Tudo parecia normal, o dia havia
sido claro, havia pessoas na rua e eu me sentia bem... À noite eu ri, não me
lembrei de nenhuma preocupação, parecia mais uma sábado animado como os demais...
Eu estava deitada confortavelmente, na TV o filme que havíamos programado
assistir. Foi quando meu coração despertou e fugiu dentro de mim, eu achei que
algo ruim aconteceria... Tentei me acalmar, não consegui. Meu corpo começou a
tremer freneticamente, meu queixo batia, eu não conseguia controlar... Pedi
para que me levasse ao hospital o mais rápido possível...
Lá, após o médico plantonista me
pedir para que sentasse e falasse o que estava sentindo, comecei a chorar, eu
continuava tremendo...
O que era tudo aquilo? Eu iria
morrer?
O que estava acontecendo?
Para aquele momento, seria
suficiente um calmante e o conselho para procurar um especialista...
O que era aquele choro todo
engasgado na garganta que doía enquanto eu tentava falar, dias depois ao acontecido?
Eu que tantas vezes havia enchido
a boca para dizer que tinha passado por muita coisa e havia sabido lidar com
cada uma delas, com cada perda, com as tristezas e os traumas...
Agora eu estava ali, sentada numa
cadeira, de frente para outra cadeira ocupada por alguém que anotava cada coisa
que eu falava...
É só agora que começo a
compreender cada medo doentio, cada sensação, o desânimo, a desmotivação que sobra
diante das coisas que mais desejei fazer... Agora eu começo a compreender a
falta daqueles momentos que ascendia à euforia, a alegria espontânea, que com o
tempo tornaram-se mais raros e quando surgiam eram sempre a cada vez mais
rápidos... Agora, começo a entender que tanta tristeza pode não ser tão
normal... E eu lembro de Vinícius de Moraes, “...é melhor ser alegre que ser
triste...”.
Começo agora a compreender os
tons de cinzas que substituíram as cores dos meus dias, a falta de riso, à
falta de coragem diante da vida, a falta de ar dentro de mim...
Agora eu era um diagnóstico, um
drama com receituário médico e remédios que me dão ainda mais medo...
Agora havia o medo de tudo se
repetir, a angústia por não saber quando aconteceria de novo, quando os
tremores e a dor no peito recomeçariam, e depois o choro, o calmante...
Pode ser que agora eu me esconda
atrás das caixas e bulas, atrás de atestados, atrás de sonhos e vontades que
não consigo alcançar com as próprias mãos... Pode ser que agora, eu fique a
mercê de um sublingual que me faça dormir no momento doloroso da crise... Mas
não devo me preocupar, no meu quadro está bem indicado...
Eu vou me perguntar se tudo isso
é necessário? Quantos são os que estão comigo, no mesmo barco, no mesmo buraco?