terça-feira, 23 de abril de 2013

Agora, repara...



Basta apenas um instante para que a alma seja tomada pelo vazio, reflexo da mente doentia, das profecias feitas na sala de aula, depois de todos já terem partido... Um instante que dissipa o otimismo, a crença em dias melhores...

Não passa de uma alma incompreendida, tentando remodelar um mundo feito de estruturas de aço infindável, que jorra concreto por cima da flor, dita regras para o desamor, eleva o desertor e o consumismo não é visto como ditador...

As canções já não são mais hinos, os livros foram trocados, abandonados, jogados no lixo... E aqueles que não tiveram a alma blindada pela produção em escala, acreditam que não possuem o direito à felicidade, seguem nadando contra o amargo rumo que a multidão toma...

Vomitam suas verdades, expõem-se, ficam a beira do abismo, a menos de um milímetro do precipício, não se transvestem, nem fingem, ariscam, pois querem apenas a vida como ela é, não almejam falsas verdades... E porque, ao fim, sabem que o mundo encantado que almejam, é a simplicidade, distante dos ditames da modernidade...

É lá que fazem o esconderijo secreto, abandonam os abalos do mundo e criam um universo calmo, de canto de pássaros e livros lidos, onde a criança para e colhe, no asfalto, a flor que assopra e voa, e quando voa dissipa o vazio... Afasta as dores do mundo e trás de volta a cresça, a felicidade...

Agora, repara, o melhor caminho é aquele que se faz com Amor...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Nota sobre os últimos dias...



Nos momentos de choro é quando também se conhece. Pode ser que os últimos dias não tenham saído como se esperava, mas o dia-a-dia revela o que a própria vida, ao seu percurso, ensina...  Que a beleza da rosa exige a existência dos espinhos... E que mesmo assim, a beleza da rosa continua valendo a pena, vale tentar arrancar cada acúleo...

E que mesmo depois de ver o sábado ensolarado, sábado de riso largo, aquele riso fácil que faz doer o rosto, mesmo assim, corre-se o risco do domingo ser de choro incontido... Há tanto tempo contido, guardado, acumulado... Cansaço que eu não desejava entregar, aos pedaços, a ninguém...

É preciso parar, às vezes pensar, outras vezes simplesmente, deixar ao ar... Porque eu sei que não sou quem vai abrir a janela e ver o mundo acontecer do lado de fora, porque eu estou abrindo a porta e pegando o caminho, lentamente e, na maioria das vezes, ainda, indo pelo acostamento... É preciso bater de frente e encarar a entrada no ônibus, sentar e ter calma para ver dissipada a vontade da lágrima de rolar, para compreender que no momento exato tudo volta ao seu lugar e ter sabedoria, por afinal não pode se perder aquilo que não se tem... O tempo deixa, e o que nos pertence, vem...

E eu sigo no ritmo do vento, às vezes como brisa, outras, ventania, porque já sei gladiar o medo e mesmo tendo que me render ao choro em algum domingo qualquer, eu estou alimentando meus sonhos, regando minha rosa, cuidando do que me é precioso...

Sim, eu vou com o vento, deixando a mão estendida àquele que quero que ande ao lado, mas estou andando com cuidado para não pisar nas formigas...

Agora, estou descendo do ônibus... Deixei lá dentro o amargo da despedida, o abandono... Pego a rua a passos firmes, de pensamento firme, sem esperar que a vida diga, afinal, sei para onde vou, para quem vou... Porque sei que logo, ali em frente, eu sou...

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Dedico...


Se antes tudo permanecia em silêncio,
Dançando sozinho, no escuro,
Fechando os olhos,
Esquecendo o mundo...

Se antes, a angústia fazia barulho,
O dia era cinza escuro,
A poesia refletia a incompreensão do todo,
Descaminho confuso...

Antes, eram dias pensados,
Casos pensados,
Fluxo sintetizado,
Sobrava nada para o amanhã...
Foi ontem...

Hoje é pôr do sol vermelho,
Acordar e ser o primeiro pensamento,
Aproximar o travesseiro,
Sonhar a dois,
Fazer o mundo com a paleta de cores
Que juntos se aponta...

Foi longe,
Não houve medo de chamar,
De pegar o ônibus e encontrar...
Tão cedo, fui capaz...

Tão logo,
O coração quis palpitar,
A fala tentou segurar,
Mas o fim da tarde veio
Para apoiar no ombro e falar,
Dizer que é isso... Amar...
Porque quer cuidar,
Fazer feliz,
 Ver chegar,
Não deixar partir...

Sem mais,
Volto a acreditar...
A vida fez o trilho,
Segui...
Porque você é o meu lugar...
É onde quero estar...

É você,
Porque a flor do mundo
Nasce no momento certo de nascer,
Não morre,
Não se perde...

E a vida é assim,
Uma caixinha de surpresas,
Que quando abre é pra mostrar,
 O que é sinônimo de amar:
Arrumar a flor da lapela,
Olhar na noite agitada,
Deitar do lado,
Esperar acordado,
Preparar o café,
Ser um romântico cômico
Testando receita,
Indo buscar.

E assim,
Dedicar as mais simples palavras,
Os mais sinceros versos,
Ter saudade,
Cantar-lhe e dedicar à manhã de sol...

A vida é mesmo assim,
Fênix que queima e faz cinza
O que nunca existiu...
Mas que devolve, na mão,
No instante exato,
A essência, a verdade,
Aquilo que sempre fez parte de si,
Que volta para si...

domingo, 7 de abril de 2013

Para dar a mão e não soltar....



À noite chuvosa trouxe de volta,
O que nunca deixou de estar presente...
Riso no lábio,
Dissipação do que era saudade,
Palavras,
Mãos dadas,
Cuidado...

Perder o tempo
Depois de se perder na cidade
Que desenhamos o futuro.
Sem medo do escuro,
Ouvi o gato que miava astuto,
Marquei todos os detalhes,
A suavidade dos dedos,
A luz cega do poste...

Os dias ficaram contentes,
O drama se vez comédia,
O riso seguiu pela tarde,
Entre cócegas suaves
E abraços apertados...

Entre o lugar feito de livros
E o café com sorvete,
Envelope simples envolvendo frases feitas ouro...
Em letra de forma
O pedido que não precisa resposta.
Mãos dadas é o segredo do cofre...

A promessa livre,
A liberdade de comprometer-se,
Em dar a mão e não soltar,
Ir juntos,
Não deixar a flor plantada no peito murchar...

A vida prega peças
E eu achei a peça do quebra-cabeça,
O raio de sol de luz intensa,
O filme que sempre faz rir,
O conforto do chão,
O passeio feito com emoção,
A simplicidade que faz bem...

O inesperado fez-se feliz,
Sem pranto,
Sem muro ou desencanto...
Com encanto, canto e lhe conto,
Que a música não desentoa,
E quando chegar ao final recomeça,
E sonha e ama...
E lhe canta no colo,
No lado,
Na esquina enquanto espera para atravessar...

Se tiver que esperar a semana,
Se haverá dias de comprar farinha
E de fazer piada do garçom,
De beber suco estranho,
Voltar e refazer o caminho,
Dar a volta,
Que seja sem largar a mão,
Que seja de pés que vão juntos,
Lado a lado,
Na companhia,
Porque para essa poesia,
Eu recuso usar ponto final...