Era um sábado qualquer, num restaurante qualquer, quando a mesa ao lado foi ocupada, o dia começava a escurecer...
Em minha mesa um suco e um lanche qualquer...
Na mesa ao lado uma taça de vinho tinto, uma
pequena garrafa de vinho branco, duas taças e um brinde a vossas saúdes: “a
nossa saúde, não é?!”, ele disse.
Era um jovem casal, de cabelos brancos e um
pouco corcundas. Em suas vozes calmas pelo tempo, falavam sobre uma viagem a
Paris, sobre o tempo, sobre dias muito frios, sobre o roteiro, sobre os filhos
e viagens de carro...
Era um
casal que aprendeu a degustar a vida pela segunda vez... Um casal que aprendeu
a ver a vida pela segunda vez, por outro ângulo, enquanto bebiam vinho, longe
dos filhos, longe de tudo, perto apenas deles mesmos... Bebiam e brindavam a
suas saúdes, como se talvez, fosse o que lhes, ainda, faltavam brindar...
Parei quase tudo e tentei apenas aproveitar
aquele momento, de forma discreta. Eu estava ali, como uma espectadora diante de uma cena, alguns
minutos que foram tão emocionantes como grandes peças de teatro, mas essa era
melhor, não houve ensaio, não haveria reprise...
E diante daquela fração do tempo eu desejei o momento
em que vislumbrarei a vida pela segunda vez, brindarei a saúde, beberei um gole
do vinho e lembrarei da minha vida que passa...
Tive vontade de viver, engolir a depressão e
viver... Envelhecer...
Relembrei as aulas de filosofia, quando lia
literatura (e fazia o que queria), e lembrei-me dos anseios, de paixões que me
moviam e de quem, algum dia, ousou dizer como me via: escrevendo...
Hoje eu voltei, depois de muito tempo, a
escrever... Escrevo sobre um casal que se senta de frente e brinda, ou brinca
talvez, a saúde, conversam da forma que o tempo os ensinou, conversam de forma
confidente e sem trejeitos... Conversam com os olhos, bebem vinho e beliscam
pedaços de pães enquanto esperam...
E eu espero voltar para casa e escrever e, talvez, voltar a brindar em cada refeição e não parar de escrever sobre fragmentos de cenas que não acontecem uma segunda vez...
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