Estava numa caixa de vidro, perdida numa rua qualquer, parecia ser outro mundo... Os carros eram iguais, mas o dia fazia-se outro mundo...
Chuviscava, eu não percebia, mas pouco a pouco eu ficava mais molhada, com gosto de terra. Parecia um cão quando foge e tenta voltar para casa... Assim estava eu quando, de repente, a canção ou a página do livro, não sei, abriu o baú das recordações...
Eu evito, fujo, corro pelo asfalto, subo o morro, fico olhando as folhas que caíram na estação passada... O esquecimento lembra-me daquilo que foi, daquilo que agora quero que se enterre, que fique empoeirado ou que fique esquecido como os móveis por baixo dos lençóis da casa abandonada.
Eu não amo, nem nunca amei você, o que existe, eu não sei... Sei que lhe tenho entre os sonhos, entre os cenários, em outros países, outros idiomas... Tenho-lhe entre a chuva e entre as esperanças que se foram, tenho-lhe entre as ilusões novas e antigas...
Não há porque se preocupar, eu sou a sombra do vento, sou páginas de livros e canções nostálgicas... Não sou aquela que lhe fará pegar o voo, nem para quem se ajoelhará, nem aquela que amará...
Sonhos? Tem-se? Não... Escrevo por que foi o caminho que escolhi, o caminho que traço como traça os cabelos da criança...
Não há mais beijos, abraços, olhares, promessas em mim. O romantismo da vida fica nos filmes que vejo nas madrugadas escuras... Sei por aonde vou, conheço o sabor das lágrimas. E amanhã não sei o que será, sei o que não haverá... Você continua ali ou lá...
E as histórias que alimento, que relembro, eu começo a achar que não passam de construções da minha imaginação... Elas nunca existiram e você nunca existiu... Foi apenas o romance, novela que na TV não passou.
O Metrô que chegou, hora de seguir e esquecer...
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