Talvez fosse uma tarde qualquer como outra, no meio da semana, num dia em que nada se comemora. E ela estava sozinha em casa, imaginando algo diferente daquilo que vivia...
Na TV o cinema italiano, em suas mãos uma xícara de café com pouco açúcar, lá fora um barulho de máquinas e paredes sendo quebradas, uma reforma que começou no inicio da semana...
Ela estava em frente a TV, acreditando estar assistindo um filme italiano. Ela estava fingindo ver as calçadas de algum lugar da Itália, fingindo ouvir as canções de ritmo italiano, fingindo estar com fome diante dos pratos de massa italiana, fingindo acreditar no amor, diante dos amores italianos... Ela era capaz de imaginar a vida acontecendo, mas resumia-se a um filme tosco da TV, limitava-se ao espaço que ocupava no sofá...
Olhou para as paredes de sua casa e pensou em outro lugar com corredores largos, com salas extensas, com uma janela que desse para um jardim em que pudesse andar… Um lar em que pudesse ir de um cômodo para outro gastando mais tempo, em que olhasse para o relógio e os ponteiros tivessem andado...
Lembrou-se de estrelas brilhantes que colou com fita no teto do quarto. Seriam, ainda, capaz de se deixar enganar pela nitidez da forma de cada estrela de plástico do teto, que brilhavam depois que a luz fosse apagada?
Pensou no livro que desejava escrever, bebeu um gole de café…
Desenvolveu mentalmente as ideias que queria escrever em algum texto. Mas se manteve imóvel no sofá, sem se dar contar que as ideias iriam embora, que a ânsia e vontade de escrever iriam se desfazer e que ela continuaria sentado no sofá, vendo um filme italiano romântico que passava na TV e que talvez, ela só se levantaria para fazer uma outra xícara de café com pouco açúcar...
Notou que não poderia escrever crônicas limitando a vida à tela da TV, passou a escrever em terceira pessoa...
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