Cada dia é um dia de sobrevivência, não a sobrevivência da
necessidade, dos grãos de feijão contados, do arroz, do sal que acabou... É a
sobrevivência do drama que nasce em mim todos os dias, é a sobrevivência desse
drama que me desfaz e eu tenho que derrotá-lo de novo e de novo...
Tenho que sobreviver a esses dias de sol...
Porque enquanto ando na rua, todos me olham estranho, passam
seus olhos como detectores de metal e eu sou quase uma terrorista. Eles notam qualquer
característica suspeita. Nas sacolas levo apenas comida para a semana...
A bibliotecária me espanta, não ouso mais direcionar minha
fala, esqueço-me dos livros. Ela também quer saber o que eu carrego...
Talvez eu devesse voltar para o fim do mundo, onde todos me
conhecem e ainda me destinam o olhar de pena. Eles devem se perguntar como eu
estou, se o choro já cessou... E eu poderia até voltar como terrorista derrotada...
De repente eu deva voltar... Estudar os índios, mudar os
planos, voltar a dançar, a escrever poesia... De repente eu deva deixar de lado
as velhas ambições...
Talvez eu abra uma loja mágica, onde eu possa viajar
silenciosamente. E eu não teria que me importaria com esses olhos frios que
gravam cada pedaço de mim...
Pode ser que eu fuja de submarino, eu não sei onde vou
parar... O caminho é longo, a subida é íngreme, eu persisto com o tênis sem
palmilha...
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