sábado, 11 de abril de 2015

O amigo do futuro...

Entrou na sala, procurou um lugar naquele semicírculo de cadeiras pesadas e duras.
Sentou-se, abriu o caderno, preparou a caneta, conversou com os colegas que chegavam e começavam a ocupar as cadeiras ao seu redor.
Quando a aula começou, levantou a cabeça e olhou para quem falava. Era o professor, sentado, também ele em uma daquelas cadeiras desconfortáveis e azuis, exatamente a sua frente, numa linha reta, quase perfeita.
Diante de seus olhos, achou que, de repente, o tempo havia passado e ela tinha ficado no passado.
Aquele senhor à sua frente era o amigo de anos passados, o companheiro da adolescência, o cara que assistia com ela filme francês, preferia vinho a cerveja e era, talvez, um apaixonado.
Diante de seus olhos ela reconheceu um amigo, que não sabia quem ela era.
Ela então passou a tarde olhando para aquele homem a sua frente, um desconhecido conhecido. Com os mesmos trejeitos, a mesma forma de sentar, a mesma forma de falar e de vestir, continuava magro e usando camisas azuis...
Inevitavelmente ela lembrou-se de quando ele fora mais jovem... Ainda ouvia rock and roll e lia livros de literatura? Ainda gostava de chocolate?
Naquele homem a sua frente, teve uma amostra do futuro. Inevitavelmente se perguntou se, nos dias que se aproximariam, ela e o amigo se reconheceriam ainda. Ou se seriam estranhos sentados um em frente ao outro, olhando-se como se, de algum lugar, se conhecessem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário