Existe uma voz que grita em mim,
Uma voz tão forte que sufoca,
Rouba o ar
Depois de me tornar uma
vertigem...
De me fazer mudar de lugar,
De procurar uma (outra) mesa vaga
no restaurante...
Mas essa voz só irá se acalmar
quando
Quando eu correr pela porta de
vidro
E sentir o vento frio batendo em
mim...
Existe uma voz que grita em mim,
Que não escolhe datas,
Nem dia nem hora,
Mas que prefere sábados
tranquilos,
Aparentemente...
Essa voz
Que torna meu corpo
Um pedaço de pano incontrolável,
Tremulante como uma bandeira,
Que sente frio e calor ao mesmo
tempo,
Que depois desaba em choro,
E esquece que existe sono...
Essa voz que grita em mim,
Dizem que tem nome,
Dizem que tem receita médica,
Diagnóstico assinado,
Tratamento...
Mas eu não quero...
Talvez eu queira escutar essa
voz,
Talvez eu queira tocá-la e
aclamá-la
Com as minhas mãos...
Talvez eu queira sentir meu corpo
respirar
Enquanto tento domar uma fera
Que me faz doentia...
Essa fera que me segura,
Que me imobiliza enquanto tento
andar,
Ir em frente,
Trocar o rumo...
Talvez essa voz fique sempre aqui
Dentro de mim,
E talvez, um dia,
Próximo ou distante,
Possamos conversar melhor...
Talvez um dia a calma não seja
aparente,
E eu poderei fazer malas novamente
E ir sem medo...
Talvez um dia essa voz gritante
Torne-se silêncio,
Ou, quem sabe, talvez,
Ela deixe de gritar tão alto, tão
forte...