quarta-feira, 22 de outubro de 2014

...Sobre fins de ano...


Quando o fim do ano vai chegando, quando os dias começam a ficar mais coloridos e longos com o horário de verão, quando todos começam a sair e caminhar até mais tarde, quando há flores e calor é que eu me sinto mais melancólica...

É que depois daquele fim de ano, todos os seguintes mudaram e “fins do ano” trocaram de jeito... Agora são nostálgicos, silenciosos, cheios de saudade, memória e sentimento...

E eu me sinto cada vez mais errada, sempre no caminho errado...

E quando chego próximo ao dia em que repasso o mesmo filme – o mesmo fim -, há alguns anos na minha memória eu procuro, sem fim, por explicações, por um sinal, por um detalhe que, talvez, não tenha visto antes, eu não encontro...

“temos nosso próprio tempo”... Um tempo de dormir e acordar com tudo diferente...

Tenho o meu próprio tempo e migalhas de mim mesma, tenho o medo que me impede de olhar o asfalto como um caminho inofensivo...

Tenho o tempo e a dúvida da compreensão... Tenho o tempo e os olhos em mim daqueles que são incapazes de entender...

Que tempo que é esse que se desfaz num sopro e nada mais?

Viver é um sopro, nada além de um sopro que se desfaz numa fração de tempo e muda tudo de lugar, muda nosso semblante e nossa história...

...Eu não espero mais com ânsia e planos pela aproximação de fins de ano... Eu tento lembrar-me de todos os tons da sua voz e de todas as suas falas... Eu quero lembrar...

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ela se jogou...


Era início de semana. Entre zunidos e marteladas havia silêncio no prédio... O dia nascia cinza, as árvores estavam úmidas e a neblina descia...
A semana começava, quando ela abriu a janela... Ela não sabe o por quê...
Eu pensei que hoje conseguiria estudar, mas um vizinho bateu na porta.
Havia alguém caído ali, diante dos olhos... E havia bombeiros que arrebentaram o portão... E havia sirene de ambulância...
“Alguém se jogou pela janela!”, disparou e começou a chorar.
Caída na grama fofa, inconsciente no seu drama, ela se jogou...  Se foi... Para o hospital com alguma coisa quebrada...
Mas antes, escreveu para a filha. Disse adeus e se jogou... Uma criança de cabelos escuros que chegou acompanhada...  Chorou...
Era o início da semana, depois de uma noite sem dormir, depois do choro desfeito noite adentro, depois da tristeza que se achega sem pedir... Ela se jogou da janela, eu a vi estatelada no chão com os pés sujos de terra... E vi uma criança que chorava por quem havia deixado à janela escancarada...
Meu estômago embrulhou...
No prédio onde moro, hoje, alguém da janela, se jogou...

domingo, 12 de outubro de 2014

Você continua...

No filme ela ficava viúva...
Na vida real a gente se ilude
E finge que a vida continua...

No domingo à noite,
Enquanto todos vão para a cama mais cedo,
 A angústia grita
E a solidão se amplia,
Não importa com quem você divide a cama...

No silêncio da noite,
Você ameaça chorar,
Até mesmo o choro, engasga,
Não sai...

Você desistiu,
As viagens são canceladas,
As estradas são bloqueadas,
Os livros estão fechados,
E os filmes ficam pela metade...

Todos estão felizes
E você sorri...

Mas tudo ficou perdido,
Entre tantos caminhos,
Tantas escolhas pela metade...

E você está sozinha,
Tentando, realmente, chorar,
Buscando alento...
Mas não importa quem esteja no outro cômodo
Você está sozinha...

E não importam quantas vezes você desejou mudar o mundo
E quantas palavras duras te fizeram em pedaços,
Não interessa quantas vezes você foi destruída
E se refez de migalhas que sobram de si...

Você continua sozinha,
Levando nos bolsos o que restou de sonhos em pedaços...
Você continua sem rumo,
Sem caminho...

Você continua,
Sozinha
E sem o caminho,
Você continua...