A vida acontecia do outro lado e ela
abanava da janela. Depois do vidro empoeirado existia uma fração de um mundo,
que girava, era o que ela possuía da vida ali.
Pensou que seu cabelo, não voltaria a
ter a forma de antes, nem os fios clareados pelo sol constante de antes...
Olhou pela janela, tentou enxergar a rua
e saber o que acontecia lá. Teve vontade de chorar, não conseguia ver nada.
Ouviu a sirene...
Continuava cega e parada ali sem saber se
naquela tarde choveria. Sim, escurecia e começaria a chover.
Ali havia uma única e pequena janela.
E era dali que ela via, apenas, um
fragmento da vida, dias que andavam aos passos lentos, demorados, iguais uns
aos outros. Mas que, quando, de repente, ela parava e olhava para trás, sendo
capaz de ver, notava que os anos haviam andado rápido demais e, talvez, não
demoraria para que alguns fios de cabelo branco aparecessem, precocemente, em
sua cabeça doentia. Ela não seria mais tão jovem, isso a deixava assustada,
apavorada. Queria viver tudo e um pouco mais.
Ouviu o barulho dos trovões, não
demoraria para chover...
Ela, que desejava a vida de forma
desmedida, intensa, bem vivida, perdia, dia após dia, mais movimentos, perdia
os passos e o estender dos braços.
Pensou que, talvez (outra vez) teria que
chegar ao fundo do poço para se reerguer... Mas o tempo, esse jamais
voltaria... Seria capaz do recomeço quiçá (um sinônimo)...
Talvez não agora, não hoje. Porque,
naquele momento, ela não passava de uma desconhecida, numa cidade ainda
estranha, vivendo entre os ruídos da construção.