terça-feira, 31 de julho de 2012

A brincadeira.



Com imprudência
Nega sua dependência
E conforta sua carência
Se dedicando a ciência
Deixando pra trás mais essa pendência.

Vai por mim,
A vida é assim,
Alguém esconde o sim,
Muitos esperam o fim.

Ah, mas não faz sentido

Do mal eu sou abolido,
Quando no seu colorido
Não tenho mais o rosto escorrido...

O que tem sentido?
Aboliu-se o que não foi abolido...
Descoloriu-se o que está escondido,
Escorrido é o coco do pássaro no vidro.

Não fale assim
Pois esse mundo é um enorme jardim
E de ti eu gosto, sim
Apesar de meu pobre latim...

Falo por que sou assim,
Num traçado perto do fim
Uma folha perdida no jardim,
Uma estranha que gosta de latim.

Estranha aos olhos de outros
Doce aos olhos de poucos
Seu assim deixara tantos, loucos
Diante de seus traçados soltos.

Mas sem esperar pelos outros
Podemos, apenas, andar soltos,
Sendo loucos,
Como poucos...


 Essa poesia foi escrita por mim e o Matheus Barbosa num sábado à noite... 
Brincadeira bem divertida... 
Espero que gostem...

 

sábado, 28 de julho de 2012

A tarde de vacinação.



Depois de uma semana de divulgação na rádio local, chegou o dia de levar a Lana para vacinar. Depois de terminar de ler um livro sobre Direito dos Animais, peguei sua coleira e ela veio empolgada, de rabo abanando e enquanto eu colocava meus tênis ela sentava ao meu lado, na espera por um suposto passeio... Descemos as escadas, saímos para rua, eu, Lana e meu pai... Lana cheirava tudo, queria aproveitar o festival de aromas, investigar o cachorro que havia passado pelo poste, pela árvore.
Caminhamos um pouco até chegarmos ao local de vacinação, percebi que estava tocando, num carro estacionado na rua, a canção “Os segundos” da banda Cidadão Quem.
Diferente do que eu imaginava, havia um número considerável de cães a serem vacinados, entramos na fila.
Percebendo a agitação que começava a assolar Lana, abaixei-me e comecei a acaricia-la, na tentativa de que ficasse mais tranquila e mais segura, sem medo.
Ali parada, enquanto meu pai buscava dinheiro para pagar a vacina, Lana e eu ficamos observando o que acontecia ao nosso redor. Supus que ambas desejavam sair dali o mais rápido possível.
Esbravejei alto quanto vi a forma como os animais eram tocados e tratados, presos em suas coleiras, muitos, cobertos de medo receberam a focinheira, ainda, foram quase esmagados em um pilar para que pudessem tomar a dose da vacina que lhes eram devida, seus donos, a mais ou menos um metro, observavam e nada faziam para que pudessem amparam seus amigos, seus companheiros.
No momento chegado da vez da Lana, um jovem direcionou-se a mim, como que solicitando que entregasse a coleira (a Lana). Eu, prontamente, disse que seguraria a Lana, não precisando da sua ajuda. Segurei-a firma, mas de uma forma que não a machucasse, quando Lanoca viu o veterinário se aproximar, ameaçou avançar e senti que estava coberta de medo, reforcei a forma como a segurava, falei para que ficasse tranquila e o veterinário, que pouco afinidade parecia ter com os cães, aplicou a vacina... Esperei um tempinho até que Lana ficasse calma...
Nesse período vi um cachorrinho de pequeno porte, preto, de pelo curto e brilhante tremer do focinho ao rabinho enquanto a “proprietária” olhava o sofrimento do pequeno.
Na saída do local, um senhor já de idade chegava guiando dois cães em uma das mãos, na outra, trazia um galho de árvore.
Voltei para casa, Lana já no seu estado normal, brincalhona e esfomeada. Como se fosse impossível pensar em outra coisa, voltei-me ao ocorrido nessa tarde.
Senti latente as tantas vezes, em tantos livros ditos como consideramos os animais como coisas, como objetos, seres sem capacidade de sentir e de sofrer. Entendi que as pessoas assim os veem, uma vez que nem mesmo com aqueles aos quais partilham suas vidas, seu cotidiano são capazes de afeto e de cuidado diante medo e angústia do animal. Pensei na desumanidade que detemos e na insensibilidade de vermos e continuarmos paramos, simplesmente olhando, sem incomodar à cena em que o nosso companheiro agonia-se por medo.
Lembrei-me de quantas vezes essa mesma cena repete-se entre nós, parados, olhando a dor que atinge o animal, a mesma dor que toca o homem, a criança, o filho, o pai...
Por fim, entendi que na condição de coisas que tornamos os animais, acabamos nós, na condição de proprietário, (assim está nas próprias carteiras de vacinação) consagrando a vida como valor de mercado. Somos nós mesmos coisas, incapazes de deixar-se aperceber que afeto, pela amizade, pelo carinho e principalmente pelo amor que os animais nos dedicam. Por fim, conclui da condição insensível que concedemos aos animais e da insensibilidade que cabe apenas a nós, ser humanos tão desumanos.
E eu lembro Rousseau “(...) não seria obrigado a procurar entre os animais o olhar de benevolência que me é negado entre os homens.”

Daísa
29/07/2012
00:35

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Se tenho saudade.


E se você soubesse as vezes que pensei,
As tantas vezes que puxei as fotos
E as vi lentamente,
Pensei mas não chorei...
Se você soubesse das quantas noites em que imaginei
E criei o futuro até adormecer,
E tantas vezes que tentei
Acreditar que poderia ter sido diferente,
Mas que foi...
Se você soubesse
Quantos foram os fins de tarde que tive fé
E fiz não ter acabado
Aquilo que nunca começou.
E em tantos dias que esperei pela mudança...
Mas houve tantas manhãs claras.
Eu percebi que já foi,
Que a viagem acabou,
Que você, o rumo, tomou,
Enquanto eu me arrumo para a rotina.
Se você soubesse,
Que mesmo sem fé
Eu tenho saudade...
E que ela é só minha...
Se você soubesse...
Eu sei que nunca tive seu amor,
Mas eu também nunca amei,
Mas naqueles dias quentes e claros
Eu sonhei,
E nas conversas eu eternizei
A história que foi.
A semelhança que não foi suficiente,
A insistência que fugiu...
Faço-me cheia de saudade,
Sem mágoa ou esperança...
A mesma saudade me deixa a dúvida do destino,
Das voltas e dos nossos caminhos.
Vai agora,
Enquanto faço a poesia,
Outra face do passado ou dos dias...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A canção é triste...


O medo amplia,
A solidão consente...
De transvestir-se em mil amores
Acabou na nudez do corpo...
Se o mundo é ruim,
A escuridão do quarto será aconchegante...
Se a vida acabou em ilusão,
A voz será fraca,
O grito acabará em choro do desespero...
Se houve sonhos no passado,
Agora ficam todos guardados em caixas
Enterradas no asfalto.
E o riso simples pertence à criança que não cresceu,
Que só viu na pureza,
A melhor das visões...
Diante do espelho
A revolução é o que consola,
A realidade é sangue amargo que escorre,
Pinga, pinta e queima.
A vida real é ferida aberta,
É a margem,
Barra que molda o corpo
E desenha a alma...
A canção é triste
E é feita da poesia...

Aqui...


Movi o mundo com a sensibilidade que me possui...
Guardo aqui as dores e as flores do mundo,
Guardo em mim tudo o que vivi...
Virei furacão,
Sou calmaria.
De olhos fechados voo longe,
Faço do silencio trilhos,
Levanto voo e sigo na imensidão,
Não tenho lugar,
Eu não sou daqui,
Eu vou para não voltar...
Cheguei e construir moinhos de vento,
Pintei asfalto,
Criei, inventei...
O drama fez-se comédia,
Morrer agora é ato vulgar,
Sorrir é artigo em promoção,
Amar é pássaro em extinção,
Eu corro na contramão,
Estou pulando do avião...
Das paixões ficou no chão
Castelos de cartas
Levantadas ao vento...
Seguro forte o que sobrou,
Agarro o que ficou em mim,
Caminho depois do trem,
Eu já não ando de trem...
Daqui ficou o nada,
Deixei apenas poeira dos calçados,
Levei o conto,
História do passado que não vou contar...

sábado, 14 de julho de 2012

O que fica e falta...



No palco,
Cortinas fechadas,
Luzes apagadas,
Acentos empoeirados,
Coração despedaçado.
Sonhos já adormecem na eternidade...
Os soluços são para a falta de solução,
Choro porque não existe possibilidade,
Já se foi,
Foi e ficou aqui...
Falta a vida,
As flores no portão,
Sobra a criação inventada...
Sobram lembranças,
O espaço do futuro para realização...
Sobram passos solitários,
Prato na mesa,
Frio nas mãos,
Sobram os abraços,
O toque...
Falta o olhar,
O riso,
O carinho na hora de acordar,
A brincadeira,
O por do sol e a cachoeira,
O banho de chuva,
A espera, o telefonema...
Falta o “Eu te amo”...
Fica o vazio,
O choro no escuro que ninguém descobre,
Ficam refrãos em tantas canções...
Fica a poesia,
A marca, a ferida,
Ficou a natureza morta
E a vida sem ação...
A vida sem emoção...