sábado, 31 de maio de 2014

Eu, a geração rivotril...


Tudo parecia normal, o dia havia sido claro, havia pessoas na rua e eu me sentia bem... À noite eu ri, não me lembrei de nenhuma preocupação, parecia mais uma sábado animado como os demais... Eu estava deitada confortavelmente, na TV o filme que havíamos programado assistir. Foi quando meu coração despertou e fugiu dentro de mim, eu achei que algo ruim aconteceria... Tentei me acalmar, não consegui. Meu corpo começou a tremer freneticamente, meu queixo batia, eu não conseguia controlar... Pedi para que me levasse ao hospital o mais rápido possível...

Lá, após o médico plantonista me pedir para que sentasse e falasse o que estava sentindo, comecei a chorar, eu continuava tremendo...

O que era tudo aquilo? Eu iria morrer?

O que estava acontecendo?

Para aquele momento, seria suficiente um calmante e o conselho para procurar um especialista...

O que era aquele choro todo engasgado na garganta que doía enquanto eu tentava falar, dias depois ao acontecido?

Eu que tantas vezes havia enchido a boca para dizer que tinha passado por muita coisa e havia sabido lidar com cada uma delas, com cada perda, com as tristezas e os traumas...

Agora eu estava ali, sentada numa cadeira, de frente para outra cadeira ocupada por alguém que anotava cada coisa que eu falava...

É só agora que começo a compreender cada medo doentio, cada sensação, o desânimo, a desmotivação que sobra diante das coisas que mais desejei fazer... Agora eu começo a compreender a falta daqueles momentos que ascendia à euforia, a alegria espontânea, que com o tempo tornaram-se mais raros e quando surgiam eram sempre a cada vez mais rápidos... Agora, começo a entender que tanta tristeza pode não ser tão normal... E eu lembro de Vinícius de Moraes, “...é melhor ser alegre que ser triste...”.

Começo agora a compreender os tons de cinzas que substituíram as cores dos meus dias, a falta de riso, à falta de coragem diante da vida, a falta de ar dentro de mim...

Agora eu era um diagnóstico, um drama com receituário médico e remédios que me dão ainda mais medo...

Agora havia o medo de tudo se repetir, a angústia por não saber quando aconteceria de novo, quando os tremores e a dor no peito recomeçariam, e depois o choro, o calmante...

Pode ser que agora eu me esconda atrás das caixas e bulas, atrás de atestados, atrás de sonhos e vontades que não consigo alcançar com as próprias mãos... Pode ser que agora, eu fique a mercê de um sublingual que me faça dormir no momento doloroso da crise... Mas não devo me preocupar, no meu quadro está bem indicado...

Eu vou me perguntar se tudo isso é necessário? Quantos são os que estão comigo, no mesmo barco, no mesmo buraco?

terça-feira, 27 de maio de 2014

Carta para Amelie


Ei Amelie, ajude-me a atravessar à rua, me observe pela janela, pelo buraco da fechadura!... Eu também ando sozinha e aqui não há cabines de fotografias que me despertem para longe do mundo, onde eu possa esquecer que dia foi ontem, que dia foi sábado, que dia foi aquele em que meu coração correu dentro de mim...

Ah Amelie, por aqui desconheço as represas e as pedras chatas, não sei fazê-las pular, aqui não escorrego minha mão nos sacos de ervilha ou de feijão... Não tenho franja curta nem roupa colorida... O cenário da minha vida não é como o vermelho que vibra, nem como o verde que agita...

A trilha sonora nem sempre é piano, mas às vezes alguém toca violino pela rua... Também guardo escondido caixa de lembranças, também choro em frente à TV, diante das banalidades do cotidiano...

Aqui também existem dias de muita luz e tantos outros que não clareiam nenhum pouco...

São muitos os que são feitos de vidro e muito mais são aqueles feitos de aço...

São muitos os que pintam e que tentam captar a expressão dos olhos, às vezes fora de contexto, mas também são muitos os que borram a tela...

Estamos todos do lado de fora da rua! Estamos todos à venda!

E eu nunca andei de moto Amelie, e há muito não escrevo cartas, nem modifico os finais, nem bebo licor no bar... Às vezes acho fotos pela metade, histórias pela metade... Há tantos lugares que ainda não pisei...


Eu fico aqui, sentada ouvindo aquelas canções que me levam para outro lugar, que me devolvem, por segundos, sensações, que me permite entender que existem sopros de vida, existe algo, sempre, prestes a acontecer...

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Vou voltar de submarino...


Cada dia é um dia de sobrevivência, não a sobrevivência da necessidade, dos grãos de feijão contados, do arroz, do sal que acabou... É a sobrevivência do drama que nasce em mim todos os dias, é a sobrevivência desse drama que me desfaz e eu tenho que derrotá-lo de novo e de novo...

Tenho que sobreviver a esses dias de sol...

Porque enquanto ando na rua, todos me olham estranho, passam seus olhos como detectores de metal e eu sou quase uma terrorista. Eles notam qualquer característica suspeita. Nas sacolas levo apenas comida para a semana...

A bibliotecária me espanta, não ouso mais direcionar minha fala, esqueço-me dos livros. Ela também quer saber o que eu carrego...

Talvez eu devesse voltar para o fim do mundo, onde todos me conhecem e ainda me destinam o olhar de pena. Eles devem se perguntar como eu estou, se o choro já cessou... E eu poderia até voltar como terrorista derrotada...

De repente eu deva voltar... Estudar os índios, mudar os planos, voltar a dançar, a escrever poesia... De repente eu deva deixar de lado as velhas ambições...


Talvez eu abra uma loja mágica, onde eu possa viajar silenciosamente. E eu não teria que me importaria com esses olhos frios que gravam cada pedaço de mim...

Pode ser que eu fuja de submarino, eu não sei onde vou parar... O caminho é longo, a subida é íngreme, eu persisto com o tênis sem palmilha... 

terça-feira, 13 de maio de 2014

Vidinha...


O que eu realmente quero nunca deixou de ser um mistério, um pensamento em constante mutação... Não que eu não gosto do que faço agora, mas existem não sei quantas tantas outras coisas que gostaria de fazer também...

Ah! Rita Lee você nem sabe em quantos dias eu já decidi mudar!

Estando aqui eu queria (muito) estar lá e estando lá (ás veze) queria estar aqui...

É todo esse silêncio, esse apartamento sem televisão e toda essa guerra nas ruas enquanto corro para fechar a porta antes de anoitecer, é o ensaio da cegueira, a literatura que não leio, o filme que não vejo, a música que não posso aumentar o volume...

Foi preciso vir, ir, voltar para então entender o que já era sabido, o jeito que eu quero viver...

Talvez eu não tenha tantas pretensões, não me preocupo com quanto dinheiro exista na conta do banco, nem com poder, nem quero saber o que vão dizer (eu já sei)... Quero poder sentar no banco e ler enquanto me esquento no sol... Quero escrever...

Não pretendo ser escrava do trabalho, do tempo que roda no meu pulso, já não pretende me incomodar com o que deixo de lado...

De repente eu queira viver de amor... (Virei Hippie?)

Talvez antes eu julgasse todo isso como uma “vidinha” medíocre, sem grandes ambições. Eu quero calma, tranquilidade, silêncio, quero caminhar pela rua, sem me preocupar com o horário do ônibus, com quem segue atrás... Sabe, eu quero viver, sem dizer que não posso hoje, que não tenho tempo...

Quero escrever um livro, ver a flor crescer... O que eu vou fazer? Incompreendida, incompreensível...



terça-feira, 6 de maio de 2014

Enfim...

Tenho a necessidade de escrever, mas não sei bem por onde começar...

A verdade é que hoje o dia não começou muito fácil, ter de encarar os medos não é fácil...

Quando sei que alguém próximo “perde” alguém que lhe é amado, sinto uma angústia (que reside em mim) sufocar... Consigo entender, pelas beiradas o sentimento...

No fundo me tornei sensível às perdas dos outros, entendo alguma coisa do sentimento alheio... A verdade é que me abalo e a vida nem sempre me embala...

Mas, o que é perder?

Segundo alguns sites na internet perder é “deixar de ter”, “não possuir”, “ficar sem”...

Fico me perguntando o que perdemos pelo caminho? E o que ganhamos?

Não encontro resposta nenhuma, embora seja muito tempo em que penso nisso... No fundo, acabo afundando num poço de dúvidas que não possuem respostas: O que significa tudo isso? O que vem depois? Tudo tem hora marcada? Por quê?

Pensar nisso tudo só amplia os medos que têm sido apurados por mim... Porque quando você acha que está se curando, o cenário muda, o contexto é outro...

Sigo os mesmo passos, vou um pouco mais deprimida, com um pouco mais de medo, com a angústia pulando mais forte dentro de mim, com uma infinidade de “e se” borbulhando na minha cabeça...

Pergunto se foi à vida que me deixou assim? Pergunto quando foi que esqueci toda aquela coragem e resolvi me esconder em baixo da cama? Pergunto se eu não reagi? Ou se reagi ao contrário? Pergunto onde deixei a espontaneidade? O sonho? A saudade do que eu era?

Tenho vontade de chorar, de gritar aquilo tudo que me sufoca e aperta, mas eu continuo quieta, engulo a saliva...

Enfim, continuo com as perguntas sem respostas, continuo sem entender o que quer dizer cada momento, continuo...