Entrou na sala, procurou um lugar naquele semicírculo
de cadeiras pesadas e duras.
Sentou-se, abriu o caderno, preparou a caneta,
conversou com os colegas que chegavam e começavam a ocupar as cadeiras ao seu
redor.
Quando a aula começou, levantou a cabeça e olhou para
quem falava. Era o professor, sentado, também ele em uma daquelas cadeiras
desconfortáveis e azuis, exatamente a sua frente, numa linha reta, quase
perfeita.
Diante de seus olhos, achou que, de repente, o tempo
havia passado e ela tinha ficado no passado.
Aquele senhor à sua frente era o amigo de anos
passados, o companheiro da adolescência, o cara que assistia com ela filme
francês, preferia vinho a cerveja e era, talvez, um apaixonado.
Diante de seus olhos ela reconheceu um amigo, que não
sabia quem ela era.
Ela então passou a tarde olhando para aquele homem a
sua frente, um desconhecido conhecido. Com os mesmos trejeitos, a mesma forma
de sentar, a mesma forma de falar e de vestir, continuava magro e usando
camisas azuis...
Inevitavelmente ela lembrou-se de quando ele fora
mais jovem... Ainda ouvia rock and roll e lia livros de literatura? Ainda
gostava de chocolate?
Naquele homem a sua frente, teve uma amostra do
futuro. Inevitavelmente se perguntou se, nos dias que se aproximariam, ela e o
amigo se reconheceriam ainda. Ou se seriam estranhos sentados um em frente ao
outro, olhando-se como se, de algum lugar, se conhecessem.
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