sábado, 28 de julho de 2012

A tarde de vacinação.



Depois de uma semana de divulgação na rádio local, chegou o dia de levar a Lana para vacinar. Depois de terminar de ler um livro sobre Direito dos Animais, peguei sua coleira e ela veio empolgada, de rabo abanando e enquanto eu colocava meus tênis ela sentava ao meu lado, na espera por um suposto passeio... Descemos as escadas, saímos para rua, eu, Lana e meu pai... Lana cheirava tudo, queria aproveitar o festival de aromas, investigar o cachorro que havia passado pelo poste, pela árvore.
Caminhamos um pouco até chegarmos ao local de vacinação, percebi que estava tocando, num carro estacionado na rua, a canção “Os segundos” da banda Cidadão Quem.
Diferente do que eu imaginava, havia um número considerável de cães a serem vacinados, entramos na fila.
Percebendo a agitação que começava a assolar Lana, abaixei-me e comecei a acaricia-la, na tentativa de que ficasse mais tranquila e mais segura, sem medo.
Ali parada, enquanto meu pai buscava dinheiro para pagar a vacina, Lana e eu ficamos observando o que acontecia ao nosso redor. Supus que ambas desejavam sair dali o mais rápido possível.
Esbravejei alto quanto vi a forma como os animais eram tocados e tratados, presos em suas coleiras, muitos, cobertos de medo receberam a focinheira, ainda, foram quase esmagados em um pilar para que pudessem tomar a dose da vacina que lhes eram devida, seus donos, a mais ou menos um metro, observavam e nada faziam para que pudessem amparam seus amigos, seus companheiros.
No momento chegado da vez da Lana, um jovem direcionou-se a mim, como que solicitando que entregasse a coleira (a Lana). Eu, prontamente, disse que seguraria a Lana, não precisando da sua ajuda. Segurei-a firma, mas de uma forma que não a machucasse, quando Lanoca viu o veterinário se aproximar, ameaçou avançar e senti que estava coberta de medo, reforcei a forma como a segurava, falei para que ficasse tranquila e o veterinário, que pouco afinidade parecia ter com os cães, aplicou a vacina... Esperei um tempinho até que Lana ficasse calma...
Nesse período vi um cachorrinho de pequeno porte, preto, de pelo curto e brilhante tremer do focinho ao rabinho enquanto a “proprietária” olhava o sofrimento do pequeno.
Na saída do local, um senhor já de idade chegava guiando dois cães em uma das mãos, na outra, trazia um galho de árvore.
Voltei para casa, Lana já no seu estado normal, brincalhona e esfomeada. Como se fosse impossível pensar em outra coisa, voltei-me ao ocorrido nessa tarde.
Senti latente as tantas vezes, em tantos livros ditos como consideramos os animais como coisas, como objetos, seres sem capacidade de sentir e de sofrer. Entendi que as pessoas assim os veem, uma vez que nem mesmo com aqueles aos quais partilham suas vidas, seu cotidiano são capazes de afeto e de cuidado diante medo e angústia do animal. Pensei na desumanidade que detemos e na insensibilidade de vermos e continuarmos paramos, simplesmente olhando, sem incomodar à cena em que o nosso companheiro agonia-se por medo.
Lembrei-me de quantas vezes essa mesma cena repete-se entre nós, parados, olhando a dor que atinge o animal, a mesma dor que toca o homem, a criança, o filho, o pai...
Por fim, entendi que na condição de coisas que tornamos os animais, acabamos nós, na condição de proprietário, (assim está nas próprias carteiras de vacinação) consagrando a vida como valor de mercado. Somos nós mesmos coisas, incapazes de deixar-se aperceber que afeto, pela amizade, pelo carinho e principalmente pelo amor que os animais nos dedicam. Por fim, conclui da condição insensível que concedemos aos animais e da insensibilidade que cabe apenas a nós, ser humanos tão desumanos.
E eu lembro Rousseau “(...) não seria obrigado a procurar entre os animais o olhar de benevolência que me é negado entre os homens.”

Daísa
29/07/2012
00:35

Um comentário:

  1. Num só texto consigo juntar um misto de orgulho, emoção e aplauso...

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