Depois
de uma semana de divulgação na rádio local, chegou o dia de levar a Lana para
vacinar. Depois de terminar de ler um livro sobre Direito dos Animais, peguei
sua coleira e ela veio empolgada, de rabo abanando e enquanto eu colocava meus
tênis ela sentava ao meu lado, na espera por um suposto passeio... Descemos as
escadas, saímos para rua, eu, Lana e meu pai... Lana cheirava tudo, queria
aproveitar o festival de aromas, investigar o cachorro que havia passado pelo
poste, pela árvore.
Caminhamos
um pouco até chegarmos ao local de vacinação, percebi que estava tocando, num
carro estacionado na rua, a canção “Os segundos” da banda Cidadão Quem.
Diferente
do que eu imaginava, havia um número considerável de cães a serem vacinados,
entramos na fila.
Percebendo
a agitação que começava a assolar Lana, abaixei-me e comecei a acaricia-la, na
tentativa de que ficasse mais tranquila e mais segura, sem medo.
Ali
parada, enquanto meu pai buscava dinheiro para pagar a vacina, Lana e eu
ficamos observando o que acontecia ao nosso redor. Supus que ambas desejavam
sair dali o mais rápido possível.
Esbravejei
alto quanto vi a forma como os animais eram tocados e tratados, presos em suas
coleiras, muitos, cobertos de medo receberam a focinheira, ainda, foram quase
esmagados em um pilar para que pudessem tomar a dose da vacina que lhes eram
devida, seus donos, a mais ou menos um metro, observavam e nada faziam para que
pudessem amparam seus amigos, seus companheiros.
No
momento chegado da vez da Lana, um jovem direcionou-se a mim, como que
solicitando que entregasse a coleira (a Lana). Eu, prontamente, disse que
seguraria a Lana, não precisando da sua ajuda. Segurei-a firma, mas de uma
forma que não a machucasse, quando Lanoca viu o veterinário se aproximar,
ameaçou avançar e senti que estava coberta de medo, reforcei a forma como a
segurava, falei para que ficasse tranquila e o veterinário, que pouco afinidade
parecia ter com os cães, aplicou a vacina... Esperei um tempinho até que Lana
ficasse calma...
Nesse
período vi um cachorrinho de pequeno porte, preto, de pelo curto e brilhante
tremer do focinho ao rabinho enquanto a “proprietária” olhava o sofrimento do
pequeno.
Na
saída do local, um senhor já de idade chegava guiando dois cães em uma das mãos,
na outra, trazia um galho de árvore.
Voltei
para casa, Lana já no seu estado normal, brincalhona e esfomeada. Como se fosse
impossível pensar em outra coisa, voltei-me ao ocorrido nessa tarde.
Senti
latente as tantas vezes, em tantos livros ditos como consideramos os animais
como coisas, como objetos, seres sem capacidade de sentir e de sofrer. Entendi
que as pessoas assim os veem, uma vez que nem mesmo com aqueles aos quais
partilham suas vidas, seu cotidiano são capazes de afeto e de cuidado diante medo
e angústia do animal. Pensei na desumanidade que detemos e na insensibilidade
de vermos e continuarmos paramos, simplesmente olhando, sem incomodar à cena em
que o nosso companheiro agonia-se por medo.
Lembrei-me
de quantas vezes essa mesma cena repete-se entre nós, parados, olhando a dor
que atinge o animal, a mesma dor que toca o homem, a criança, o filho, o pai...
Por
fim, entendi que na condição de coisas que tornamos os animais, acabamos nós,
na condição de proprietário, (assim está nas próprias carteiras de vacinação)
consagrando a vida como valor de mercado. Somos nós mesmos coisas, incapazes de
deixar-se aperceber que afeto, pela amizade, pelo carinho e principalmente pelo
amor que os animais nos dedicam. Por fim, conclui da condição insensível que concedemos
aos animais e da insensibilidade que cabe apenas a nós, ser humanos tão
desumanos.
E
eu lembro Rousseau “(...) não seria obrigado a procurar
entre os animais o olhar de benevolência que me é negado entre os homens.”
Daísa
29/07/2012
00:35