quinta-feira, 21 de março de 2013

Meus dias com a Lana...




O dia hoje começou da mesma forma que vem começando por aqui, tão cotidiano e banal... Tomei demorada e pensativamente minha xícara de café preto e amargo, olhei pela janela, sem chuva nem frio, não pensei duas vezes, peguei a coleira, desci as escadas e chamei, não tardou para que a Lana abandonasse a cara de sono e começasse a abanar o rabinho... Sim, vamos caminhar... Após o ataque eufórico ela sentou, esperou que eu a preparasse e pronto, ela foi para o portão...

Acho interessante que enquanto eu não pego em sua guia, ela dá um passo, mas olha para trás, como se dissesse: só vou se você também for...

Fizemos nossa caminhada tranquilamente, escutamos juntas, algumas falas humanas carregadas de estupidez e insensatez e enquanto eu remoía as tais falas, Lana apenas caminhava, como se aquele simples passeio fosse tão feliz e importante, que nada poderia mudar sua alegria...

Acho mágico perceber nos animais aquilo que, por vezes, tentamos a vida inteira aprender e quase sempre não conseguimos: que para sermos felizes precisamos de pouco, do que é simples, mas essencial...

E nesses dias confusos, de desordem e dilacerados, Lana parece ser a única a trazer-me a calma, a paz de espírito da qual preciso... Ela não exige sucesso, altos salários, nem precisa sentir orgulho por uma declaração de imposto de renda tão grandiosa ou uma profissão de prestígio, Lana está satisfeita por me ver chegar ao portão, mesmo em dia de chuva (e ela morre de medo de água), está bom para ela poder entrar em casa e subir no sofá, mesmo escondida...

Lanoca, sem proferir uma palavra sabe falar muito melhor com seus gestos conscientes... Sentando de frente à mim, colocando suas patas dianteiras nas minhas pernas e escorando a cabeça na minha barriga, pedindo carinho, instantes tão únicos que jamais sairão da minha memória, são os momentos em que acredito que o mundo é um bom lugar para se estar... E que, poder estar perto daquela pivete de quatro patas que costumava roubar meu dinheiro e meu chinelo deixa a vida com um gosto todo especial... e é mais fácil ser feliz e aprender a ser feliz na simplicidade com aquilo que é, realmente, fundamental... E a Lana, certamente, é uma das minhas chaves que abre a portão do paraíso...

Por fim, recordo de Saramago, que também tinha em sua companhia cachorros, em algum texto em que declarou: “Privadas dos animais domésticos as pessoas dedicaram-se ativamente ao cultivo de flores / Destas não há que esperar mal se não for dada excessiva importância ao recente caso de uma rosa carnívora”... Alguma coisa está definitivamente errada no ser humano. Morrerei sem saber o quê. (Cadernos de Lanzarote, 2)

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