sexta-feira, 1 de março de 2013

Constatações sobre morrer...



Essa noite perdi o sono, fiquei divagando sobre os métodos de suicídio mais eficazes, tentando imaginar o que leva as pessoas a por em prática o ato, que por muitos é considerado de pura covardia e para alguns, outros, de sinal de coragem, desprendimento, liberdade...

A verdade é que nunca tive, eu, uma opinião sobre isso... Mas comecei a vê-lo não mais com os olhos da covardia, mas a partir da percepção da própria vida, dos descaminhos, das ruas sem saídas que vão se apresentando, do corredor frio e que a cada passo vai ficando mais escuro...

Percebi que, de repente, a vida vai perdendo o sentido. As cores, antes vibrantes, agora vão perdendo sua tonalidade e o pó as sobrepõe... E aí, antes de dormir você aprender a rezar pedindo para não acordar mais... E você acaba ficando de óculos escuros dentro do supermercado para que ninguém ache estranho alguém que chora entre as embalagens...

Estou perguntando se existe mais alguém que se sinta fora do próprio corpo, fora de si mesmo, em outro mundo, no poço...

E você percebe que o tempo andou e a cada tempo, já passado, suas asas foram cortadas sem dó, sem pena de fazer de um ser um andante a mais no mundo... Ter em si outra essência abre um leque de tristeza a ser enfrentado e exige coragem... E depois de ter as asas cortadas, há quem pense que o melhor é seguir sem asas, assumindo seu papel na multidão e não há como julgar a escolha feita, tentar derrubar a multidão exige coragem demais...

Mas ainda, há os que mesmo tendo as asas cortadas insistem em deixá-las crescer novamente, mas nem sempre conhecem a dor, a angústia, o amargo e a solidão que vão viver todos os dias, na insônia, na frustração em meio a pessoas... Arriscam em tornar-se uma árvore, criando novamente os galhos depois da poda, esperando a primavera chegar para deixar as folhas criarem-se...

E é por isso que deixo de crer na abstenção da própria vida como algo pervertido, banal, covarde ou fraco... Pode ser que o ato mais covarde seja aceitar viver sem as próprias asas, enganando-se a cada momento, a cada inspiração e respiração que você passa a prestar atenção, se é capaz de pará-la...

Dizem que é preciso coragem para viver, mas é preciso de muito mais coragem para aceitar o abate do seu voo e continuar andando, já de mãos vazias, já sem voz, ou sem força, já perdido no nada e sem acreditar porque sobreviveu, porque ficou, quando o único capaz de segurar no seu braço e fazer o tempo parar e fazer acreditar que viver de sonhos era possível, já se foi...

Pensar em suicídio passar a ser o Sim, quando todos, quando o mundo insiste em dizer Não... Não aos sonhos, Não aos desejos, Não a essência de uma vida própria que exige protagonista, Não as utopias, Não a qualquer possibilidade de realização, de concretização, de contentamento, de satisfação...

Sejam bem-vindos “Nãos”, façam sua parte e depois me deixem na rua sem saída, não será em vão...

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