Considerado um pequeno clássico,
o livro Presente do Mar foi escrito pela estadunidense Anne Morrow Lindbergh,
publicado pela primeira vez em 1955.
Nesse livro biográfico e escrito
em tons reflexivos, a Escritora ao se afastar do universo de sua casa, dos
filhos, do marido e das obrigações que a cercam na cidade de Connecticut, parte
para uma ilha, sozinha, onde fica durante um tempo de férias. É lá, na
simplicidade de viver com poucas coisas que ela se volta para o seu interior
para pensar sobre o seu mundo e como vive neste mundo.
Assim, temas como o papel da
mulher, a solidão, a necessidade de voltar-se para si, as obrigações, a auto-realização,
o casamento e o amor são conceitos que tomam outras dimensões através da
escrita de Anne.
Mas, na dimensão da vida que, por
hora, ela vive naquela ilha distante, o tempo é seu aliado para observar cada
coisa ao seu redor. É ali que ela observa as conchas, cada uma em sua
singularidade, assim como cada fase da vida. Por esse motivo, cada capítulo do
livro recebe o nome de uma concha e em cada capitulo há uma profunda reflexão, uma
comparação com cada tipo de concha, umas mais raras, outras mais comuns, mas
cada uma bela a sua maneira. De alguma forma, em algum momento, o que se
percebe é que o que a escritora refletia em suas férias, em meados de 1955, é
ainda o que muito se procura entender nos dias atuais. Existe nela muitas das
perguntas e dúvidas que existem em nós, hoje.
Importante notar que a obra é
profunda no papel que a mulher foi assumida ao longo do tempo, e que, da mesma
forma, como ao longo do tempo foi perdendo espaço para olhar para si, e exercer
papeis criativos diante de tanto afazeres exigidos a ela.
Vinte anos depois de Anne
escrever o presente do mar, ela abre uma vez mais a obra e escreve, mais um capítulo.
Vinte anos depois ela lança seus reflexos sobre Presente do Mar, e refaz suas
reflexões sobre anos turbulentos, sobre o que acreditou ser a libertação da
mulheres, sobre o contexto político e sobre as mudanças no contexto familiar,
como a morte do marido.
Enfim, em pouco mais de 120
páginas, Presente do Mar é, de fato, um presente, capaz de nos fazer refletir
sobre a vida, sobre o papel que assumimos e sobre nossa, ainda, incapacidade,
de reservar um tempo para olhar-nos para nós mesmos, de compreender que muitas
vezes a solidão é bem-vinda, de que existe necessidade de olhar para dentro
antes que abarrotarmos de coisas desnecessários o que existe fora de nós.