quinta-feira, 17 de julho de 2014

Os meus, os seus, os nossos animais!


Amelie diria que “são tempos difíceis para os sonhadores”.

Existem sonhadores, como eu, que deixaram de lado todas as vezes que nos foi dito que não seria possível mudar o mundo... Mas nós entramos na luta pelos animais por acreditar que outro mundo é possível...

É por sermos sonhadores, por termos saído da margem da ignorância e por não termos virando a cara para a realidade de sofrimento, que defendemos que a vida possui valor, que a vida dos animais possui valor assim como a vida humana...

Escrevo esse texto, porque não sendo eu uma grande pesquisadora do Direito Animal tampouco possuindo qualquer forma de influência, utilizo-me da escrita para chegar às pessoas e que elas possam refletir sobre a vida dos animais, sobre como estamos tornando-a torturante...

Acontece que na cidade de Canela, animais que andavam pelas ruas, que eram conhecidos entre as pessoas, que dormiam nas entradas de lojas do centro, que eram alimentados e que brincavam no gramado da Igreja, sumiram, da noite para o dia... O que foi feito com eles, eu não sei... O que será feito, eu também não sei... Para onde os levaram e seus verdadeiros motivos ninguém sabe... E o poder público diz que não possui quaisquer informações a respeito...

O que sei é que todos nós somos culpados, porque aceitamos as regras do mercado e seguimos a moda de comprar animais, financiamos uma indústria que amplia o lucro e dissipa a violência, os maus-tratos, o abandono, que faz nos enxergar preço em um pedaço de bicho, num animal bonito, num pedaço de couro que serve como roupa ou sapato... E que por outro lado, ensina-nos a fechar os olhos ao que nos cerca, não temos sensibilidade para compreender que os animais que estão ao nosso redor não são máquinas, não são coisas!

De fato, não acredito que a rua seja o melhor lugar para os animais, entretanto, também não creio que estar preso a uma coleira que mal o permite caminhar, ficar sob o sol e a chuva, passar frio e ampliar o stress e a angústia de um abrigo abarrotado de animais que foram abandonados o seja.

Aqueles que estão à frente da administração das cidades, não fazem mais do que recolher esses animais e levá-los para lugares desconhecidos, fazem sem o consentimento da comunidade e sem qualquer motivação ou explicação. Para outros, os animais não servem para nada e a melhor alternativa, para estes, é matá-los.

Não me admiro que fomos e somos capazes das maiores barbáries com os nossos semelhantes, aprendemos a desde cedo aniquilar a vida, matamos pessoas todos os dias sem saber o porquê, fazemos o mesmo com os animais.

Estufamos o peito para gritar a nossa visão tão libertadora de sermos despidos de preconceito, sem saber que minimizar a importância da vida animal também é uma forma de preconceito e ela se chama especismo.

Ingenuamente moldamos os animais como coisas, comida, brinquedo, roupa...

Nós compramos o que não possui preço, entre elas, a vida de um animal preso, escolhido atrás do vidro e pago no balcão. O resultado disso são animais nas ruas, vitimas do nosso desinteresse, que serão “juntados” e levados para um lugar que não conhecemos. Mas isso, não tem nada a ver conosco! Será mesmo?

Não estou aqui dizendo que animais e humanos seja a mesma coisa! Estou dizendo que é preciso sair da zona de conforto e refletir sobre uma realidade que pertence a todos, que é culpa de todos e que é preciso abolir.

Podemos não acreditar em direito aos animais, mas não podemos deixar de vê-los como seres de uma vida e vida nenhuma possui preço...

E os animais, martirizados todos os dias para saciar nossas terrenas vontades, eis uma verdade: o que acontece com todos eles, sejam os abandonados nas ruas, os trancados numa gaiola num pet ou num abatedouro, é minha, é sua e é nossa responsabilidade, assim como de qualquer ser que tenha roubada sua dignidade.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

À terça...


Ali sentada,
Eu olhava através da janela,
E da janela eu via as árvores sem folhas,
E a luz dos faróis dos carros que iam e vinham.

E ali sentada
Eu ouvia o burburinho,
A conversa alta daqueles que brindavam ao amor
E tomavam aos goles,
Água, café e espumante,
E brindavam novamente o amor...

E ali, sentada,
Olhando para fora,
Os carros e as árvores,
E ouvindo as canções e a poesia
Que vinha de dentro
Eu lembrei-me da máquina, azul, de escrever.

E eu pensei, que sentada ali,
No barulho, na canção, na poesia,
No bater de taças,
Eu seria capaz de escrever tudo o que guardo em mim...

E ali sentada,
Eu fiz poesia...

Eu vi em molde real,
O círculo de leitura,
Nas imagens em que criava,
E que agora, eu via.

Não era a livraria dos boêmios
Escondia em Paris,
Mas era o refúgio
Para quem entrava trazendo versos
Que diriam tudo...

Eu estava sentada ali,
Enquanto pessoas chegavam
Abriam seus livros e liam,
E ouviam a canção,
E voltavam a abrir seus cadernos de recordações,
De capa dura verde escura.

Sentada ali,
Gravei aquele caderno verde,
De páginas amareladas
Em que ao abri-lo pulavam versos adolescentes,
Entre desenhos feitos a mão.

Sentada ali,
Eu tornei-me capaz de escrever todos os versos do mundo,
Eu sabia que estava ali...

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Enquanto espero a vida acontecer...


Tenho esperado a vida acontecer...
Tenho esperado, sentada no sofá, a vida acontecer...
Ouço a voz que ecoa por todos os lados:
“É preciso se ajudar!”
“Eu sozinho não consigo ajudar!”
E por alguns milésimos de segundos eu gostaria de morrer...
Não por querer,
Mas porque tenho esperado a vida acontecer...

Hoje a poesia não tem rima pensada,
Hoje o borbulhar de emoções é mais forte do que pude prever...
...Tenho esperado a vida acontecer...
Tenho visto os livros na estante, parados.
Eu já esgotei as possibilidades em tudo que se pode crer...

Eu vejo a vida passar,
Enquanto o bidê sustenta o remédio que me faz acordar
E o remédio que me faz adormecer...
Troquei poesia por bulas,
Estou à procura da fórmula para esquecer,
Queria saber a mágica
E fazer(-me) desaparecer...

Já desconheço o rosto estampado no espelho,
No peito agora, vive um desespero...
E quem senta de frente á mim,
Segurando uma caneta e anotando o que digo,
Não pode responder o que pergunto sem dizer...
O que aconteceu?
Quando fui roubada de mim, por mim?
Em que estrada o caminho acabou?
Quantas vezes o fim é sem fim?

Já desconheço o conhecido,
Eu volto a viver os poucos sonhos
Que a falta de sono me permite ter,
Já, tampouco, lembro-me como era escrever,
Eu não possuo mais canções durante as manhãs...
Eu não lembro como era ser...

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Hoje...


Depois de hoje eu quero que o sol permaneça,
Que a árvore doce, na janela aberta, esteja,
Que a estante mofada pereça,
Que a tristeza da alma se esqueça...

A partir de hoje quero que a poesia nasça,
Que a poesia cresça,
Que a poesia em mim esteja,
Que nunca mais, a poesia adormeça...

Depois de hoje,
Depois de amanhã,
Quero escrever, perdendo a rima,
Me prender ao vento e seguir de pé...

Depois de hoje,
Não quero me prender a planos que nunca chegam,
Quero sonhar longe,
Pegar forte meus balões que carregam casas,
Eu vou voar e só...
Eu quero mais poesia sem dó...

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A poesia de volta...


Nas estantes
As ideias já foram esgotadas...
Livros foram esquecidos em baixo do mofo,
É o resultado do inverno chuvoso...

Lá fora eu não lembro o que acontecia.
Já não lembro como são feitos os dias...
Nas esquinas não vejo pintada a poesia,
A rua foi destruída...

Aqui dentro não há canção,
O silêncio se quebra com o latido do cão...
A poesia não está na mão,
Deu lugar as queimaduras e uma fatia de pão...

A poesia já não existe mais em minhas mãos (???).
Retorno, remexo, rasgo tantos versos feitos,
Perco a conta de quantas xícaras de café eu preparo do balcão.
Eu perco a conta de quantos versos foram desfeitos...

Eu deito, não durmo...
Cubro-me do frio, me iludo...
Respiro buscando vida,
Acordo em dúvida...

Não quero perguntas,
Não tenho respostas...
Quero a poesia bater na porta,
Quero sentir na pele o vento que sopra...
Preciso (logo) sentir a vida de volta...