terça-feira, 27 de setembro de 2011

Blá blá blá


Dormi na praia,

Modelei a areia com as voltas do meu corpo,

 Dei outras voltas

E vi a noite transformando-se em dia

Na cidade que flutuava,

Sentei-me enrolada no cobertor

E disse não ao ofertarem-me um cigarro...

Vi o mundo girar,

Esperei na porta até cansar

E perceber que você não ia chegar...

Peguei a mochila,

Segui, enquanto abanava-lhe cada vez mais distante...

Todos os dias eu volto à janela,

 Descrente da minha crença eu espero...

Inerte no silencio,

Nas juras descumpridas,

No pôr-do-sol nunca visto,

Bons dias que nunca chegaram...

As dúvidas coroem-me como

Traças acabando com os livros da estante,

Mas eu não olharei para trás,

Não lhe farei voltar...

Vou estar aqui,

No banco,

Vendo as  folhas verdes brotarem,

Estarei aqui,

Guiando o pião,

Fazendo-o nunca mais parar de rodar.  

sábado, 24 de setembro de 2011

Contramão...



As ruas têm-se feito palcos do teatro dramático, sou figurante nessas histórias, caminho de um lado ao outro, a dúvida deixa de lado...
Estas ruas cheiram a tristeza, escolhas que fiz e que agora não da para esquecer, não dá para fechar os olhos e simplesmente adormecer.
Meus passeios por esses palcos são silenciosos, vagos, sem música nos ouvidos, ouço os ruídos e latidos dos pequenos presos entre grades, esperando que alguém pague e leve-os para casa e eu engulo lágrimas e tento passar minha mão pelas grades cor de laranja, repugnantes...
Eu ali fico vendo-os abanar o rabo, eu penso que quando tirar minha mão dali, o choro o latido pedindo socorro chegará...
Eu saio o mais rápido possível e sigo pela rua dos homens de gravata e mulheres de salto 15, eu sigo por onde há os que pedem por comida e pedem cocaína... Eu sigo, como uma sombra que espera voltar ao seu lugar, que sabe que aqui não há lugar.
Escondida, sou a traça dos livros, o rato de biblioteca, o gato na caixa de correio, o cão... Sou o que ainda não descobrir ser... Mas afinal só desejo ser aquilo que sou, desejo ser Eu...  Estar em cima da torre, passeando na ponte, na roda-gigante...  Desejo ser eu, perdida nos livros, na garrafa de vinho, de cachaça, desejo (não) descobrir aquilo que desacredito desejo seu olhar e suas mãos, desejo salvar o mundo e continuar na contramão.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

História e imaginação


Estava numa caixa de vidro, perdida numa rua qualquer, parecia ser outro mundo... Os carros eram iguais, mas o dia fazia-se outro mundo...
Chuviscava, eu não percebia, mas pouco a pouco eu ficava mais molhada, com gosto de terra. Parecia um cão quando foge e tenta voltar para casa... Assim estava eu quando, de repente, a canção ou a página do livro, não sei, abriu o baú das recordações...
Eu evito, fujo, corro pelo asfalto, subo o morro, fico olhando as folhas que caíram na estação passada... O esquecimento lembra-me daquilo que foi, daquilo que agora quero que se enterre, que fique empoeirado ou que fique esquecido como os móveis por baixo dos lençóis da casa abandonada.
Eu não amo, nem nunca amei você, o que existe, eu não sei... Sei que lhe tenho entre os sonhos, entre os cenários, em outros países, outros idiomas... Tenho-lhe entre a chuva e entre as esperanças que se foram, tenho-lhe entre as ilusões novas e antigas...
Não há porque se preocupar, eu sou a sombra do vento, sou páginas de livros e canções nostálgicas... Não sou aquela que lhe fará pegar o voo, nem para quem se ajoelhará, nem aquela que amará...
Sonhos? Tem-se? Não... Escrevo por que foi o caminho que escolhi, o caminho que traço como traça os cabelos da criança...
Não há mais beijos, abraços, olhares, promessas em mim. O romantismo da vida fica nos filmes que vejo nas madrugadas escuras... Sei por aonde vou, conheço o sabor das lágrimas. E amanhã não sei o que será, sei o que não haverá... Você continua ali ou lá...
E as histórias que alimento, que relembro, eu começo a achar que não passam de construções da minha imaginação... Elas nunca existiram e você nunca existiu... Foi apenas o romance, novela que na TV não passou. 
O Metrô que chegou, hora de seguir e esquecer...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sufoco...




Sufoco,
A cada segundo fica-me mais difícil respirar...
O mundo vai girando,
Levando nuvens,
Trazendo chuva,
Levando sol,
Trazendo o frio...
Cabeças são contadas,
Corações, nos homens,
Não mais há...
E o mundo continua a girar,
Nuvem vai, chuva trás...
As canções foram esquecidas,
Os poetas voltaram de seu exilio,
A ditadura prossegue.
Seguimos todos, agora exilados,
Nesse marasmo de ideias...
Estamos exilados em frente da TV,
Ouvindo o noticiário besta,
Indignamo-nos momentaneamente,
Mas o esquecimento logo vem,
A novela está começando...
E o mundo gira,
Chuva vai, sol não há...
Segue, pelas ruas,
Nas calçadas,
Tendências da moda cada vez mais coloridas,
Pelos caminhos tudo tem ficado tão mais preto e branco.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O canto...


O pássaro capturado,
Roubado do topo das árvores,
Deixou seu ninho abandonado...
Seu canto o vez prisioneiro?
Está trancafiado numa gaiola...
Bate as asas, mas não voa,
O céu não é mais seu...
O canto não foi cessado,
A tristeza o torna mais belo,
O desespero é a vigor do seu som.
Trancado,
Sem saber reconhecer a luz do dia,
Muralhado por livros velhos,
Por flores de papel,
Está cercado pela falsidade da vida,
Continua a cantar...
Canta sem esperança,
Canta, apenas, porque quer cantar...
O canto faz-se sopro de vida,
Onde vida não mais há.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Seguir



Não creio no mundo.
Criticas minha tristeza,
Porque se ri ironicamente.
Não conheces os caminhos,
Os trilhos por onde andam os famintos.
Condene minhas escolhas,
Meu prato de arroz verde,
Eu silencio tua ignorância...
Eu vacilo nos meus passos,
Mas minha cabeça vai erguida,
E se minhas mãos estão sujam,
É porque tentei limpar os rastros da destruição.
Eu tento consolar o uivo,
O latido, o miado, e gemido...
Eu não creio, mas sigo...
Descabelada, esquecida,
Contendo choro,
Escondendo no riso...
Eu sigo...
Apenas isso... sigo.

O desespero de um sorriso...



Engana-se aquele que crê que meu riso contido,
Expressa alguma alegria...
Não me bastam os discursos frouxos,
Chateio-me com os moralismos diários
Aos quais me deparo nos corredores abafados...
Correr no frio não ameniza minha dor,
Congela as lágrimas no meu rosto,
Petrifica minha alma...
Eu não entendo como ainda não tenha aprendido,
Todas as crianças já sabem que o mundo é ruim...
Porque não me convenço?
Volto cansada,
Cansada até para segurar o choro,
O mesmo desespero que antes escondi entre risos...
Questiona-me sobre esse silencio?
Eu emudeço, também estou procurando respostas,
No escuro procuro as folhas que foram escritas
Para saber qual é o futuro...
Nada mais a dizer...
Tudo é imperfeito.
As paginas dos livros
Deverão  aguentar as dores do mundo.

domingo, 4 de setembro de 2011

O que será, virá...



Eu tento não acabar o dia aqui, pedindo socorro a folhas mudas de papel, eu tento não parar aqui, me humilhando, desabafando tudo o que já devia ser esquecido.
As leituras todas se acabaram, os livros, agora empoeirados, foram lidos enquanto os dias acordavam e adormeciam... Percebo que, agora, posso ler apenas aquilo que me devoto a escrever...
Milhões de histórias circulam-me, seguem, deitam-se em mim. Espero milagres, espero o mar diminuir, espero a velocidade do tempo... Espero...
Enquanto o dia passa, eu relembrava da garota que fui, sem medo, sem pensamentos, sem esperar pelo futuro.
Eu, que um dia desnudei-me diante da vida, eu que lhe sorri, corri, bebi sem medo de parar adormecida nos gramados das praças.
Eu beije aquele que levei para adormecer comigo, e quando acordava já lhe via de olhos abertos, como que esculpindo aquele momento... Enquanto você esculpia eu fotografava, registrava aquilo que agora o tempo não tem amarelado, continua tão vivo como foi.
 Eu sei que sou mera lembrança daquele verão louco, daqueles dias que vivíamos sem prever o futuro... Eu continuo não prevendo, eu sigo vivendo um dia de cada vez e em todos estes carrego, como carrego livros, lembranças de seus olhos, seu riso, as canções que juntos cantamos até adormecer na sala...
Eu escrevo, sabendo que não lerá, escrevo porque prefiro assim, sem choro, sem vozes... Prefiro o silencio. Eu evito as fotografias e tento convencer-me de que o que será, virá...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Paris é uma Festa.



Depois de mais ou menos um ano namorando o livro, resolvi pega-lo na biblioteca para dar uma “olhadinha”, junto com a obra O Sol também se levantam, ambos do Prêmio Nobel de literatura Ernest Hemingway.
Li primeiro o sol também se levanta, e naquela primeira obra já havia gostado muito da forma simples como o escritor escreve.
Ao ler Paris é uma festa, apaixonei-me por aquela cidade e também pelo pai dessa obra.
O livro foi terminado em Cuba em 1960. Mas em suas paginas há a narrativa de seus dias em Paris e do mundo literário que lá existia (que tanto gosto): James Joyce, Scott Fitzgerald, Sylvia Beach, entre outros.
Fica aí alguns trechos desse livro tão especial para mim:

“(...) Quando cheguei lá, com os livros, contei à minha mulher sobre o lugar maravilhoso que tinha descoberto.” P. 46.

“(...) Dizem que as sementes do que seremos um dia nascem conosco, mas sempre me pareceu que aqueles que não levam a vida totalmente a sério têm as sementes cobertas por um solo generoso e bem adubado.” P. 93.

“Assim terminou a primeira parte de minha vida em Paris. Paris nunca mais seria a mesma para mim, embora continuasse sendo a Paris de sempre, e mudássemos de acordo com as modificações que nela se estavam operando.” P. 173.



Fica a dica...