Uma vez minha irmã recordou uma frase que eu
costumava dizer quando eu era criança: “bicho também é gente e gente também é
bicho.”
Foi na minha infância que minha família me
ensinou a respeitar os animais. Meu pai nunca cansou de dizer que se fosse para
ter um bichinho preso ele preferia não ter, foi ele que disse que o lugar dos
pássaros é no ar, solto, livre. Assim, como ele ensinou o Dog e a Lana a não caçar
os diferentes pássaros que apareciam pelo gramado de casa.
Minha mãe, às vezes, fazia-me pular da cama mais
cedo para ver o beija-flor que aparecia nas flores, o pica-pau, o bando de
caturritas. Depois que tive de ir morar fora, ela me ligava para contar que haviam
aparecido dois tucanos maravilhosos pelo pátio.
Houve uma vez, quando eu era pequena, que um passarinho
entrou na sala e, na tentativa de sair, bateu no vidro, minha mãe, prestativa,
pegou água e tentou animá-lo e, depois, devolveu-o ao vento.
Lembro-me do meu pai contanto, do dia em que,
sem querer, meu irmão atingiu um passarinho e começou a chorar desesperadamente,
mais uma vez meus pais estavam lá, para tentar animar o pequeno ser.
Pois bem, pode ser que eu tenha demorado um
pouco para entender que o amor, não faz distinções, é incondicional.
Tornei-me vegetariana por eles e vi meu pai
tornar-se junto comigo, pois entendia o que aquilo significava. Ele lia os
livros que eu lia e compreendia que nós, seres humanos, não somos nada além do
que os animais são.
Hoje, sem rumo na minha vida profissional eu
sei o que desejo do fundo do meu coração. Sem pretensões econômicas, sem saber
se vou morrer de fome, sem chuva de confetes ou status em alguma profissão, sem
carreira bem sucedida, eu só sei que continuo acreditando que “bicho também é
gente e gente também é bicho.”
Pois conservo em mim a criança que fui e
trago em mim as lições que vivi, os ensinamentos daqueles que me moldaram.
Eu quero salvar bicho, eu sou uma criança que
ainda acredita que o mundo pode mudar e pode ser um lugar melhor para os animais.
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