), ainda comprei “Os devaneios de caminhante solitário” e “É isto um homem?”.
E é sobre este livro que quero dedicar um posto.
A dica veio de um professor da faculdade, que me vendo cada dia com um novo livro, resolveu indicar-me a obra de Primo Levi. Eu mais que prontamente, fui à procura, achei. E no final de semana o li.
Surpreendente... triste mas surpreendente o relato dos dias de um homem nos campos de concentração. Ali ele conhece outros homens que foram separados de suas esposas e filhos, que agora passam fome e frio, onde a grande maioria acaba morrendo.

Primo Levi sobreviveu e relatou seus dias cinzentos:

"Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer "infinito.”” (p.15)

“(...) – pois quem perde tudo, muitas vezes perde também a si mesmo; transformando em algo tão miserável, que facilmente se decidirá sobre sua vida e sua morte, sem qualquer sentimento de afinidade humana, na melhor das hipóteses considerando puros critérios de conveniência. Ficará claro, então, o duplo significado da expressão “Campo de Extermínio”, bem como o que desejo expressar quando digo: chegar no fundo.” (p. 25)

“Fechem-se entre cercas de arame farpado milhares de indivíduos, diferentes quanto a idade, condição, origem, língua, cultura e hábitos, e ali submetam-nos a uma rotina constante, controlada, idêntica para todos e aquém de todas as necessidades; nenhum pesquisador poderia estabelecer um sistema mais rígido para verificar o que é congênito e o que é adquirido no comportamento do animal-homem frente à luta pela vida.” (p. 88)

Essa é a dica de hoje...
Boas leituras!




domingo, 16 de outubro de 2011

Fim



Não conte a ninguém,
Estou escrevendo um livro
E este é o nosso segredo...
Não conte a ninguém,
Durante a semana revirei a cidade,
Sem achar o folheto desejado.
O livro preferido tem as páginas limpas e brancas,
De capa dura
E personagem algum...
Fim de utopias e sonhos,
Términos da guerra e das revoluções...
Acho que não há mais página no livro...
As calçadas tornaram-se lisas,
Não há mais degraus,
As escadas desmoronaram...
O caminho é plano e sem curvas...
E parece-me que os dias agora são cinza,
As paixões acabaram,
As vozes silenciaram,
O violão é mudo
E a tinta da caneta secou.

Baralho de cartas...


Baralho de cartas,
Cartas rasgadas,
Roupas manchadas,
Livros empoeirados das estantes
Da biblioteca interditada,
Nas vidas banalizadas...
De noite faz frio
E de dia também faz...
Poesias são ditas,
Malditas palavras jamais esquecidas...
Vejo os olhos que não vejo,
Ouço a voz no silêncio.
Pés na estrada,
O véu arrasta no chão,
Par não há...
Faz sol,
O vento é ainda mais forte...
Seguimos só,
Seguimos no ritmo da canção do palhaço,
Que pinta no rosto a alegria mentirosa...
Deixa jogado a mesa os bilhetes de outrora...
Seguimos,
Como uma conversa a sós,
Sem conclusão ou soluções...
Soluços e só.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Do Prêmio Nobel


PÁSSAROS MATINAIS (1966)
Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.

Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.

Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.
Thomas Tranströmer

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

27ª Feira do Livro de Caxias do Sul

Hoje estive olhando a programação da Feira do Livro de Caxias do Sul e de repente lembrei-me da Feira do livro de Coimbra, que foi muito boa, com algumas compras e companhias bem especiais...
Então, nada mais junto que partilhar aqui no blog, o andamento da 27ª Feira do Livro de Caxias do Sul, que abriu na última sexta-feira e que, antes mesmo de ser dada a abertura oficial eu já tinha feito a minha primeira aquisição literária da feira.
O livro escolhido foi O Apanhador no Campo de Centeio, obra esta que já li, mas que, estando na promoção valia a pena e, ainda porque queria muito essa obra na minha “biblioteca”.
Todavia, não estou liderando o ranking não... O Murilo superou...
Mas enfim... Valeu pela companhia dos meus queridos amigos Jéssica, Larissa e Murilo...



E a Feira só está começando... Logo logo mais notícias da Feira... 

sábado, 1 de outubro de 2011

Na hora do jantar...


É na hora do jantar, quando todos estão em silêncios, nos seus ruídos alimentares, enquanto bebo meu café forte e quente, que me lembro daquelas tardes de verão quente...
Beira do mar, cerveja na mão, fugindo do sol queimante, óculos escuros, calça jeans, tênis... Crer no inacreditável, fazer-se convencer naquilo que não era esperado, tornar a brincadeira a realidade do dia, levantar, caminhar, abraçar... Acreditar em histórias de amor, por algumas horas, mas acreditar.
Enquanto recolho a mesa, e guardo o alimento que amanhã será reposto, eu refaço aqueles dias na mesma calmaria que escolho livros. Ao recordar faço-a sem dor, sem arrependimento ou amor, sem paixão ou desilusão...
As noites que vieram eram noites prontas, já estavam definidas como a cor a ser usada no ano novo. Escrever memórias e amor que não existia eu sabia que assim seria. O fim da história já havia sido lido, eu só não recordava. Eu continuava adormecida.