Essa noite perdi o sono, fiquei divagando
sobre os métodos de suicídio mais eficazes, tentando imaginar o que leva as
pessoas a por em prática o ato, que por muitos é considerado de pura covardia e
para alguns, outros, de sinal de coragem, desprendimento, liberdade...
A verdade é que nunca tive, eu, uma opinião
sobre isso... Mas comecei a vê-lo não mais com os olhos da covardia, mas a
partir da percepção da própria vida, dos descaminhos, das ruas sem saídas que
vão se apresentando, do corredor frio e que a cada passo vai ficando mais
escuro...
Percebi que, de repente, a vida vai perdendo
o sentido. As cores, antes vibrantes, agora vão perdendo sua tonalidade e o pó
as sobrepõe... E aí, antes de dormir você aprender a rezar pedindo para não acordar
mais... E você acaba ficando de óculos escuros dentro do supermercado para que
ninguém ache estranho alguém que chora entre as embalagens...
Estou perguntando se existe mais alguém que
se sinta fora do próprio corpo, fora de si mesmo, em outro mundo, no poço...
E você percebe que o tempo andou e a cada
tempo, já passado, suas asas foram cortadas sem dó, sem pena de fazer de um ser
um andante a mais no mundo... Ter em si outra essência abre um leque de tristeza
a ser enfrentado e exige coragem... E depois de ter as asas cortadas, há quem
pense que o melhor é seguir sem asas, assumindo seu papel na multidão e não há
como julgar a escolha feita, tentar derrubar a multidão exige coragem demais...
Mas ainda, há os que mesmo tendo as asas
cortadas insistem em deixá-las crescer novamente, mas nem sempre conhecem a
dor, a angústia, o amargo e a solidão que vão viver todos os dias, na insônia,
na frustração em meio a pessoas... Arriscam em tornar-se uma árvore, criando
novamente os galhos depois da poda, esperando a primavera chegar para deixar as
folhas criarem-se...
E é por isso que deixo de crer na abstenção
da própria vida como algo pervertido, banal, covarde ou fraco... Pode ser que o
ato mais covarde seja aceitar viver sem as próprias asas, enganando-se a cada
momento, a cada inspiração e respiração que você passa a prestar atenção, se é
capaz de pará-la...
Dizem que é preciso coragem para viver, mas é
preciso de muito mais coragem para aceitar o abate do seu voo e continuar
andando, já de mãos vazias, já sem voz, ou sem força, já perdido no nada e sem
acreditar porque sobreviveu, porque ficou, quando o único capaz de segurar no
seu braço e fazer o tempo parar e fazer acreditar que viver de sonhos era
possível, já se foi...
Pensar em suicídio passar a ser o Sim, quando
todos, quando o mundo insiste em dizer Não... Não aos sonhos, Não aos desejos,
Não a essência de uma vida própria que exige protagonista, Não as utopias, Não
a qualquer possibilidade de realização, de concretização, de contentamento, de
satisfação...
Sejam bem-vindos “Nãos”, façam sua parte e
depois me deixem na rua sem saída, não será em vão...
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