domingo, 21 de outubro de 2012

A manhã de Toquinho...


Nesse domingo, depois um susto devido à mudança de horário de verão, consegui chegar a tempo de ver Toquinho, domando o violão, cercado pela Orquestra Sinfônica, no Concerto que dá as boas vindas à primavera e a fez, hoje, ser mais especial.

Enquanto Toquinho encantava eu relembrava das tantas tardes em que passei lendo os sonetos de Vinícius, vasculhando sobre a vida de Tom Jobim e da sua Bossa Nova, enquanto tinha como plano de fundo as canções resultantes de uma combinação que deu certo entre Vinícius e Toquinho.

Agora, Toquinho estava ali, na minha frente fazendo piada com a vida romanesca de Vinícius e enquanto ria-se eu pensava “ele era o poeta da paixão”, viveu todos seus amores tão intensamente e a sua maneira, tão ao seu modo... Com tanta sorte e devoção...

E relembrou Tom Jobim, e a mim sobrava à recordação vaga de ter visto, em algum lugar, Jobim sentado de frente ao um piano, ao qual se inclinava de cabeça baixa, entoando mais uma de suas canções... Hinos que não se acabam jamais...

O quão mágico foi cada canção, mesmo faltando “A sombra de um Jatobá”...

Agora, passado algumas horas busco em meio aos filmes e CDs antigos, aquele já empoeirado, que enquanto escrevo roda como trilha sonora de um domingo calmo e de boas rememorações...

“...E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então...”





terça-feira, 16 de outubro de 2012

A Náusea.



Resolvi escrever esse post, pois, admito, estou encantada com minha última leitura, trata-se de “A Náusea” do francês Jean-Paul Sartre.

Pra começar, batalhei para conseguir o livro, pois mesmo passando em todos os estandes da feira do livro de Caxias, NENHUM possuía a obra. Tive que ir a uma loja e procurar na persistência (já que haviam me dito que o livro também não tinha na loja). Mas acreditem, eu achei... =]

E valeu a pena... A Náusea é o tipo de livro que gosto, traz em suas páginas muitas reflexões, instiga o pensamento, interroga, faz ir além... Não poderia ser diferente, as questões de existência permeiam as 234 páginas do livro.... 

Melhor ficar por aqui, mas não sem antes deixar algumas passagens dessa brilhante obra:

“Quando se vive, nada acontece. Os cenários mudam, as pessoas entram e saem, eis tudo. Nunca há começos. Os dias se sucedem aos dias, sem rima nem razão: é uma soma monótona e interminável.” (p. 60)

“Quis que os momentos de minha vida tivessem uma sequência e uma ordem como os de uma vida que recordamos. O mesmo, ou quase, que tentar capturar o tempo.” (p. 61)

“Será possível pensar em alguém no passado? Enquanto nos amamos, não permitimos que o mais ínfimo de nossos instantes, a mais leve de nossas dores se desligassem de nós e ficassem para trás. Os sons, os odores, os matizes do dia, até os pensamentos que não nos dissemos, tudo isso nos acompanhava e tudo permanecia vivo: não cessávamos de desfrutá-los ou de sofrer por eles no presente. Nenhuma lembrança; um amor implacável e tórrido, sem sombras, sem recuo, sem refúgio.” (p. 90)

“ Mas o pensamento, sou eu que o continuo, que o desenvolvo. Existo. Penso que existo. Oh! Que serpentina comprida esse sentimento de existir – e eu a desenrolo muito lentamente... Se pudesse me impedir de pensar!” (p. 135)

 “Sinto vontade de ir embora, de ir a algum lugar onde pudesse estar realmente em meu lugar, onde me encaixasse... Mas meu lugar não é em parte alguma; eu estou sobrando.” (p. 163)

“A Náusea não me abandonou e não creio que me abandone tão cedo; mas já não estou submetido a ela, já não se trata de uma doença, nem de um acesso passageiro: a Náusea sou eu.” (p. 169)

“O que quero dizer é que, por definição, a existência não é a necessidade. Existir é simplesmente estar aqui; os entes aparecem, deixam que os encontremos, mas nunca podemos deduzi-los.” (p. 175)

“Sobrevivo a mim mesma.” (p. 192)


Boa noite e boa leitura.

domingo, 14 de outubro de 2012

(Poeta) Quando lembro...



É mais uma das histórias mal resolvidas...
Estória com fim esquecido de ser escrito...
Ah, poeta, se eu soubesse o que poderia ser dito,
Se eu pudesse escrever das emoções que sinto,
E fazer das palavras,
Vento para bagunçar o cabelo,
Balançar e dar movimento,
Trazer alento,
Para fechar os olhos e andar sem previsão do tempo...
E se eu soubesse,
O que o distanciamento tem feito,
E quando se abre a janela o que tem desfeito...
E quantas vezes eu leio e lhe releio,
E no fim da noite,
Quando se faz o silêncio,
E de companhia, tenho o relógio e seu repetitivo tiquetaquear,
Volto a ler sua rara poesia...
E dela eu voo como o pássaro quase extinto
E me inebrio da plenitude,
No infinito de cada verso,
Construção épica...
E assim posso voltar,
Para escrever a poesia,
Que pode não dizer nada,
Mas que pensando no seu traçar, faz-se clara...
E nessa mesma noite
Enquanto você, entre livros se acaba,
Eu remonto o discípulo,
Junto às peças de um revolucionário,
Que escondeu as bandeiras,
O poeta que tem em suas mãos a rosa pintada em letras,
E em suas palavras unidas,
Transcreve a profecia,
E, por fim,
Transforma o domingo no lugar onde se dita nossa escrita...
Há tanto tempo não te vejo,
E há quanto tempo não escrevo um verso que mereço...
Nunca te esqueço,
Mas quando posso lhe lembro...
E volto a querer outro tempo,
O tempo que nunca houve...
 Ei de guardar bem guardado o que não pode ser desfeito.
Mas que pode ser um reinvento,
Que eu invento,
E não te inverto,
Apenas lhe trago o efeito,
Do seu feito...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A cópia falha...




Se já escolhemos a trilha sonora, desligamos a TV e fechamos o livro, abrimos a garrafa de vinho e temos nas mãos o par de taças, acho que já podemos começar mais uma divagação. Sim, pois andei pensando, nesses dias em que finalizo as obrigações e lá fora o tempo fecha, como se pronto para entregar-se aos meus infinitos pensamentos, como se juntos pudéssemos nos entregar a todas as nossas duvidas e dívidas... Quantas divindades, juntos, nós não enganamos, quando voos não esperamos, quanta chuva e quanto sol não proclamamos...
Quanto não enganamos, sabe porquê? Porque como o tempo eu coordeno meus sonhos e nos momentos que creio, alço meu voo sem esperar pelas falas vagas e as moralidades falsas daqueles que só esperam a próxima oportunidade para lançar o veneno, mediocridade barata...
Sabe o que acontece, eu não espero saber o que foi lido, eu vasculho os esquecidos e escolho entre os escolhidos, eu não gosto de gostar do que o todo gosta. Eu não espero saber do filme nem suas opiniões, eu gosto mesmo é de viver assim, por mim, comigo, eu vivo sem fim. Eu não imito, nem mímico, eu não gosto de cópias, eu me invento e me transvisto, eu vivo ao meu estilo e no meu destino... Eu crio, me crio e no meu cenário sou eu quem pinta. E de discípulos eu não preciso.
Eu sou apenas a miragem daquilo que existe, pois de tanto escolher outros caminhos faço-me, agora, invisível, não existo para a civilização feita de copia e cola, a civilização feita de produção em escala... Quem sabe, eu seja a revolta, na verdade eu sou apenas uma cópia falha, deu errado e foi jogada fora...
Pode ser que eu seja o coringa do baralho, bobo da corte, que acaba por rir das palhaçadas da história.  E para quem reclama da falta de autenticidade eu só posso reclamar ao silêncio da falta de espelho, da falta do olho que olha para dentro...
E agora eu volto para Sartre ou Saramago (e a taça de vinho), eu vou pensar em nada e vou concluir que eu sou o próprio nada, que engana quem pensa que existo, sou apenas a cópia falha que não reclama autenticidade, pois sabe para onde está indo (ou não), que sem medo sabe inventar um lugar distinto e não depende daqueles que querem se fazer ditos, sabe que não engana e segue seu próprio e único caminho.
Pois, eu não quero ser o que eu não sou....