Eu não acredito,
Embora queira...
Eu quero e então se constrói
o impossível...
Meu coração é o pão dos
podres,
Migalhas...
Foi vítima da bomba de Hiroshima,
Estraçalhado...
É estilhaço como o vidro quebrado
do carro...
Meu coração
São os restos do animal no
abatedouro,
Já mal cheiroso,
Já morto...
Eu não creio, nem há
esperança aqui.
Diante do abismo abandonei
a fé,
Deixei na caixa do correi
o melhor que pude ter,
Deixei nas paredes as
cores que nunca pintei...
Nas conversas devolvi os
amores platônicos,
Os amores que sonhei,
Os que eu confiei
Os que eu inventei
E pelos parágrafos de
ilusões eu já rezei,
E por mãos no parque,
sentada, eu esperei.
Os olhos cegam diante das
dores do mundo,
E voltam para onde se cria
paralelo, vida...
Para os sonhadores, os
tempos são difíceis,
Para os poetas, não sei...
Nos livros enceno tudo que
a realidade renega,
Faço vozes,
Entrego verdades,
Dispo e visto,
E não vivo...
Atuar é viver o outro,
O que é viver o que se é?
Não há o que falar nem
desculpar,
O silêncio faz-se alto,
O sol faz-se calor,
Eu faço a poesia triste
que ninguém espera decorar,
É a única que sou capaz de
talhar...
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