A mim coube trazer estocado no peito o interrogatório
do pensamento... Pensar no que tenho para viver amanhã, o almoço da semana, o
que irá se consumir do meu sono na noite, o choro que vai vir quanto todos já
foram e quando o passado tenta explicar o presente e estar ausente é ser
presente...
Os dias de chuva não me aborrecem nem entristecem,
mas tecer a tarde numa dúvida de sempre: qual é a essência da vida? Eis o que
me faz descer goela à baixo a angústia... Interrogação absoluta... Dívida
jamais quitada...
Tenho em mim a ânsia de viver, fazer o mundo
correr, ver chover, mover os pratos, derrubar o muro, puxar pela mão, trazer
você... Saber que existe drama aqui, mas que mesmo assim eu sei sorrir, é o que
prefiro...
Desculpa se o fiz sem ter por que, a mim
coube fazer o que deveria fazer: abrir seus olhos e mostrar o caminho que há de
caminhar. Porque esperar se há o agora para criar? E depois, ainda se pode
continuar...
Que o concreto armado sirva de suporto para o
castelo dos sonhos coloridos, suporte contra as bandidas dores do mundo nos
corações escuros...
Porque a brutalidade não impede a força do
que se faz delicado. A delicadeza não pressupõe o fracasso, perfaz a alma,
torna terno o toque que protege... E a flor pequena e frágil continua a crescer
no asfalto...
Pois é preciso trazer a delicadeza nos olhos
para podermos reparar naquilo que dita o que é belo na sua essência... A
simplicidade não se faz em preço.
Eu quero poder ver, enxergar e reparar,
plantar e aprender a colher, e eu quero poder dizer que nesse grande pregar de
peça que a vida impõe: vale a pena abandonar as roupas velhas e as frases
ensaiadas e a rebeldia mentida, sempre, pela multidão, proferida, e mostrar as vontades
que ficavam escondidas e dizer com liberdade que já não prefiro o drama e ser
livre e ter coragem para saber que os clichês também dão dignidade, e que não
há problema de querer seguir o fluxo da vida, e ensinar os pequenos seres, nem
a sonhar algum sonho que a humanidade diz que não se deve sonhar... Não há
problema em querer ver o mundo ao lado de alguém, e poder querer, e querer ser
com alguém...
E eu quero saber onde estará à foto, se
haverá alguma para mostrar e qual será o cenário: dia, mês, sorriso não
ensaiado... Não é preciso esconder, não existe nada errado em admitir o que trago
no peito... Eu sou infinita...
Porque no fim, o que vai restar será apenas:
Moral da história...
E será bom que alguém a queira ler...
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