terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Não me deixe esquecer...


Quem resolveu mudar tudo sem avisar? Quem decidiu trocar os lugares? Colocar em outro lugar, quando queríamos tudo aqui?

Se eu pudesse mudar algo, decidir algo, colocar as coisas nos lugares que quero, eu pularia essa época, eu viveria tudo de novo e continuaria vivendo com a intensidade de tudo aquilo que só se vive uma vez...

Se eu fosse capaz, eu veria o sol se pôr de novo, de lá e sem choro...

Porque o que eu queria era não me perguntar dia após dia, como teria sido... Como a vida seria se tudo tivesse sido diferente, como não foi... Qual será a fisionomia, por quais ruas, em qual cidade, estaria andando...

Não foi... Já perdi a conta do choro reprimido, do aperto no peito, das noites de insônia, de todo sentimento (incompreendido) que guardo escondido em mim...

Tudo seria diferente se não fosse uma manhã de sol quente...


Posso dizer que aprendi a viver com as marcas feitas em mim, mas, por favor, não me deixe esquecer o som da voz, a mão, o riso, a forma de olhar o mundo, a calma de falar... Não me deixe esquecer... 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Uma taça, um brinde, o casal!


Era um sábado qualquer, num restaurante qualquer, quando a mesa ao lado foi ocupada, o dia começava a escurecer...

Em minha mesa um suco e um lanche qualquer...

Na mesa ao lado uma taça de vinho tinto, uma pequena garrafa de vinho branco, duas taças e um brinde a vossas saúdes: “a nossa saúde, não é?!”, ele disse.

Era um jovem casal, de cabelos brancos e um pouco corcundas. Em suas vozes calmas pelo tempo, falavam sobre uma viagem a Paris, sobre o tempo, sobre dias muito frios, sobre o roteiro, sobre os filhos e viagens de carro...

Era um casal que aprendeu a degustar a vida pela segunda vez... Um casal que aprendeu a ver a vida pela segunda vez, por outro ângulo, enquanto bebiam vinho, longe dos filhos, longe de tudo, perto apenas deles mesmos... Bebiam e brindavam a suas saúdes, como se talvez, fosse o que lhes, ainda, faltavam brindar...

Parei quase tudo e tentei apenas aproveitar aquele momento, de forma discreta. Eu estava ali, como uma espectadora diante de uma cena, alguns minutos que foram tão emocionantes como grandes peças de teatro, mas essa era melhor, não houve ensaio, não haveria reprise...

E diante daquela fração do tempo eu desejei o momento em que vislumbrarei a vida pela segunda vez, brindarei a saúde, beberei um gole do vinho e lembrarei da minha vida que passa...

Tive vontade de viver, engolir a depressão e viver... Envelhecer...

Relembrei as aulas de filosofia, quando lia literatura (e fazia o que queria), e lembrei-me dos anseios, de paixões que me moviam e de quem, algum dia, ousou dizer como me via: escrevendo...

Hoje eu voltei, depois de muito tempo, a escrever... Escrevo sobre um casal que se senta de frente e brinda, ou brinca talvez, a saúde, conversam da forma que o tempo os ensinou, conversam de forma confidente e sem trejeitos... Conversam com os olhos, bebem vinho e beliscam pedaços de pães enquanto esperam...

E eu espero voltar para casa e escrever e, talvez, voltar a brindar em cada refeição e não parar de escrever sobre fragmentos de cenas que não acontecem uma segunda vez...